quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Enigma...



Com habilidade trapezista exibia no ar suas formas sinuosas e, em sua grande maioria, assimétrica. Postulava mais q possuía uma estética assaz frenética. Com isso alimentava instintos e suplícios de almas q se desmanchavam no igarapé onde costumeiramente mantinha a umidade interativa de suas asas.

Por nunca saber definir-se sobre a vida acreditava no q lia e repetia a exaustão em sua devida redoma de vidro. Qdo cortejada enaltecia um rubor q não tinha. Ao ter a mão beijada seu corpo se consumia em árias de notas sólidas.

- Dios mio, q desagradable! Que Chico lleno de entusiasmo!

Quando nervosa elevava o tom da prosa, quase sempre em teatral tom de desagravo. Enojada fingia execrar a revoada. Entretanto, isenta dos ditames, conduzia a matilha expondo malícias em seus lábios inflamados, envenenados de promessas e reclames recheados de quartas intenções.

Assim salpicava cores acesas pelos campos, com contos e metáforas construídas, conforme lhe convinha, com linhas imaginárias. Coisa q nem a todos se conta. Com elas passava seu tempo, acreditando q algum dia pudesse, enfim, assumir sua condição mundana.

Entretanto o tempo permanecia mudo...

Nesse mesmo tempo viu rosto coberto de marcas. Em silêncio enxugou as mágoas e continuou a encantar as almas.

Sem q se percebesse manteve-se em segredo, sem conseguir decifrar ou livrar-se do estigma, enigma cada vez mais pesado e difícil de suportar: Borboleta não ama. Borboleta tão somente se deleita, quando se deixam serem amadas...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Der schwan...



Ao ouvir Illényi Aniko acariciando as cordas de seu cello, meu espírito se deixou levar por uma brisa de refrescantes notas. Logo no primeiro instante sua música se fez íntima e, como suspiro suave soprou delícias na alma, acendendo luzes pelos labirintos do corpo.

E me levou distante. Nem sei por onde. Lembro q o pensamento atravessou com minha querida fotógrafa Maysa Alburquerque um parque recheado de dunas. Cheguei a comentar como seria bom se a vida fosse uma eterna via costeira beirando ondas nas águas de algum mar.

Pois foi assim q eu a encontrei e fui envolvido pelo movimento suave de seus braços. Um pulsar crescente feito de um único compasso. Um espaço de tempo, sem tempo, a me conduzir de olhos fechados.

Era visível o êxtase com q se derramava e saboreava cada expressão de lamento. Incomensurável prazer q a lucidez proporcionava àquele momento. Era possível sentir o perfume da flor q não se cheira, mas se apalpa e se lambe. Só então respirei o q me faltava enxergar e abracei a vida q me assaltava a alma desarmada e rendida.

Qdo me dei conta já não contava os passos e nem os descompassos. Um a um eles se desprendiam dos rastros marcados na areia. Não havia mais apego nas pegadas. Por mais profundas q fossem estavam largadas, a mercê de um mar q lavava e levava o q restava das ilusões.

Sem me preocupar em decifrar códigos ou enigmas dos porquês reconheci no abraço a exata dimensão do q se é e o q se pode vir a ser. Reconheci tbém, na liberdade, a verdade do não ser. Retirei das gavetas todas as cartas q não escrevi e dediquei cada uma das minhas tristezas. Aprendi a ver com clareza a maneira como o choro debulha o sorriso e, mto mais q isso, q todo paraíso tem seu sentido, mas q é preciso viver além dos juízes e falsos juízos.

Tdo era óbvio. Restava sentir meus pés no caminho. Bastava seguir o instinto dos carinhos q ainda iriam me receber.

Na mesma tarde em q as portas se abriram para Illényi Aniko ouvi minhas mãos falarem em alemão. Vai entender a razão! Só então percebi q horizontes são asas q se repartem qdo se abrem. E q o cisne, qdo as fecham, faz do universo o seu mais cristalino lago.

No instante q se seguiu foi natural vislumbrar o mar e o lago de Mario Lago. Não disfarcei o sorriso qdo pensei: Mas isso é para quem se atreve a deixar q Aniko lhe carregue... Mesmo q seja de forma breve.






PS: Quem dera, ao invés de joelma com seus chimbinhas, o brasileiro descobrisse o prazer de ouvir Illényi Aniko tocar “Der Schwan“.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Poético provérbio...



Leve a vida como pluma leve. Solta no ar transpõe as próprias evidências com sábias transparências. Por opção e com excelência flutua impassível pelo impossível, no tempo preciso e possível, sempre regida por sua essência. Sem temer céu aberto ou esconderijos e, na medida do possível, sem nada a esconder...


sábado, 19 de novembro de 2011

Para Milton Nascimento...



Nascer pareceu ser invisível. Somente o atiçar dos sentidos, desde o primeiro momento se mostrou em mil tons. Nenhum dos dois soube até agora dizer o q veio a ser. Sem enxergar o ar q respiravam, eles se amaram passageiros de uma paixão inteira e sem razão. Contrariando todas as lógicas descobriram o qto a ilusão era palpável, q suas formas tinham um delicioso sabor matinal.

A emoção cega carregava suas almas, q se entregavam pelos vãos dos corpos, escancarando portas e janelas aos ventos igualmente cegos e devastadores.

Alimentados por lampejos desenharam seus corpos de desejos, com todas suas formas abstratas e inexatas. Vestidos de fantasias se despiram e atravessaram noites e dias, sonhando com o dia em q, de corpo e alma, fizessem de seus corpos a definitiva morada.

Enquanto isso, de mãos dadas percorreram o lixo ocidental com seus olhos voltados para o oriente. Sem a necessidade de heróis. Sem medo ou timidez seguiram o mundo além de seus quintais. Não pq se sentissem moços, mas pq todo dia era o dia de viver...








Caso seja do interesse, prossiga a leitura ouvindo "Clube da Esquina nº 2", de Milton, Lô Borges e Márcio Borges

terça-feira, 15 de novembro de 2011

The end...



Atraídas pela gravidade da imaginação, a saliva escorria quente pelos cantos da boca, despejando gotas pelas estradas q se abriam em rugas na sua pele. De onde estava pude observar a agonia do verme ao perfurar cada uma das palavras q revestiam a alma ainda cheia do desejo de vida.

Eram mtos os urubus a dar rasantes pelos pensamentos. Pareciam bailar a sinfonia da ópera desfeita, de um amor cego e íntimo aflito. Mostravam-se solidários, parceiros e nutridos de uma satisfação mórbida. Mantinham-se à espreita, como a lembrar com suas presenças a temível espera do último golpe. O fatal.

Sem mais espaço para sonhos, a esperança cega e embrutecida tentou as derradeiras braçadas nas corredeiras das salivas já embranquecidas. No mesmo compasso q perdia suas forças era tomado por uma consciência brutal, q deflorava e apontava de seu destino. Por fim, reconhecendo sua desgraça, abençoou o tempo perdido na busca de sua terra e do amor prometido. Tdo era desértico no instante sem estética daquele horizonte enlouquecido.

Certo de q não havia mais nada q pudesse fazer e sem forças para tentar alguma outra saída vi seu corpo desaparecer submerso. Entregue e sem mais nenhum sentido. Pela vidraça olhei a tarde nublada formar penumbras em suas formas. Então se deitou na cama com sua alma tranqüila e fechou os olhos. Com uma das mãos aberta estirada sobre o lençol prendia uma fotografia já manchada de tempo. A outra, fechada, fazia força para segurar o ponto q anunciaria o capítulo final.

Lá fora chovia. Lá dentro o tempo já nem se preocupava em ser frio ou quente. O celular desligado não sabia da saudade do lobo em escutar Marina Lima. Normal. Até pq nem sempre se vê mágica no absurdo...









No parágrafo final, uma incidência outonal da música “Me chama”, de Lobão. Na ilustração, cena de Marlon Brando no filme “The Godfather”, dirigido por Francis Ford Coppola e baseado no livro de Mario Puzo. O Poderoso chefão, como é conhecido no Brasil, ganhou o Oscar de melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator.

domingo, 13 de novembro de 2011

Let it bleed...



Um asteróide de corpo e alma. Um ser além do advento q limita o tempo. Ponta de um iceberg em q desponta o ainda por ser descoberto, posto pós o apocalipse de tdo e, sobretudo, do nada.

Deixa estar. A menina segue a semear sua lógica além do q se compreende e pressente alguém refém da própria órbita.

Montada em seu irrequieto cavalo marinho ela galopa os cosmos. Senhora de si e do signo da terra. Musa de atmosfera andróide. Explícita bhagavad-gita de um universo em desordem. A nova ordem dos cometas lhe rege a fonte dos gametas e labaredas bailarinas de Frida, a atiçar meninos e meninas.

No veneno de capricórnio seus dedos se cobrem com os anéis de saturno. No uivo e no dilúvio do prazer sem identidade, a verdade atemporal do fogo fátuo revelado em sórdidos delitos.

De modo impreciso a menina se lança com seu corpo tatuado. Nos quatros lados de seu retrato, as suas faces não se arvoram a ser resposta. A sua única aposta segue a linha oposta do q se mostra na linha de fogo de sua mutante zona de conflito.




"...Yeah, we all need someone we can bleed on. Get it on rider. Take my arm. Take my leg. Don't you take my head... Let it bleed…” Rolling Stones






Montagem feita com fotos gentilmente cedidas por Thaís Lessa.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Beijos de luar...



No tatear do rosto
Salivo teu gosto
Com gozo doido
o pensamento
morde os lábios...

Avoados beijos de luar
Voar desembestado
Perdidos no espaço
mais enlouquecido
No céu, duas bocas...
.

Fino trato...



Pode ser Venus. Pode ser marte
Pode parecer insensato ser poder
Pelo simples do mel do abstrato

Ser sentinelas nos embaraços
No tempo das marés q perdura
Na pedra dura abrindo espaços

O poder do vento q desata o laço
E percorre o amor de lado a lado
Em braços q se perdem em abraços

Se o lobisomem toca à surdina
A fêmea ladina acende o tacho
Viver é saber tecer finos tratos

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Lua cheia de estrelas...



Ao andar pelas ruas lerei teu nome q um dia gravei entre as estrelas. Reverei a constelação de Léo, ao léu, ainda adornada com teu rabo de sereia.

Por certo dirás: - Bah! Mas q poeta cheio de travessuras!

No entanto, ao olhar para o chão verás o tanto q rabisquei teu cheiro na areia. Só então perceberás em tuas mãos pequeninos grãos de lua cheia.





Montagem sobre “noite estrelada”, de Van Gogh, com fotos de Katya Floriani e Marcela Griffin

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Prego...



Cruz credo! Haja luz na cabeça avestruz do clero

Pra ser sincero, não acredito e nem espero

O osso é de ouro. Toldo de um celestial tesouro

Soldo sagrado e manufaturado sob o manto do ministério

Ave Magia cheia das manias consagradas aos impropérios

Dança no ventre...



És rosa q madruga a sede e na cor da pele desabrocha
Gemidos diluídos, ensandecidos em prosas de alvorecer
Em tdo o q tu és sou éter do teu ser. Em sendo o q tu és
És frescor de terra q a raiz enlaça. Boca tatuada na taça
Ofício de um desejo exposto à brisa no despertar da flor
Amor feito de amoras, sementes de auroras e emoção
Esplendor de um querer desinibido nascido no agora
Danças de serpente em ventre enlouquecido de paixão

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Lunik óbvio...


Poetas apaixonados, seresteiros tropeiros, romeiros endiabrados percorrei, com o q lhes resta de altivez, a dignidade dos abraços de suas deliciosas putas. Apagaram a luz no fim do túnel. Eis q é chegada a hora de sonhar e viver as derradeiras noites sem luar.

A bandidagem encurralada atira. A classe média carrega a bandeja e fura a fila. A autoridade cheia de pompa e oca de honra corrompe a lista. A juventude inutilmente tribalizada canta e dança sem entender a melodia.

Seguir rastros para não fomentar idéias e nem estragar os sapatos. Lustramos a bunda das estátuas, sem a mínima noção da dimensão dessa orgia.

A ciência não explica as baratas, nem a proliferação da idiotice. Mas aceita e transcreve a receita do q torna banal a atual vigarice. Bactérias ambulantes irrompem aos montes. A consciência coletiva não tem nome próprio. A falta de identidade é capital nas teorias de libertação.

Sei não, pela quantidade e a qualidade de certos indivíduos q alardeiam um lugar garantido no céu, desconfio q é melhor deixar q o diabo carregue. Por não ser um destino tão cobiçado, é bem provável q no inferno seja mais tranqüilo...





Clara referência e incidência proposital de Lunik 9, de Gilberto Gil

domingo, 6 de novembro de 2011

Los dominios del domingo...


O dia amanheceu em uma tarde preguiçosa
Sem fazer perguntas, sem querer respostas
Arrastou pela parede cinco perfumes de rosa

Depois dançou e lançou sementes do seu cheiro
Olhou-se no espelho e deu voltas à minha volta
Abraçado ao travesseiro pensei: - Que hermosa!

Abraçado ao travesseiro a olhei pelo espelho
Lançava sementes da tarde com seu cheiro
Dançava e dava voltas, exposta, à minha volta

Meu corpo sentia a noite, a boca e o gosto dela
Alma enlouquecida nas cores de sua aquarela
Então sonhei e me deixei ser levado por ela...

Carnívora...



Duas gotas em teu corpo
Bastam para meu corpo
Em ti percorrer a paisagem
Ao léu em majestoso céu
Na boca sabor e romarias
Elegias no despertar do dia
Cânticos em outros dias
Sinfonias ao te amanhecer

Deslizar por ribanceiras
Colher tuas cores nas flores
Lamber todo o perfume
Nas gotas do teu lume
Triangular farol posto anzol
Fisgar o bem de te querer
No Sol das cinco notas
Tua flor aberta a me comer





No ano de 1921, o perfumista Ernest Beaux desenvolveu a fragrância do Chanel nº 5 a pedido de Coco Chanel. Sua formula mistura essências de rosas, jasmins, sândalos e flores raras do oriente.

“Tudo q uso para dormir são duas gotas de Chanel nº5”
Marilyn Monroe



Recomenda-se, após a leitura, ouvir de olhos fechados a música "sensação" de Bruna Caram...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Êxtase...



Sonhar e se deixar guiar na luz do escuro. Enxergar cristais de segredos nos rios dos desejos. Ligar passado e futuro em um milionésimo do presente. Sonhar e ir a fundo, o máximo profundo, com a opção de ser espectador ou protagonista do próprio mundo.

Sonhar e se banhar de madrugadas. Desvendar a realidade de cada verdade com a exótica lente do lúdico. Pintar o corpo com as cores da lua. Amanhecer com a alma enfeitiçada e a pele molhada de tanta chuva.

Sonhar e se envolver com o abstrato, em saltos dados do alto de ribanceiras. Experimentar orgasmos feitos de espasmos e sobressaltos em trilhos de montanhas-russas.




The Ecstasy of St. Teresa, de Gian Lorenzo Bernini