sexta-feira, 14 de junho de 2013

Eleanor Rigby... Arias paraguaias...



Adentro a sala de desembarque cansado e grávido de um café e um cigarro. Em meio ao tumultuo vejo um figurino cafajeste de bicheiro. Na hora penso ser gravação da personagem Agostinho Carrara para o seriado da televisão. Que nada. Era o Ibrahim, em seu melhor estilo sóbrio etílico, fazendo o tipo olho vivo. Natural. Afinal, como se sabe, cavalo não desce escada.

Entre ele e eu um volume exagerado de malas circulava numa esteira abarrotada e ronceira.

Tamanho peso causava um estranho e incômodo desconforto. Razão pela qual questionava as motivações q havia para enfrentar um retorno. Nunca tolerei passivamente a existência de malas. Gênero universal de artigo indefinido e duvidoso.

Por isso não causou espanto ver o blog invadido, mutilado e rastreado pela insanidade, nada rara, desta espécime rígida da raça humana. Paro. Olho. Sigo em frente...

Dirijo-me até Ibrahim. Quem sabe me ajude a encontrar respostas.

Depois do trago no scotch, uma longa baforada. Só então, com a peculiar voz arranhada solta a fumaça e o veredito:

- Sorry, my friend. This is periferia humana. Quem não suporta a própria vida tem medo do q lhe espera em um espelho. Tipos assim só encontram alivio para seus martírios, fazendo análise ou bisbilhotando a vida alheia.

- O caviar está em falta. Posso servir mel de abelha?

Adentra a cena um assustado garçom. Pressentindo a reação q causaria sua inominável falha. Na tentativa de evitar a anunciada ‘esbórnia’ procuro mudar o assunto. Tiro o garçom de cena e deixo em segundo plano um ainda indignado Ibrahim.

Pela vidraça observo cores q passam apressadas entre o cinza e o azul. Só então me transporto monobloco beija-flor pelo tempo q ainda me resta. Outro tempo. Lugar sem contratempo. Luar sem nenhum contraluz a contrapor. Olor em combustão. Calor em profusão. Fio de lamparina devorando o querosene.

Na quermesse de São Jorge, Benjor cantou a pedra q um dia viria.

Bingo! Ai, ai caramba, olha eu aqui!

Volto pela assumida e abstrata necessidade de dialogar com cada átimo q me habita. Deslizar no ângulo em q o nariz empina e mergulhar no abissal de minha máxima loucura, em vida. Saludar con ámbar el sabor de la fruta. Hermosas putas q embarcan con sus barcazas en mi íntimo. Y si miran. Y mi miran, sin enbargo verme. Vivir los sentidos. Lo q hablo y vivo.

Sem portar fitas métricas, nem obedecer a falsas medidas. Sem vestir a pele animal das políticas corretas. Mas, sem descartar, em algumas árias, a bata cirúrgica do obstetra.

No mais, não vejo a necessidade de qq outro sobreaviso. Posto q a nada me obrigo. Trata-se de um blog pessoal, autodigestivo e intransferível.

Ainda assim peço aos intelectuais e eruditos - extensivo aos boçais e doentes mentais - a devida compreensão com quem escreve loas a toas. Com quem descreve a imaginação, sem a mínima pretensão de alçar a estatura de ilustres e reconhecidos imortais.

Relaxem! Meus maribondos não provocam tanto fogo...

Aos fingidos gêneros pudicos estendo generoso penico. Externando meu sincero lamento pelo comportamento bestial. Recomendo q sigam os normais.

Aos anônimos de sentimentos e procedimentos turvos, nos últimos tempos assíduos neste recinto... Admito: continuarei a ser o q, bem ou mal, entender. Não agrega e nem me faz diferença suas torpes crenças. E ressalto, sem sobressalto: continuarei a cantar àquela menina, a do Chico, com todos os dengos cabidos. Os descabidos tiro dos cabides e sirvo no mexido, com merecidos fuxicos.

Sem ladainhas ou clamor q o inferno me seja leve. Faz favor...

Há tempos nos servirmos um do outro, em comum acordo. Nele encontro à devida inspiração q me eleva aos céus, flutuante e leve. E adianto: É total perda de tempo esbravejar. Existem coisas q somente a uma pluma é dado o direito de saber. Ou experimentar.

Enfim. Nesse calhambeque sem breque ouso Roberto: só quero o q me aqueça neste inverno. E q tdo o mais, inclusive alguns q se sentem os tais, desejo, com o coração mais embaçado q parabrisa de carro na cerração, q descubram, desnudem e usufruam o fruto de seus infernos. De leve...

- Ademã, q eu vou em frente...
- Ça va, monsieur! Só não diga aonde vai. Corre o risco de alguém ir à frente, varrendo...










Eleanor Rigby - composição de Paul MacCartney, The Beatles, lançada em 1966, no álbum Revolver.

Agostinho Carrara - Personagem interpretado pelo ator Pedro Cardoso no seriado de televisão "A grande família".

Ibrahim Sued - (1924 - 1995) jornalista, compositor e colunista social brasileiro. Iniciou a carreira jornalística como repórter fotográfico, em 1946. Ganhou fama ao fazer uma foto em que o político Otávio Mangabeira parecia beijar a mão de Eisenhower, alimentando as críticas dos que combatiam o servilismo brasileiro em relação aos Estados Unidos. Como colunista social foi polêmico. Cunhou expressões que se tornaram bordões: "De leve", "Sorry periferia", "Depois eu conto", "Bola Branca", "Bola Preta", "Ademã que eu vou em frente", "Os cães ladram e a caravana passa" e "Olho vivo, que cavalo não desce escada".