segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O bardo e a fada...



Prelúdio em "pas de deux" para um amor "nos cascos", entoado em um abraço na pontinha do pé de um cochicho no ouvido.

Amor colorido no improviso dos carinhos rabiscados, como em cadernos de desenho, na borda do umbigo. Amor dos recém-nascidos sem prévio aviso. Amor q envereda por onde jamais fora imaginado ou sabido.

O inevitável é clarão de raio no escuro...

Por vezes tocam-se em linhas tortas por conta e risco. Provocam-se o tanto q podem. Arriscam-se enquanto fodem. Quando beiram calçadas dançam plumas. Na beirada da cama tiram escamas e sucumbem às tentações de suas entrelinhas.

Liberdade só é tormenta aos cegos d’alma. Paraíso é habitar o q se exala...

Assim comungam crenças e desavenças em um mundo à parte partilhado à revelia. Submersos comemoram suas Atlântidas livres. Desacatam a ilógica. Subvertem o sentido da arte. Tabus são substantivos de predicados insubstituíveis.

Por onde passam provocam vertigens. Nadam além do subscrito nas paredes. Além dos sorrisos exibidos nos porta-retratos e bilhetes dobrados, silenciosamente guardados nos livros.

Dadas as cartas só não se descarta viver além-vertigens...

Quando pensam chegar ao fim da linha, costurados tal sianinha, realinham Vênus e Marte nos fios de sonhos descritos nas fantasias da fada.

Desbravadores de amares, amantes amigos, quem sabe, até q a morte os enlace... 



sábado, 28 de setembro de 2013

Tango sem tragédia... Clarinete de Eva...



Recital em cordas. Corpo q se toca em outro diapasão. Alma q se entrega não nega. Fecha os olhos à vara de um violoncelo q se esfrega cego de paixão. Submissa voz aveludada, contorcida em árias compostas a quatro mãos.

Na revolução dos sentidos visões de um paraíso em livre decomposição. Desfiada na carne rija, a pele em vibrato dita à medida inexata da imprevisível percepção.

Viés virtuoso de um barroco amor barato. Prazer desregrado, livre de pecados, debulhado em versos e tantas outras provocações. Virtudes q se exaltam. Atributo q se encaixa na boca macia de gueixa. Olhos arregalados, sem queixas, degustam sua extrema unção.

Amor incolor. Mistura de prazer e dor. Amor coberto de defeitos. Algoz de si mesmo. Amor refeito em um mar de cordas, para espanto de maragatos e chimangos.

Acorrentada às tragédias, só dava trégua qdo su’alma refestelada dançava um tango..





Maragato: nome dado aos sulistas que iniciaram a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul em 1893, em protesto a política exercida pelo governo federal, representada na província por Julio de Castilhos. Os maragatos eram identificados pelo uso de um lenço vermelho no pescoço.
Chimango: termo depreciativo dado aos governistas do PRR. Os chimangos eram identificados pelo lenço branco.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Bilhete...



Depositei ramalhetes
Sobre o bilhete teu perfume
Tinha sabor de sorvete.
Ao ver-te só restou solver-te...







Interferência sobre pintura de Pierre Auguste Renoir

Cio em seda sem saída...



À noite escura becos apontam saídas. 
Febre sem adereços.
Cio em sedas e uma sede de beirar loucuras.
Segundo o sentido nos rastros da serpente
o colo em brasas já não procura a cura.
Generosas doses de segredos
despem ilusões nos becos às escuras.

Não há perguntas para tantas respostas...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ora direis haver poesia...


Amanheceu outra vez
Como vem amanhecendo os dias.
Entre um verso e outro, disperso
Lençol marejado, no corpo emaranhado,
Adormecido não ouve seu bom dia.
Lágrima em olhos alheios é poesia...


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Menina rosa... Pé de alfarroba...



Vestia rosa para sonhar azul.
Pela manhã limpava as janelas do quarto
Na tarde passeava em canções de luar.
Com medo de o mundo desabar ficava em silêncio
Levada pelos ventos escrevia poemas de fazer voar...

Toc! Toc! Toque-me!
Sem retoques ou disfarces
Toque à vontade, com a força
de tuas vontades. Toc! Toc!
Provoque insanidades.

Suba a saia.
Sobressaia a rosa de teus ventos em mim.
Venha rasgando a roupa. Solta
Latindo cachorra... Levitando...
Dançando tangos com os demônios
Sob a custódia do teu corpo cetim...

Mata a saudade na pele cachopa.
Cravo vermelho nos lábios, carne roxa
Repousa meu gosto na tua boca carmim...

Vestida de sonhos a menina de rosa
colhia na paisagem vagens de alfarroba.
Toc, toc, toc... A realidade lhe batia à porta.
Desta vez deixou bater, sem medos...





Alfarroba: Fruto da alfarrobeira. Árvore originária da região mediterrânica, tbém conhecida por figueira-de-pitágoras e figueira-do-egito. Durante mto tempo a semente da alfarroba foi usada como medida para pesar diamantes. No antigo Egito eram usadas na preparação de múmias. Sua madeira, vermelha e dura, é usada na marcenaria.
Cachorra: Cadela ainda nova.
Cachopa: Moça dada a prosa
Montagem sobre quadro “little-red-riding-hood”, de Maren Jeskanen

domingo, 22 de setembro de 2013

Dominique nick-nick... Josephine a babar...



Montada no cavalo branco Josephine dava a César o q era de César. Dava até dignidade. Sinceridade? Há quem diga: por maldade. Napoleão, como se sabe, era bom nas partes. Aliás, se naquele tempo já houvesse seguradora, quem sabe seria mais relaxado. Só a desobrigação de esconder a mão em seu jaquetão engomado...

Jura? Nada a ver com a conjuntura?

Desconjura! Soninha era toda pura, mas poucos sabiam das maravilhas q ela fazia com as mãos. Por nada, não. Depois dos trilhos urbanos toda beleza pura merece uma séria reflexão. Nos termos legais, nada aparece demais.

Segundo os anais tanta nudez incomoda o déspota. Mantenha-se a insinuação. Na defesa da contravenção uma mão sempre lava a outra. Chega a ser convincente. Mas será q voga? Por maior q seja o interesse, não se revoga o voto aberto dado de toga.

Ninguém assume a culpa se a desculpa não cola. O secreto dependerá sempre da melhor proposta. 

Por quem os sinos dobram já não é imperativo. É preciso saber em nome de quem os cílios se desdobram.

A história é um manifesto contínuo de final imprevisível. Nem tudo é previsto. Nem tudo é visível. Vista grossa tbém passa no pente fino moral. Salvaguardados delicados desatinos e loucuras de carnaval, cada um carrega consigo seu enredo ideal. Conveniente. Teatral.

Um dia daremos conta q somos nossa maior afronta. Sublinhadas respeitosas discrepâncias, é na cama q se ajusta as contas e se negocia o provável dividendo. Vai vendo... Este, sim, o juízo fatal.

Abre-te sésamo! Ao tomar posse da senha Dominique garantira seu reinado. Sentada na rampa olhava os pampas, limpando os cristais embaçados e a estátua da santa esculpida em carrara. Cara a cara, no espelho, minha cara, quem se atreveria a falar de amor?






Montagem feita sobre “O êxtase da Santa Teresa”, de Gian Lorenzo Bernini

sábado, 21 de setembro de 2013

Hemisfério quinze... Bolero neon...



Negra seda q me leva. Noite q eleva. Tudo aquilo q não se enxerga, mas se traz entranhado n’alma. Envolve o corpo. Expurga agostos como se o gosto da primavera fosse o dela, como se dela brotasse as cores de todas as flores, como se libertasse o amor preso às correntes d’auras.

Tânia Alves sobe ao palco à meia luz. De humana só a poesia do seu corpo fada.

A escrita mímica o q a boca não fala. Finge sair por aí. Vai e volta por ali. Vida é coisa q não passa. Posto à contraluz o mistério q seduz é o mesmo q induz à falha.

Em câmara lenta acompanho seus passos. O perfume éter do reflexo do seu salto, pontiagudo e alto, me perfura o peito. Faz bolero no meu corpo tablado. Ligo o rádio.

Felicidade é um estado sem divisas. O fim nem sempre é ao fim do primeiro ato. Intervalos tbém são regalos.

Saio do clube. Dobro a esquina. Nem assim ela me deixa em paz...






Tânia Alves é uma atriz, dançarina e cantora brasileira. Atualmente em turnê com o show “A Era de ouro do rádio”.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Mae West... The Best...



Lua cheia.
Antes sereno, o mar esperneia
Percorre as veias
Sobe a nuca e desfruta.
É impossível conter.
Teu cheiro no meu querer
beiradeiro, é de enlouquecer.

O corpo inteiro tateia os montes.
A mão abusa. A blusa acusa
Vontade de viver.
Desejo, emoção inconclusa
A razão reluta. A alma se perde
O olhar te segue pelo cais
Sem direção...






Mae West nasceu em 1893, no estado de Nova York. Desde cedo trabalhou no teatro, atuando em espetáculos de variedades. Escreveu novelas e numerosas comédias, caracterizadas pelo tom frívolo e picante. Algumas interpretadas pela própria Mae no teatro e no cinema.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Parapeitos... Fatura exposta...



Derramava sobre as palavras o q havia de poesia. Beijava a loucura no calor de tuas pernas. Odes de alma aberta. Entre rios flutuava disléxico pelo cio reticente do teu sexo. Em tuas partes desvendava sotaques. Um prazer à parte. Algo q se repartia em alegrias degustadas no teu colo.

Saudade não é só uma palavra. É vontade de adentrar o verso. Teu cheiro desassossega o peito. Respirar lhe traz para dentro de mim.