sábado, 27 de dezembro de 2014

A filha do desembargador...




3 da madrugada. Após três dias fustigantes encontrava-se a três passos das fronteiras de si mesmo.

Ribera de la Cruz era um cercado regido pelo silêncio. Ali não se falava abertamente. Somente qdo estavam entre seus botões aproveitavam e falavam aos borbotões, a ponto de criarem curiosos bordões.

Na província não era segredo pra ninguém. O q havia era respeito imposto, passado de pai pra filho, e um temor em macular a figura do velho desembargador

No terceiro dia descansava do almoço qdo avistou pela primeira vez a viu passar esvoaçante, causando alvoroço na praça.

Religiosamente, às quinze horas de todas as tardes, a filha do desembargador atravessava o pátio defronte a catedral; indo em direção ao café q havia no único cinema do lugar.

Vestido solto de corte cavado; cabelo amarrado e pescoço perfumado. Um tanto dislética, mto poética, cumprimentava a todos com um sorriso maroto entre os lábios. Para evitar desagravos dos olhares beatos em seu decote, trazia colado ao peito um livro com crônicas de Clarisse e outro sobre a vida de Beauvoir.

Quem a vira crescer revestida de boa dialética tapava os olhos ao ouvir histórias dela. Logo ela, a dileta personificação da candura, capaz de enxergar ternura em trama de 'puruca', revelara-se fonte abundante de malícias, protagonista de estimulantes aventuras.

Balzaquiana de estirpe burguesa. Embora impingisse valores rígidos em seu comportamento, em alguns momento deixava escapar, principalmente ao luar, suas tendências e preferências 'bachianas'. Não importava onde fosse: na vila, na cama forrada de grana ou na língua dançarina dos lobos.

Para catedráticos era um pecado. Para adolescentes apaixonados, uma punheta enfeitiçada.

Para o desavisado e recém-nomeado-namorado significava experimentar as turbulências de nuvens escuras de chuva pesada.

Aos amores, novos e antigos, recitava o mesmo verso. Aquele em q aprendera semear, ao folhear os livros na estante de seu pai.

Após flanar pelos intelectos, recolhidas as asas da Pannair, cruzava as pernas na poltrona do bem frequentado café.

A maneira como misturava lirismo e cinismo causava fortes estragos. Não raro transformava olhar impetuoso em desnorteado. Esse, coitado, passava o resto do dia a tatear o vácuo; no vazio perturbador dos desejos deixados a ermo, sem perspectivas de definição.

Feita as leituras distribuía pequenas amostras da pujante tríplice fronteira. Conduzindo pensamentos pelas beiras revelava a relva coberta por uma fina renda bordada à mão, em azul perdição.

Calculado os pontos do risco, definida a perfeita medida mais atrevida, dirigia o olhar para o bilheteiro. Este, tomado pela deferência, respeitosamente lhe abria as cortinas.

Com movimentos de cisne ela agradecia e adentrava, pisando em plumas, no escuro do cinema.

A partir daí era dela a mais bela e louca sessão da tarde...

Encerrada a sessão; liberados os espíritos; retocava o batom com o corpo coberto de sêmen e interjeições. 

Antes q a tela anunciasse o fim e as luzes fossem acesas, saia apressada sem olhar dos lados; condenando à loucura perpétua quem tivesse depositado os desejos no seu colo movediço de Medeia.

Sobre a cabeça nenhum avião. No rosto o gozo besuntado. No corpo o querer desregrado. No sangue o inquieto frescor. Na alma o gosto amargo do solo mátrio talhado em séculos de rejeição.

Três semanas depois, já às margens do rio Uruguai, sentindo o cheiro de suas águas não conteve a vontade de tê-la outra vez nas mãos.

Esperando a balsa atracar no porto, Almodóvar assistia a tudo. Bêbado como uma cachorra, balançou a cabeça e disse: - vuelve y habla con ella...










Puruca é uma espécie de peneira com q se separa o grão do café.

Clarisse Lispector. Escritora e jornalista 'brasileira' nascida na Ucrânia.

Simone de Beauvoir. Escritora, filósofa existencialista e feminista francesa.

Medeia, na mitologia grega, era filha do rei Eetes e, por algum tempo, esposa de Jasão. É uma das personagens mais terríveis e fascinantes da mitologia, por envolver sentimentos contraditórios e profundamente cruéis.

Rio Uruguai. Rio q serve de fronteira entre o Brasil e a Argentina. Nasce Rio Pelotas, na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e se torna Rio Uruguai depois de receber as águas do Rio Canoas. Em sua foz é Rio da Prata, no Uruguai.

Pedro Almodóvar é um ator e cineasta espanhol.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Cachoeiras no tabuleiro...




Se o pecado morava no quarto ao lado, a ternura era vista no andar térreo.

Era como se pudesse existir uma enorme distância entre o céu e o inferno.

Era como experimentar o corpo no jardim do inesperado éden, no mesmo instante o calor de um oásis impregnado de desertos.

Afeito a contemplações o dia passava entre refeições. Subindo e descendo degraus o tempo passava num recital de orações. Nem ele sabia de nada.

Sabia q qdo se aproximava do corpo de lírio, o respirar aflito de fantasiar delitos sucumbia à realidade do toque de suas mãos.

Em caso de contratempo ensaiavam correr pelos ventos. Desconhecendo mapas adentravam as matas no mato dentro.

Atentos às ruas iam e vinham em avenidas escuras. Entretidos nas curvas misturavam-se no tabuleiro. Longe de olhares traiçoeiros.

Se algum farol denunciasse sinais de neblinas refaziam o percurso e afinavam o discurso.

Sem outro recurso tocavam-se em silencio, olhando o asfalto molhado de negro. No porta luvas desejos cravejados de segredos, mantidos em cada despedida, até o último beijo.

Quase sempre os domingos adormeciam deixando restos de pecado para a segunda. Cada qual com seu andar conduziam seu andor no quadrado de seus quartos.

No quarto ao lado via-se a ternura descer ao térreo para regar o jardim...










Situada no Parque Estadual da Serra do Intendente, a Cachoeira do Tabuleiro é considerada a cachoeira mais bonita do Brasil. Principal atração da pacata Conceição do Mato Dentro, cidade mineira distante 3h da capital Beagá.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Morena flor do cajueiro...



Saudade é vontade frondosa; fonte gostosa q se joga fronteiriça e goza na cara da gente.

Surge incontinente, assim de um repente, tocando o peito, deixando o coração zabumba.

Com os desejos desnorteados os olhos grudam no rebolado da bunda.

Saudade é lembrança com cheiro. Cabelos negros trançados no mar.

Emoção sacudida na foz do rio. Vazante de vaza barris. Mãos seguras no quadril só encontra refúgio no cangote suado.

Saudade. Desejo traiçoeiro desgraçado. Tentação q vem a galope anunciando florações em janeiros intensos, inteiros, ensolarados.

Remelexos castanhos floreados. Céu de fêmea risonha q sonha acordada. Colhida na boca, anéis estufados no pé da cajueiro.

Tem coisas q nem mesmo o tempo consegue dar jeito...


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O mezanino...




Andar pouco elevado, como manda o recato. Olhar substantivo, um tanto subjetivo.

Se viver fosse preciso, entre dois andares haveria o imprevisível pronto a lhe estender a mão.

No alto, espalhado entre janelas, retratos imprecisos da vida. Sem dar na vista folheava revistas deixadas no porão. Um tanto julieta ruía no balcão.

Vestida de uma melancolia engomada pelas mãos de fada da invisível mucama - sempre a lhe fazer companhia nas sessões de terapia - demonstrava plácida leveza ao se expressar.

Apoiado na prima consanguínea da etiqueta, irmã gêmea da filosofia, o olhar, a revelia da poesia, não imprimia a cadência nem a sinfonia adequada capaz de relaxar.

Por isso nunca se revelara. Nem antes nem no depois, qdo fez pose para a fotografia. Nem mesmo qdo sozinha degustava o ar como gostaria.

Sonhava com cheiros no lago. Folhagens meladas de barro grudadas no corpo. Alma e pernas estendidas redescobria-se presa às correntes mantidas em segredo.

Longe do olhar rendia-se de tal maneira aos desejos, q, mesmo o mais colorido dos filtros não saberia realçar.

Aos poucos o olhar maroto deixava de pedir socorro. Como sempre, como em tantas vezes loucas, resolvia-se ao voar.

No dia seguinte, um punhado de lembranças misturado às remelas encobria outra vez o olhar.

Sobre a mesa o vinho derramado.

No colchão o pensamento avoado, ainda a passear pelo mezanino...


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Avenida Alberto Bins, número doce...



Feito o esboço desenhou palavras afiadas pelo pescoço.
Nele decifrou missivas. As lidas e as ainda não lidas.

Pela primeira vez não sintonizou a gaúcha.
Invés disso fez garranchos no muro sem ouvir lamentações.

De pálpebras fechadas quis perdurar o instante.
Disposta a decompor-se apalpou o q tinha às mãos.

Ao sentir o nervoso deu as costas à estátua de marfim.
Debruçada desmanchou-se como um doce pudim.

Assim ficou. E assim se foi a aninhar
o anelar e seus vizinhos nas pétalas da orquídea...







Alberto Bins foi o primeiro porto-alegrense a assumir a prefeitura da capital gaúcha. Hoje é nome importante avenida comercial no centro histórico de porto alegre.

sábado, 1 de novembro de 2014

Dardo em tablado absinto...



Não alimento sentimentos.
Eles, sim, me alimentam.

Deixo ao vento o ofício
de me lançar, como ao dardo,
como dado em tablado absinto,
perfume q sinto.

Libertino me carrega
pelo recreio de requebros
donos do recinto...

Centímetro por centímetro
louvados ao som de sinos...


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Conto quase infantil...




Depois de passas horas e horas às voltas com o pensamento na baia, cheio de besouros na cabeça, o cavalo crioulo viu o focinho do porco refletido na bacia em q a égua costumava se banhar.

Por mais cruel q fosse, o mastigar da alfafa trouxe à baila o sorriso oco do amor cego ilhado no próprio escuro.

O pirilampo, q a tdo assistia com ilibada fidalguia cobriu a bioluminescência e retirou a poeira das patas na porteira q demarcava os direitos da casa grande e os limites impostos à senzala.

Quando tdo fez-se breu, vaticinou: nada há de surreal neste mundo. Por mais imundo q possa parecer.

O carrapato, parente próximo do chato, oriundo e criado no mesmo escroto, tratou de alerta o piolho. Este por sua vez fez figa, mas continuou de olho no molho da filha da ursa.

Não menos astuta, a pulga, na defesa das benesses da mordomia, passou a lavar a égua e fazer fofoca da porca à sua mui amiga foca.

Desde então, ao curtir a baia dos porcos, a marmota abaixa a guarda para todos os santos. Pacientemente aguarda subir a crista, para ter seu perfil refletido nas águas do Guaíba sutilmente represadas na bacia areada com areias vindas de Copacabana.

Moral quase impessoal da história:
Quem tem garupa boa costuma selar boas amizades.

No usufruto dos frutos do horto coube ao bobo roer o osso e zelar pelo brilho do fosso; manter sempre à vista a vista grossa; e a expressão facial condizente com a leitura torta...








O cavalo crioulo se originou do Andaluz. Geralmente criado livre, qdo chega à idade adulta costuma ser domado.

Montagem sobre trabalho “horse in fog”, by zethara

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Fantasias de classe...




Sob o palanque misturou com elegância as carnes na fantasia das classes.

Sob a égide igualitária grudou a pele, cara a cara. Na aclamação perdeu a classe. A ausência dos burocráticos entraves estimulou a claque a glorificar com vigor e verve sedosa.

No mesmo instante, sobre o palanque, papagaios agitavam enfurecidas bandeiras sem perceber olheiras nas pupilas do digníssimo senhor reitor.

Passado o prazo regimental, no apagar da derradeira luz, cada um retornou ao convívio de seu oposto.

Por fim, sem mto esforço, beijou a aliança. Antes de deitar deixou engomada a camisa social e, de mto bom grado, lustrou sapatos marrons ao ronco do bem amado.

Deitou relaxada sem se preocupar se seria audaciosa. No gongar da madrugada gozava nas lembranças da noite passada misturada às massas.

Como era doce o vigor ao sabor da vingança...



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Talo de flor...



A propósito,
posso não ser
teu grande amor,
mas é grande
meu amor por vc

No estalo lá estou
a corteja-la no talo,
como sempre foi,
tantas vezes for
como flor, outra vez

Assim ser vida,
seja como Cecília,
seja como Frida;
enlaçado como for,
lá sou beija-flor...

sábado, 20 de setembro de 2014

Nos caracóis de teus pentelhos...




Um bucólico cheiro de cio inundara o quarto, àquela hora entregue à penumbra.

De nada adiantou buscar sentido no inexplicável. Algumas realidades são imponderáveis. Esta era a única percepção plausível q tinha do inacreditável fato de ter chegado até ali.

Caracahuega era um povoado erguido no meio do nada, na transversal do tempo, em uma rota vicinal da rodovia q levava ao atracadouro construído na principal afluente do rio juramento.

Os pouco locais sobreviviam da agricultura familiar. Plantavam sem a certeza de colher. Viviam pelo viver. Simples assim sei q é difícil de crer.

Mas era um povoado feliz. Tranquilo até demais. Apesar dos ruídos q acordava a todos, todas as noites, vindos do pé da serra de Mbaracayú.

Alguns diziam ser Kurupi. Outros insistiam ser Jasy Jatere, acompanhado de seu irmão Ao Ao. Para mim era a mula perdendo a cabeça, mas, ninguém me entendeu...

Longe do disse-me-disse, fosse com lamparina apagada ou acesa, a noite adentrava no cio da madrugada e suas infernais veredas.

Dizia ser culpa dos sonhos q não lhe dava descanso.

Fato. Seu corpo esparramava curiosa brasilidade na cama. No atravessar das coxas aquecia travessa o travesseiro recheado de penas de ganso.

De dama à potranca bastava um pulo.

De pulo em pulo saltava as virtuais e eventuais cercas, e encarava a realidade, bela e lírica, cantando “gracias a la vida”, soltando da braguilha a pica de seu amor.

Coberta a imagem da santa, ajoelhava com a boca untada e lambia um terço. Conforme o tempo passava retirava os adereços. Como em um passe de mágica esquecia q tinha endereço.

Largados os encantos de fada renascia vistosa encarnação da malícia.

Sem temer o pecado da gula cozinhava docinhos de pecado no corpo suado, na sede do pobre diabo saciado com feitiçarias caseiras.

O q antes remexia por dentro perpetuava-se noite adentro corpo a fora, em ecos, uivos e dilúvios.

Depois adormecia, em silêncio, em paz...

No dia seguinte, nas rodas q se formavam à espera do almoço, alguns caracahueganos continuavam a apostar no Kurupi. Outros, mais exaltados, não se sabe pela fome ou pelo cansaço, insistiam no Jasy Jatere. Vai saber...

O q ninguém viu foi a mula perdendo a cabeça...

Aliás, antes q eu esqueça: Casi siempre, entre el lunes y el martes, tenía la costumbre de acumulavar. Entonces, en estos dias, ni era necesario hacer las apuestas.

Todos sabían: era un dios nos ayude…










Segundo a lenda paraguaia, Kerana, a bela filha de Marangatú fora tomada por um espírito do mal chamado Tau. Juntos, Tau e kerana, tiveram sete filhos: Teyú Yaguá, Mbói Tu'i, Moñái, Jasy Jatere, Kurupi, Ao Ao e Luisón. Todos, exceto Jasy Jatere, nasceram com a forma de monstros.

Kurupi é o deus da sexualidade. Costuma sequestrar as mulheres com seu pênis enorme e largo, sempre preso à sua cintura.

Jasy Jatere é um homem baixo de cabelos louros. Costuma surgir durante o sono portando uma varinha mágica. É conhecido por fazer desaparecer quem o vê. Está sempre na companhia de seu irmão Ao Ao.

Ao ao é considerado o deus da fecundidade. Dizem q teve muitos descendentes, e q andam em grupo comendo as pessoas. Segundo os mais antigos, para se salvar de um Ao Ao, deve-se subir até o alto de uma palmeira.

"Gracias a la vida" é uma canção composta pela cantora chilena Violeta Parra.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Entre vidraças... Entre cobertas...




Tinha as vidraças entreabertas
quando sentiu o sopro de dedos nas dunas.
Ao contornar o colorido impulso da orquídea
todo o entorno suspirou vida.

No perfume de sua floresta à descoberta
fortes indícios de festa.
Sem mta conversa não esperou a noite ser
descoberta entre cobertas.

Em outras palavras,
abriu as asas soltou-se às feras
até a manhã ser, de verdade,
redescoberta de janela aberta...

sábado, 13 de setembro de 2014

Náus intecionadas... Redes sem fim...



Naus intencionadas singram o mar com afiadas navalhas.
Sem sentir náuseas resvalam no declive da calha, quando não
encalham na sujeira deixada sob o risco de telhados de vidro.

Debaixo de chuva ama-se o q dá na telha.
Debaixo da terra valem os ossos do ofício de sermos todos iguais.

Em curto prazo avistam-se interrogações na testa. No porão
a balada é outra. Uma coisa é certa. Tão certa qto certidão de flecha:
a imagem consagrada nunca acaba qdo a imaginação termina.

Para naus intencionadas não há nada q o valha, mormente
o q graça fora das quatro linhas invertidas de suas retinas...





Montagem sobre a obra “Redes sem fim”, da artista gaúcha Esther Bianco. A interferência no título tem o claro intuito de indicar o fio da linha...


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O amaciante da capadócia...




Naquele dia o beija-flor acordou se sentido duende.

Inquieto e irreverente, como sempre, voou sobre a espada de são Jorge e sugou do néctar entranhado na cuca de Benjor.

Tereza, a baronesa, por ironia tbém estava ‘naqueles dias’. Ressonada mexia os olhos enquanto virava o ovo na chapa, na vera, na marra.

Nem era preciso consultar a Embrapa para entender o q germinava sob a pele em brasa.

Nem pertencer à realeza para compreender a catástrofe q seria alterar a ordem sagrada dos garfos. Ainda mais estando enrolados sob a égide do consagrado manto.

Contudo, para seu espanto, o ousado pascácio mantinha os sentidos emancipados. Segundo o enunciado, ao ponto de aguçar a carne no perfume amaciante de sua calcinha feita de algodão.

No silêncio em q estava ela ficou. E assim continuou até se deixar revirar no colchão...

A princípio sentiu os primeiros acordes sem emitir sinais de alarde. Porém, qdo lhe apalpou as partes, destarte as q jorravam o doce, se assanhou de um jeito dengoso, logo transformado em gritos somados, diluídos, desavergonhados.

Apesar dos arroubos iniciais descritos, os seios rígidos davam conta da liga...

Desta vez, no entanto, não fez figa. Ligada na cinta, alma safada a gargalhar no coringa, do jeito q estava descarrilou, tanto q vibrou.

Vibra q vibra q vibra, nos encantos da libra ascendeu aos céus de la dolce vita...

Desencarnado o ato suicida da auto compadecida, ofereceu-se ofegante à fibra. Tomada de marguerittas fritou tomates úmidos nos verdes ventres líberos. Nos solavancos abriu os flancos nos campos do seu profanador.

Depois de tantos requebros, sentindo a falta de ar, despencou no amor q pensara ser frágil vidro. Ainda sem entender como tdo aquilo se dera, sentada no meio-fio sorriu qdo viu, enfim, q não se quebrou.

Se o beija-flor continuou batucando Jorge, ninguém quem sabe, pois ninguém viu...

O q se fala é q do alto acompanha o andamento do sufrágio, resguardado pelo silêncio geral, acobertado pela batina do vigário...











Capadócia é uma região histórica e turística da República da Turquia, país euro-asiático, q vai do extremo ocidental da Ásia até sudeste da Europa.

Ben Jor, Jorge é um cantor e compositor brasileiro. Dotado de um estiloso suingue incorporou ao samba elementos do rock, soul e funk; além de sonoridades árabes e africanas, oriundas de sua mãe, nascida na Etiópia.

Tereza é a musa da canção "Cadê Teresa", composição de Jorge Ben jor.

La dolce vita é um filme de Federico Fellini, considerado um dos filmes mais importantes do século XX

sábado, 6 de setembro de 2014

Enlouquecido diário...



Revolvo a terra sentindo teu cheiro no corpo ainda semente. À espera de encontrá-la capino o futuro com palavras.

Conheço bem as palavras. Tantas ouvi. Tantas iguais a outras. Nenhuma com o sotaque dela.

Algumas guardadas na roupa de forma discreta. Outras, escrotas, presas ao q se prestam, servidas nas luas marotas de noites diletas.

A quem realmente interessa dizer q o mundo não presta?

Aquém a tudo sinto q ainda me iludo. Por instinto escavo mais e mais profundo. Sem deixar pegadas retiro as pedras, abrindo brechas onde as minhocas se enterram enfurnadas, ensimesmadas em si mesmas.

Enquanto penso minhas mãos dão raízes às asas. Com elas borboleteio pelos cantos do jardim em q apareces. Com teu cheiro entranhado nas mãos rego a lei da mutação.

Percebo q um dia sim nem sempre é oposto do não. No sangue sinto a transfusão.

À espera do pólen observo o trânsito inicial dos besouros. Um casal beija a flor no botão dos desejos. Com os sentidos loucos metidos no barro molhado te esbarro. No q exalto o samba do teu rock sinto choques e jogo tudo no ar...

Sigo o bom conselho. Paro tudo e dou um mergulho no mar...







Entremeada em determinadas palavras lembranças sinfônicas da canção “Alguém me disse”, de Evaldo Gouveia, músico compositor e cantor cearense, e Jair Amorim, locutor, compositor e cantor capixaba.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Efeito borboleta...



Vestia lúdico qdo entrou em cena.
Ao pisar no tablado tirou o salto,
no ato sentiu o peso do escuro.

Assustada deitou no palco.
Acariciou a alma, despiu-se
com calma quase obscena.

Ao fim do primeiro ato
coberta de poesia desejou o segundo.
No ato. Na saliva. Na carne viva...



Efeito borboleta foi o termo utilizado por Edward Lorenz, matemático e filósofo norte-americano, ao se referir à dependência sensível às condições iniciais da teoria do caos. Segundo a qual o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas, sendo capaz de provocar um tufão do outro lado do mundo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Quando o terceiro sol pintar...



Exposto às incertezas do tempo e ao enlouquecido tempo do verbo observo o movimento silencioso da inquieta Gioconda. A velocidade incontestável do escárnio paradoxalmente a mantém atenta a luminosidade adequada do abajur.

Ninguém se dá conta do perigo embutido nos aplicativos, nem percebe o veneno contido no sorriso da anaconda.

Na revolta dos peixes as redes perderão a serventia...

O mesmo diria do cristão q sustenta pote pela rodilha. Pouco importa se a poesia balança torta em ondas de mar dengoso, ou se a cadela cisca pelos quintais sem largar o osso.

Na hora dos ventos de nada adiantarão as presilhas...

Garfo torto em prato vazio e fumaça de índio nunca deveriam ser taxados irrelevantes.

Perdoem a franqueza. Mas o q se pode esperar de uma população q dá as costas para o belo horizonte do monte, de uma sociedade q mantém seu sustentáculo moral no cu?

Por enquanto danço maracatu...

É sempre bom recordar q água salgada não mata sede. Quando ela requebra na areia é bonito, como bem desenhou Caymmi. Mas, quando sacode nos arrecifes derruba dedo em riste. Capire!?

Quando desce goela adentro é igual a cachaça: ou se esvai ou racha.

Bem q a caninana me disse: para bom ‘estendedor’ de roupa uma metáfora basta...





Dorival Caymmi foi um compositor e cantador baiano.

Título bronzeado na música "o segundo sol", de Nando Reis, cantor e compositor paulista.

Montagem sobre obra do pintor italiano Lucio Fontana.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Páprica clandestina... Só love in Dubai...



Tempos escrotos. De bolsos recheados
e mãos metidas em bolsões alheios,
esgotos lustrados, devidamente castrados.
Universo adestrado. Verso incapaz de ilustrar
o complexo reflexo do tiroteio...

na baixada, na embaixada,
na bola q rola de sapato alto na grama.
Na cama de gato ela quica.
Na baixa da égua se abaixa e goza
embolada na baixa do sapateiro.

Abaixa q começou outro tiroteio...

É duro o pensar. Contumaz constatar:
quem vota as leis vive longe de casa.
Passam os anos, atrelados e atolados,
a disputar senãos, defendendo cifrões
com panos quentes nos bagos.

Levianos, compensamos o q pesamos
dançando no passo da pátria, sem espelhos.
Com pesar enxaguamos esperanças
estendendo lembranças em varais
feitos de arame. Enferrujados. Distorcidos...

Convencidos q passado não move moinhos,
criamos asas enjaulando passarinhos.
Com descomunal sede animal
mantemos a pose humanizando cachorrinhos.
Coitadinho dos bichinhos...

postados em burburinhos. No escurinho
sonhamos baixo para não acordar
o louco na boca da louca,
correndo soltos pelos cantos resistentes
d'algum verso insolente e seresteiro.

Atento ao relho, e aos bueiros,
o fiel companheiro finge não ver
sua musa a pintar os pentelhos.
Feito isso, à surdina, a guria toca
‘só love’ na cuíca, em Dubai...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Fantasmas sem ópera...



A noite é longa e cheia de labirintos.
Propícia a quem arrisca ter a alma saciada
e a carne contaminada de vida.
A noite é negra coberta no avesso do berço.

Antirreflexo do terço rogado em nós
dependurados no pescoço enforcado.
Lago oposto oculto no verso enigmático
rasgado pela falta de endereço.

O grande mistério da noite
é seu dom em desvendar segredos.
No infringir das regras se entrega
desgovernada no beijo sem culpa.

A noite é de quem lhe enxerga as penumbras.
De quem digere os medos e as dúvidas
na carne viva de seus fantasmas.
A noite tem suas emboscadas...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Poesia suicida...




Todo dia ela me faz, e faz por merecer.
Todo dia faz valer o pensamento suicida,
vida e seu imperfeito direito de ser.

Todo dia escrevo ao léu, como se o céu
fosse minha gigantesca folha de papel.
Em dias de sol me levo no azul de suas luas.
No dia q neblina fecho os olhos
e escrevo torto em linhas cinza.

Desaforada me atira interrogações.
Desavergonhada me provoca
sem preocupar com pontuações.

Quando a razão cega me vejo
solto no emaranhado de suas palavras,
preso às linhas de sua rima em movimento.
Honestamente não sei se ela é a poesia,
ou se é nela q a poesia se faz.

Sei q todo dia espero
pelo momento em q ela faz
o q não sou capaz de descrever...


domingo, 13 de julho de 2014

Nas ondas do rádio...




Estava escrito em cartas repartidas com esmero de 'dealer".

Na correria dos dias escreviam sem reler a intimidade do quarto, tamanha era a pressa em viver.

De semântica em semântica mentiam e metiam sem cerimônias. Igual iguaria de algum deus dos sonhos. Estranhos, de todos os tamanhos, largados n’algum barranco de estação.

Quando enfim foram dois, somados os acasos, descobriram o colorido do universo imerso no três. Mesmo q o caldo houvesse sido entornado no quarto, ainda assim havia sido um bom começo...

Na quinta embalaram a sexta sem dar na vista. Com todo o respeito viraram o mundo no avesso. No sábado, dando aleluias, recriaram seus infernos.

Enfim, a paz... 

Era cristalino. Era azul ensolarado de um amanhecer de domingo.

Gilberto olhou pra Donato com sorriso manso e olhar gaiato. Qdo os dedos insinuavam os primeiros acordes nas ondas do rádio, viu a paz interrompida no grito:

- Que nada meu rapaz! Engata logo à segunda! Com fica a minha bunda?

- Chega de valsa! Aqueça o trompete na salsa. Venha por baixo dançando rumba.

Quando rodopiou na polca ela virou pipoca. Ele entrou em convulsão.

Arregalando os olhos do tocador de gaita segurou firme no vanerão, no terço e na reza. Sabia q na terça repetiriam o samba do avião.

Na quarta lembrou a quinta. Na sexta olhou debaixo da cama.

Sem fôlego para completar a rima pegou o sapato e jogou no rádio, justo na hora em q Gonzaguinha dava sinais de q começaria tdo outra vez...









Dealer ou Dealer poker é o nome do profissional que distribui as cartas no cassino.

Gilberto é Gilberto Gil. Cantor e compositor baiano, parceiro de João Donato, pianista, arranjador, cantor e compositor brasileiro, na canção “A paz”.

Samba do Avião. Composição de Tom Jobim, compositor, cantor e maestro brasileiro.

Gonzaguinha. Cantor e compositor brasileiro, autor da música “Começaria tudo outra vez”.


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Artigo coletivo... Elevador bilíngue...



Longe do bando ouvia a banda mais bonita da cidade. Sabia q toda a verdade não cabia em uma única oração. Nem a felicidade na despensa.

As coisas não são tão simples como se pensa...

Dentro da banda não se ouvia o chilrear da andorinha, nem o arrastar de asas para a rosa encarnada em outras prosas.

Desencanada desencarnava a aparência ilibada de seu papel cor de rosa. Desenhava com vista grossa. Depois desdenhava limpando o batom na folha oposta.

Longe do bando, no entanto, eram bilíngues...

Desgarrados no baile ouviam melodias nas virilhas. Liberados do vernáculo, esquecidos dos obstáculos,  ardiam pela pista, nas trilhas sonoras de um íntimo blues.

Desejos a escolher. Suor a escorrer no suingue até o dia seguinte...

No dia seguinte não se obrigavam citar a constituinte. Nos subsequentes seguiam o bando hipnotizado pelo sitar de Ravi Shankar.

Contabilizados os ativos, separados em artigos, absolviam de modo progressivo os predicados do gênero em inúmeros degraus.

No elevador mantinham o amor, com requintes...






A Banda Mais Bonita da Cidade é uma banda de Curitiba conhecida pelo vídeoclipe da música Oração, lançado no YouTube, em 2011.

Ravi Shankar. Compositor e músico indiano.

Sitar é um instrumento musical de origem indiana, da família do alaúde

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Por completo...



Quando me tocas perco a fala.
Em tuas carnes visito outras encarnações.
Falo a lhe decompor. Tu a compor árias
sete vezes em sete vidas, na lira revira
o corpo poema soletrado em canções.
Universo a descoberto sobre as cobertas,
apenas coberta pela natureza dos gestos,
teu sorrir a me despir liberta meu olhar
no teu olhar repleto de más intenções...

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O cesto de vime...



Olho o mapa. Primeiro vejo o espelho preso ao tronco do coqueiro. Depois estradas desenhadas na imensidão do nada, a vida desgarrada dos galhos saltar de galho em galho, aprisionada ao coração forasteiro.

Despisto espantalhos entoando milongas...

Descubro-me entre tantras, em alegrias, sabe-se lá em quantas. Na flor da pele morena encontro oferendas e antigas rendas. Cantigas de assanhar histórias, até então desconhecidas do meu cancioneiro.

Tento ser ligeiro. Passo a mão e sinto o orvalho.
Caralho! Tem forma romã...

Tem o corpo ímã. Sonhos guardados em um cesto de vime. Sublimes e despudorados. Pólen debulhado do botão ainda semente.

Olho outra vez no espelho...

Amantes irreverentes celebram na irmandade dos passos o encaixe de seus quebra-cabeças.

A sorte estava laçada...



segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sininhos...




Cinco e quinze da matina. No céu ainda nublavam resquícios da noite. Teimosa ela pensava na matilha dispersa no largo de seus sonhos.

No primeiro instante de distração dos deuses saltou sobre o muro e caminhou pelas ruas com seu jeito androide e o salvador olhar Dali.

Determinada derrubou estátuas com a fúria de outros tempos. Arremessou mágoas de encontro às vidraças. Ainda teve garra de arriscar sua cara. Com unhas e dentes pichou paredes na sala dos grandes atos.

No q ouviu desagravos e desacatos subiu no telhado e recitou Bocage...

Um asteroide de corpo em brasa quebra os vidros da janela e me arrasta cosmonauta em seu rastro de dálias.

Na gravidade de seu colorido vestido alcanço o vácuo e apalpo o rabo oferecido. A evolução segue seu batuque.

A revolução é feita em silencio, com toques sutis de harpa...

Quando o eclipse nos revela no emaranhado de valsas, ela ergue os braços com meu corpo grudado em seus passos.

Ela dança no ventre. Toco marimbas em sua vagina...

Os sinos tocam o vazio da poesia. Um repique quase surdo marca a batida no tambor.

A cuíca chora de felicidade. A menina dos olhos dá cambalhotas pelas retinas.

Viver era um livro inacabado deixado no capacho da porta entreaberta...


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terça-feira, 10 de junho de 2014

Sobrevoos...




Saio da sessão de Lamarca cabisbaixo...

Misturo revoltas, dou voltas e um nó no tempo. No centro a cidade mora na incerteza. Ruas infestadas de escuridão e olhares amargos. Sem mãe ou proteção de algum tipo de santo a escória incorpora o espírito do esgoto.

Sobram evidências. Falta consciência...

No batuque de pneus passando sobre saliências expostas no asfalto, cuspo na arrogância e nos avanços 'cybercontemporâneos' de nossa humanidade.

Vou pelas ruas à procura de ternura...

O pensamento insiste em repetir teu nome. Lembro as marcas do tempo no corpo delgado. Cada ruga, cada traço é um poema tatuado com a mesma escrita descrita em tuas asas.

Então mergulho no poema ainda por nascer...

De costas para a costa do mar o vento me faz passageiro de redemoinhos em tua órbita. Pontos delineados no sorriso ainda tímido traz esperança ao olhar cansado de tanto renascer.

Pouco importa se sonhas com querubins...

Na ponta do punhal sente círculos dando voltas por dentro do umbigo. Querendo provar os riscos me arrisco pelos quatro cantos de teus pontos cardeais.

A rigidez das vontades desprende tiras e mentiras...

Liberta te atiras de encontro à parede com a sede incrustrada na pele. Ainda zonza percebe no tempo um amante apaixonado.

Desta vez, ao adormecer, não quis sonhar com querubins...









Lamarca. Filme brasileiro dirigido por Sérgio Resende, baseado no livro "Lamarca, o capitão da guerrilha", de Emiliano José e Miranda Oldak.

Detalhe da obra “Sistine Madonna”, do pintor italiano Raphael.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

En las hurtadillas...



¡Viene!

Maneja mi boca com su boca
Desnudos en las sombras de las calles,
Alas abiertas, sueltos en el aire.

¡Viene!

Pecaminosa y loca, pero sin estridencias.
Bordeando las márgenes, enaguas mojadas
en las aguas del nuestro Paraguay.

¡Viene!

Rayando las fronteras.
Apegada en las cuerdas que atan
la noche en el silencio de tus alas.

¡Viene!

No te demore más. Entra en la escena
y cerra mi boca obscena
con el olor de tu cuerpo poema.






Rio Paraguai. Rio da América do Sul q define a fronteira Brasil-Paraguai

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Teoria sobre o hilário... Reload



No presente do verbo confiscou o verso feito sob o efeito alucinógeno do segundo beijo.

No terceiro dia rolou os dados no passado semiaberto. Antes q fosse tarde aprisionou o futuro nos limites do mapa astral.

Triste amor mantido na condicional...

O respeitável público é big. Só não sabe ser brother. Nem  localizar a isonomia da filosofia, mesmo com o google mapas. Será por vício da linguagem ou ainda a cegueira irrompida na primeira aurora?

Depois do big bang tudo virou teoria...

Tomara q um dia se prove o avesso. Mesmo sendo nos cafunés dos cafundós. Longe do terço diário e dos relicários se encontre, enfim, o amor na versão de seu contrário.

Quem tem medo do hilário? O chapeuzinho vermelho, o lobo mau ou o tutor do erário?

Cara careta com cara de santa é o caralho...

O ponto não está exatamente na curvatura do gê. Os paralelos do universo é mto mais complexo. Maior q o seu tradicional abecedário.

O ponto fraco é não se dar conta do q floresce à sombra do pé de carvalho...


terça-feira, 3 de junho de 2014

Teoria sobre o hilário...



No presente do verbo confiscou o verso dado.
Rolou os dados com o passado semiaberto
aprisionando o futuro nos limites do mapa astral.

Triste amor mantido na condicional...

Senhoras e senhores...
O respeitável público, além de big,
acaba morando na isonomia da filosofia.

Depois do big bang tudo é teoria...

Quem sabe um dia se aprove o avesso.
Nos cafunés dos cafundós, longe do terço diário,
encontre-se, enfim, o amor em seu contrário.

Quem tem medo do hilário?
Chapeuzinho vermelho, o lobo mau ou o tutor do erário?

Cara careta, cara de santa é o caralho.
O ponto fraco não está na curvatura do gê,
posto a complexidade do abecedário.

É não se dar conta do q floresce no pé de carvalho...







Big Bang. Teoria dominante do desenvolvimento do universo em expansão, sustentada nos limites das observações científicas disponíveis

domingo, 1 de junho de 2014

Lembranças do alegrete...



- Se soubesse q vinha tinha lavado a cueca...

Com esta frase poética o prosaico hedonista cumprimentou a rapariga violeteira q lhe estendera a flor. A outra segurava as ramas de sua terceira idade.

Em seu engomado traje sujo de gala engoliu a seco metade do sorriso. Ainda assim exibiu o camafeu e a pose ensaiada ao longo do tempo.

Depois de aceita a reverência, feita e aceita tantas outras vezes, sem q percebesse passou em revista as rugas e a pele flácida escondida sob o cachecol.

Saudades da aurora em q sonhara ser uma mulher de verdade...

Se soubesse talvez não perdesse tanto tempo atirando pedras na poesia de Mario Lago. Tempo em q os pensamentos corriam atrás dos ventos. Tempos infantis de malícia e perícia em chupar sorvete sem derramar uma única gota no chão.

Agora, por mais q tentasse, não conseguia apagar os rastros deixados nas calçadas da nova república. Não entendia de mobilidade, mas caminhava livre, sem medo de assalto, sem olhar para trás.

O tempo nunca foi como o vento. Depois de certo tempo demora a passar...

Apesar da insistência não conseguia remodelar o passado. Para compensar afiava o linguajar enigmático, alinhavando madrugadas com um sintomático ranger de dentes.

Todos os dias o passarinho preso na gaiola lhe acorda cantando o esperado blues. E assim o faz repetidas vezes durante o dia. Assim mantém seu universo azul...

No precipício dos ventos, entre juras de amor ao bem amado, lamenta o tempo não andar para trás. Tal qual caranguejo-uça comprado na feira do peixe, na véspera do feriado, eternamente prolongado, em q lavara mais uma vez sua cueca.

No outro lado do oceano ainda se ouve sons de um baile de primavera. Tantas léguas a nos separar...

Foi bonita a festa. Bah! No meio de tanto amar, pena existir tanto mar...









Alegrete. Pequeno canteiro para plantas ou flores.

Mário Lago. Poeta, compositor e ator brasileiro. Autor dos sambas "Ai, que saudades da Amélia" e "Atire a primeira pedra". Este em parceria com Ataulfo Alves.

Caranguejo-uçá. Caranguejo de carapaça e patas cinza avermelhadas.

No final uma deliciosa interferência de “Tanto mar”, de chico Buarque, em sua versão original.

Montagem sobre a pintura de José Vital Malhoa, pintor e desenhista português.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Curvas certas em sete linhas tortas...



Solta das cordas acorda bamba.
Dá voltas e mais voltas. Revolta-se,
mas logo volta o pensamento
para o lugar onde sabe se entorta.

Já não se sente estranha nas entranhas do seu nó.

Em silêncio suporta. Grita qdo goza.
Como prova seu sabor...

terça-feira, 27 de maio de 2014

Divinas manhãs suicidas...



Divinas e brancas ancas da mulher amada. Montanhas erguidas no sopé macio de coxas q se prolongam pelas vastas e oceânicas curvas dorsais.

Exibidas com porte potranca e inquestionável beleza Gioconda, galopa pelos vales de minha morte com versos Bocage.

Uma a uma me desvenda nas estrofes de suas carnes...

Do sedutor olhar flamboyant a inspirar libidos, aos pentelhos centeios espigados; arbustos de flor exuberante, onde o sutil beija-flor transpira adúltero no olor do colo em vertigem.

Endiabradas manhãs em q a tenho amordaçada...

Rendido em seu aroma, razão de tantos fetiches, grifo o viço de primaveras em graves tonais. Acentuo-me agudo, degusto a vida e lhe dedico meu poema suicida.

O vento sopra em todas as direções. Ela escuta sem saber de onde vem, nem para onde vai...


Em tempo:
Raimundo Fagner certa vez cantou: - Quando ela dança os passarinhos ficam mudos...

Quando rebola causa tremor, em terra firme, em alta escala.
Se Mister Richter a visse, certamente perderia a fala...






Bocage. Poeta português representante do arcadismo lusitano.

Arcadismo. Escola literária surgida na Europa no século XVIII. Seu nome é uma referência à Arcádia, na Grécia antiga, tida como ideal para a inspiração poética.

Raimundo Fagner. Cantor e compositor cearense.

Charles Richter. Sismólogo q desenvolveu a escala q quantifica a energia liberada pelos terremotos.

Montagem sobre a obra “Figura em azul”, de Tarsila Amaral.

domingo, 25 de maio de 2014

Ópera em luar na escuridão...



Encontro às escuras. Desejos às claras.

Resvalo entre palavras cruzadas no banco da praça. Olhares imersos em outros tantos inquietos. Curioso charme manifesto na nada discreta hipocrisia.

Corações em trânsito circulam livres pelo passeio. Pensamentos soltos no ar.

Parado diante da vitrine o casal tenta ocultar as provas de seu crime.

No canteiro central da alfândega o religioso negocia a exclusividade pós-morte com chavões de se achar a graça. Sob o olhar desatento da brigada o cidadão reivindica o direito de vender o novo dvd do Rappa. 

Mendigos mendigam...
Alternativos se alternam...
Transeuntes se estranham...

Na rua da praia o artista de rua canta “Strawberry fields forever” cheio de interjeições e expressões teatrais. 

"Living is easy with eyes closed
misunderstanding all you see
it’s getting hard to be someone
but it all works
out It doesn't matter much to me"

Tempo coberto por longas conversas. Beijos misturados ao mate e alguns rápidos comentários sobre a queda da safra do tomate. Desconversas. Calor de primavera. Era dele e dela, sem qq testemunho ocular.

Depois de alguns sorrisos e reflexões sobre invasão de privacidade, despediram-se sem pedir fidelidade, nem medir as graves consequências da felicidade.

“É fácil viver de olhos fechados, sem tentar entender o q se é, nem o q se vê. Na dificuldade de ser, ao menos faça com q tudo funcione bem.”

Ele dobrou a esquina. Ela permaneceu calada.

Agora postada à entrada do banco da Dona Lilly Safra. Ela e o boneco feito com pedaços do pano usado, conforme a lua, como mordaça... 







Montagem feita sobre o quadro “At the Edge of the Brook/ Na borda do ribeiro”, do pintor francês William Adolphe Bouguereau.

Ao final uma tradução livre e pessoal de trecho da canção “Strawberry Fields Forever”, de John Lennon. Inserida com rápidos acordes entre as meias do texto.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A fina flor Sarandi...



Céu nublado. Recheios. Anseios. Chumaços.

No vácuo das nuvens reconheço os rastros da estrela ardente. Observo suas tentadoras formas atento à forma como ilude meu olhar.

Caminho no alpendre à entrada da estação. Os sofisticados detalhes em madeira rústica sugerem um passeio pela década de 20.

Meu peito bate sem perceber q me reparte. Antes q mude de idéia, ou fique tarde, subo no trem q parte às 11 horas, horário de Catende.

No bolso, em um guardanapo de papel, o bilhete assinado com batom me diz tdo q preciso ouvir. 

Pela janela tudo passa acelerado. Na poltrona ao lado Saramago finge dormir. Mastigo um pedaço de chocolate de sabor amargo.

No boca teu sabor riacho. Aromas de vinhedos q vinha debaixo da saia. Tuas fronteiras desprotegidas. Teu viço. Teus seios atrevidos.

No apito do trem minh’alma felina saltimbanca nas lembranças de tuas ancas. Trago as palavras escritas no teu corpo na ponta da língua.

Do outro lado do mundo sigo pensando ti, linda flor de Sarandi...





Sarandi é uma flor que cresce às margens dos riachos afluentes do rio Passo Fundo, e q deu nome ao município gaúcho. Catende é um município de Pernambuco, a 142 km de Recife.

sábado, 17 de maio de 2014

Entre cortes e costuras...



Um antigo manuscrito em alemão havia sido encontrado na trilha q conduzia à virilha, nos países baixos. 

Quando a notícia chegou a Versailles foi recebida com entusiasmo e respeitoso silêncio. O diplomata, com elegante subserviência, nem pestanejava. A dama de companhia, diplomada em vigílias, mal escondia sua satisfação.

Por um longo período havia sido utilizado como o calço na pesada porta de entrada do salão de orgias, onde a monarca despachava e agraciava com dóceis indultos aqueles q a serviam com alegria. Nos arredores de sua saia formavam-se babados enfileirados em uma extensa e sonolenta romaria.

Em geral veados são felizes. Embora nunca se saiba o q se passa durante o longo período de noites frias. Os sapatos, entretanto, não importa o tamanho, qdo tingidos de macho quase sempre guardam rancor.

Na baixa o sapateiro enxugava o suor e a lágrima. Em tempo de construção, no baixo meretrício a moçada q não pegava no tijolo atravessava a madrugada pedindo bis...

Infelizmente o preconceito é mal de raiz. Nenhum samba diz, mas, cantando bossa nova a família torcia o nariz para a liberdade explícita em Leila Diniz.

Não. Não é engodo. Todo vestido novo causa estrago no olhar devorador aguçado. Mesmo brilhando no couro sapato novo costuma fazer calo. Por outro lado o veado desgovernado faz bico refém das incertezas da natureza.

Es gibt nichts Neues. Alles ist vorahnung des tiefen.
Alles bleibt in der dunkelheit in der Lücke zwischen den kontinenten...

Arrastando o pé esquerdo por causa de uma anomalia de nascença, Dona Maria das dores servia com simpatia café com biscoito aos atuadores.

De tudo ela via da coxia. Nada a espantava. Só nunca entendeu qual a beleza em se medir horrores...

Quem sabe um dia ela confessa o tanto q ainda preserva escondido na dispensa.

Não há nada de novo. Tudo é presságio de abismo.
Tudo permanece escuro no espaço entre os continentes.

Excusez-moi mademoiselle, vous voulez un peu de thé?






Montagem sobre a obra “Dans l’eau”, de Eugene de Blaas, pintor italiano.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mãos no asfalto... Paçoca na carne...



No alto do morro o pavão canta na missa do galo. Abaixo da linha da misericórdia exibe ramificações presas a exuberante calda multicor. Entre às pernas o fuzil exibe a grife de combate.

Na mão direita um frenético ioiô. Na esquerda um oráculo em braile. Canções de vitória grifadas no exílio, entoadas no grito.

Luta inglória. Revolta q não se desnuda. O país recita Buarque, é bem verdade, mas baixa a crista e tampa os ouvidos ao q diz o Senador.

Derramado no asfalto o cheiro de esgoto invade os carros blindados parados no farol. O garoto esfrega detergente nos vidros.

Assusta tanta liberdade...

A cidade congestionada engole sobressaltos. Com extrema facilidade elege o cristo. Depois posta sua versão no tablet. Em resposta Roger Rabbit logo curte. Felisberto exibe o topete. Renan o look.

Por respeito à babilônia o congresso lembra Hollywood. O vermelho nos tapetes da fama não combina com o q se pinta nas ruas.

Da janela do apartamento o homem se joga louco de amor. Em outro se ouve o piano de Thelonious.

Alguma coisa Coltrane me conduz por “Ruby, my dear”.

Nas escadarias a madre curiosa exibe ex-votos e engole a seco a hóstia e sua história. Em sua razão mais generosa veste as cabeças com a pele da ingenuidade. Passeia nas manhãs de domingo no parque e, investida do hábito, semeia selfies com sobriedade.

O tempo passa rápido. O tempo muda os móveis de lugar. Cantarola. Remexe na caçarola o dente de alho. Depois da janta declama na cama seu desejo de áreas.

Do outro lado da lagoa escancara o outro lado da moeda. Lambe taças na adega. Navega com seus lábios tintos. Na boca do túnel emerge Afrodite. Diante da adaga indaga por qto tempo a carne suporta o corte sedutor da navalha...

Ao passar defronte a igreja faz o sinal da cruz, sem notar o olhar transeunte a lhe mendigar a carne.

Certo estava quem falou q vive-se por dom ou por arte...





Ruby, My Dear. Música de Thelonious Monk. Ruby é Rubie Richardson, seu primeiro amor.
Thelonious Monk. Pianista e compositor norte-americano, famoso por seus improvisos e estilo de tocar. John Coltrane. Saxofonista norte-americano, considerado o melhor sax tenor do jazz.

sábado, 10 de maio de 2014

Olhar de campina...



Deu voltas e mais voltas em volta dos muros do castelo erguido no único espaço oculto da campina.

No fim da tarde viu a ave de rapina planar seu olhar volteado de foice. Sem dizer nada adentrou na noite como única saída.

Quando a viu sem lua soprou brisa suave e lhe tirou dos sonhos. Percorreu suas paisagens secretas. Descreveu loucuras na curvatura e imensidão de suas asas.

Do outro lado do medo havia delicias, carícias e alguns rituais de prazer.

Abriu janelas. Escancarou a porta. Cantou a vida apaixonada.

Na noite em q se fez lua saiu pelas ruas iluminando paixões...


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Laços de embalar campônio...




Campônios aram a terra. Úmida eclodes luma em colibris.
Meu corpo fêmeo se ajusta efêmero em tuas formas justas.
Consultas o relógio. Não é de hoje q o tempo anda confuso.

Tomado pelo dilúvio encontro a lógica no buquê de bicos rosa.
Lá fora ouço a música feita de buzinas e roncar de motores.
Aqui dentro odores de carne grudada. Lúbrico amor em pelo cru.

Coberto de flores semeio outras cores no horizonte quase oliva.
Envergas as pernas. Entregas. Às cegas palpitas em braile.
Bailo no corpo arado. No ar o perfume do teu cheiro caju...




Montagem com cajus, frufrus e a obra “Semeando a Semente” do escocês Samuel Bough