sábado, 28 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Dançando na chuva...

Chovia. Chovia muito naquela noite. Dentro de mim um pássaro mudo observava a pequena sala sem espelhos onde eu me encontrava. Lembro q olhei o telhado transparente q antes me protegia, agora, quebrado, já não conseguia impedir q a força das águas viesse a respingar por todos os cantos da sala, a escorrer pelos labirintos da alma solitária e calada. Imprevisível chuva numa enxurrada de emoções.

Fechei os olhos e transpus todo um tempo de morte e vida de tantas mulheres severinas, calejadas e mal amadas. Tempos de terra batida em boca seca e rachada. Tempos em q eu via a sina das meninas perfiladas e sem almas à espera de um salvador. Tempos de dor. Tempos de uma esperança q morria ainda semente. Tempos de horror. Tempos que Gene Kelly dançava e cantava sem imaginar q tantos pudessem existir e muito menos resistir sem chuva.

Meu pensamento voava ao léu, cada vez mais distante, sem perceber o véu q desaguava de maneira ininterrupta, descortinando o cinza de minhas lembranças na retina.  Com tanta chuva caindo corria o risco de acabar dançando na chuva, já q desafinado q sou, nunca me atreveria a cantor. Teimosa, a mente não parava de pensar por um segundo, fazendo o pensamento - ainda q tivesse consciência do q ocorria comigo naquele momento - ir cada vez mais longe. Por onde andaria minha vida? Ficava a imaginar o quanto ainda poderia sonhar, ou se não seria melhor deixar tudo como está, sem insistir em esperar godot. Sem esperanças e nem acreditar em deus. Tem horas que a gente desacredita até do q sente. Transeunte de um tempo sem alento. Corpo cansado de tanta espera. As ilusões ganhavam proporções assustadoras, qdo vistas em lentes de aumento. Ainda q permanecessem fechados, meus olhos percorriam atentos segredos, que nem a sete chaves havia mais como guardar.

Respirei fundo e fui até a janela. Curiosamente lá fora parara de chover. Àquela hora a rua escondia-se quieta entre as penumbras e sombras provocadas pela luz de um inquieto luar q insistia em querer brilhar. Poças d´água espalhadas pelos cantos das calçadas refletiam os desejos da noite. Passos apressados. Abraços lambuzados. Quereres quebrados. Meu olhar no leito das lágrimas acompanhava as solitárias canoas q desciam e subiam sem parar. Em cada uma, um cântico entrecortado por um soluçar difuso e o desejo a espera que o sol um dia pudesse voltar a brilhar.

Por enquanto lá fora apenas uma lua cheia em seu quarto crescente e mais indecente desnudava sua face oculta, revelando-se no q sempre fora. A fêmea antes reclusa já não precisava de um salvador. Usava e abusava de seus artifícios. Sabia de seus encantos e, ainda q timidamente e confusa, permitia ser vasculhada, escancarando a alma e o corpo sem pudor. Como uma Marilyn ressurgida em sua sempre nova Era. Antígona de um cinema até então mudo, sem conseguir explicar e nem enterrar seu passado, tantos que eram os pedaços espalhados pelas casas e pelos olhares de seus excitados telespectadores ávidos por distração. Luzes, câmera, ação!

Marilyn nasceu eterna. Como nenhuma outra soube extrair da dor o seu mais belo canto de sereia. Sempre fora um mistério q insistia em não querer desvendar. Tanta beleza, tanta leveza e uma carregada dose de sensualidade a esconder, ao mesmo tempo, tanta angustia e insegurança q não resistiriam a um depurado e atento olhar. Nem mesmo seu olhar sedutor e inebriante sorriso encantador conseguiam disfarçar.

Uma imagem em convulsão e suas múltiplas contradições. Marilyn é assim, desde qdo nasceu Norma Jean. Uma vida dividida entre uma exacerbada necessidade de se sentir querida e uma solidão q cada vez mais a afastava de si mesma. Tanto amor em tanta dor. Uma ingênua percepção mergulhada na ilusão de q encontraria sua única saída nas historias q repetida e incansavelmente interpretava diante das câmeras e das fantasias de seus interlocutores. Quantas tramas se estenderam madrugadas adentro. Quantos e tantos repentinos rompantes de um texto decorado, de uma vida mal vivida, de amores mal resolvidos e subitamente abandonados. Quantas e tantas vezes viu-se desnuda de alma e de pudor. Quantas vezes pensou q amou. Quantas vezes em seu quarto vazio chorou, olhando as luzes da cidade e os olhares se apagarem diante de seu corpo estendido e lambuzado, sem saber ao certo se estava certa de sentir prazer em tudo o q se permitiu e experimentou. E assim Marilyn atravessou e atravessa o tempo, fazendo de conta de q não tem tempo para si mesma. Resistindo em querer se enxergar e não dando chances para ter tempo de se decifrar. Na cabeceira de sua cama apenas um channel nº 5 quase vazio. Na cama, entre lençóis tão alvos qto desalinhados, manchas de lágrimas e um corpo perfumado e mergulhado em ilusões.

Todos querem a sua parte. Todos pegam no seu pé. Como se eles lhe tirassem pedaços.

Lá fora havia luar. Aqui dentro continuava a chover. Feito passarinho de Quintana voei pelos meus quintais banhados pela chuva. Chuva q caia, mas, não me molhava, como a lágrima q escorria, desenhando um rio no meu rosto, a abrir caminhos pela face oculta do luar.

Depois de tanto tempo abri meus olhos. Busquei na escrita exercitar meus medos... E só.

Não é de hoje q transito bem no seio de meus pólos. O q sei de mim sempre acabou me levando ao q ainda não sei. Será q um dia saberei? O próximo instante é sempre um clarão a explodir na cara, feito um tapa q se engole calado ou uma carícia q se degusta lenta e suavemente. Quando me calo escalo fantasias. Enfim... Por instinto de sobrevivência - ou seria tão clara a evidência? - o animal relutou em sair de sua gruta naquela madrugada confusa em que tudo parecia não ter fim. Anjos e demônios continuavam a dançar molhados na chuva. Noite sem bruxas e sem fadas. Noite sem trégua e que nenhuma régua seria capaz de calcular.

Mudanças de lua lavam as ruas desertas em suas desgraças. Nesses tempos modernos nem Chaplin imaginou onde a civilização haveria de estar. Ilhado em mim mesmo já não me olho no espelho. Vago o lume feito um vagabundo sem medo e ainda acreditando um dia vir a ser feliz. N’algumas vezes fui. Noutras foi por um triz. Eu q já tanto fiz, agora tanto faz... As mulheres marilyns continuarão suas sinas lavadas pela chuva que as tornaram mais cristalinas. Heroínas sem rimas. Femininas em solitários sonhos. Mulheres ímpares e sem par.

Por favor, não parem o mundo! O show tem q continuar...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009