sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Ao mar de algarvias...



Balbucio teus lábios
Incitas revoluções
Inconsequente amor
de língua fluente.
Na medida dos saltos
Escancara e se instala
no ato átimo de loucura.

Tentando sobreviver
as pernas rebelam.
No q mordes envolvem
a mercê do acaso
te sentencias a morte.
Desfaleces risonha
Soletrando algarvias

Longa vida... Ópera à paisana...



Rômulo remava constrangido pela maré. No remo o coração partido pelo amor bandido de uma mulher. 

Assim é a vida. Peito materno tem longa vida. O de pai vira muxiba.

No seio materno se descarta o caroço. Custa-se a ler as desculpas da placa fincada na praça aonde iam depois do almoço.

Desculpe o transtorno! Trabalhamos para melhorar as relações humanas.

Entre louca e mariposa a boa moça encosta a roupa no ferro quente. Reclama o sol escaldante. Na ponta do pé escreve eufemias. Na ponte faz tríplice aliança.

Na rua tira onda. Na cama apalpa o sacana. Assim como prima a dama, ávida por cortar laços, sem embaraço, na fita de cada reinauguração.

Olha lá! Lá vem outra procissão...

É o bloco das andorinhas salve-rainha. Todas vermelhinhas batem na mesma lata, sacudindo os quadris e a poeira das noites passadas na consolação.

No peito da loba rômulo sentiu o remo tocar as paredes da vagina. Corroída em coloridas tramas romanescas, a loba revestia as tardes burlescas no papel seda de seu carnaval.

Sexta-feira amanheceu no soar de trombetas. Apalpou a buceta e saiu pelas ruas cantando “mamãe trás logo a chupeta, q eu ainda quero mamar...”




Montagem sobre foto de Julia Margaret Cameron, fotógrafa inglesa nascida em 1815.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Habanera...

Hada borracha en la cumparsita
Las manos del diablo en la bodeguita
Como en la noche en que te soñé
En la mira de los reflectores
Taza de tequila en su mano...





Habanera é um estilo musical oriundo de Havana, Cuba. A habanera deu origem ao maxixe brasileiro, ao tango argentino e ao vanerão gaúcho.

Lima e Silva...

Na academia, oculta das letras,
Batia punhetas habaneras

Na boca maldita olhava bela vista
Nas mal vistas mordia os lábios

Despetalada oferecia a rosa
Langorosa em rede arrastão

Na escuridão ouviu-se rock
Garrafas de orllof vazias no chão

De olhos fechados seguiu-se o faro
Além do esperado verso inexato...




Lima e Silva é uma rua do centro histórico de Porto Alegre, RS

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Lima e Silva... Banana Habanera...



Na academia oculta das letras
Hada borracha en la cumparsita
batia punhetas habaneras

Na boca maldita olhava bela vista
Nas mal vistas mordia os lábios
las manos del diablo en la bodeguita

Despetalada oferecia a rosa
En la noche en que te soñé
langorosa em rede arrastão

Na escuridão ouviu-se o rock
En la mira de los reflectores
Garrafas de orllof vazias no chão

De olhos fechados seguiu-se o faro
Além do esperado, no verso inexato
Taza de tequila en su mano...




Lima e Silva, rua localizada no centro histórico de Porto Alegre, RS

Habanera é um estilo musical oriundo de Havana. A habanera deu origem ao maxixe brasileiro, o tango argentino e o vanerão gaúcho.

Montagem sobre capa do disco "Habanera", do saxofonista John Harle e do pianista John Lenehan.



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Palavras em família...



Cunhada em jade ostenta irrequieta toda malícia do verbo essencial. Verso aparentemente disperso, q a poucos é dado decifrar.

Nos corredores da assembleia encobre os cabelos medeias. Fecha a porta surge libélula, convincente, com todos os atributos reais. Nas gerais veste os domingos, nem sempre explícitos, nem sempre restritos a quem lhe possui. 

Na carne a palavra cunhada de modo surpreendente. Derradeiro suspiro. Irreverente delito. Amor mais próximo do eterno. Das tantas palavras cunhadas, cada uma em seu devido tempo, uma sobrevive fluente, presa as correntes sanguinas.

O instinto visceral maior q emocional. O rabo solto nas coxas, rasteja, suporta, se faz proferida em rimas eloquentes. Máxima expressão cunhada no peito sujeito ao chicote. Escrita entre colchetes, entregue a sorte.

Silente, não lamenta. Ciumenta, lambe pegadas deixadas do sul ao norte. No leste e no oeste de um faroeste viçoso. Amor curtido no couro. Nos contornos de ancas amadas, marcadas em noites cunhadas às escuras. 

No tesouro guardado sem segredo cheira indefesa o osso da espera. Sobretudo no q a faz cadela derramo o desejo de suas lágrimas iniciais. Razão pela qual se mantém bela, angélica evangélica de amor devoto.

Vontade cunhada na dura lei. Forjada na tábua, sem salvação...




Montagem sobre imagem de contracapa do disco Careless Love, de Madeleine Peyroux, cantora e compositora americana.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Vagabundo verso floral...


Nem sempre o verso se faz na primeira pessoa
Na segunda, quase sempre à toa, ele voa
Na terceira esquece a rima, perdido na garoa
Na quarta entoa no quarto a ópera enlouquecida

Na quinta passeia singular pelo infinitivo plural
Como tal, feito literalmente sem compromisso
Na ausência do amor florido, sua verdade é viço
solto em entrelinhas, até o seu ponto final...


Cobra molhada... Sebo e festim...



Fêmea ensandecida cobra cura para veneno sem cura. Nos limites do infiel dança no terreiro sem prumo. No q fere a língua afere à fala a falta de costume.

Preso, mas não surpreso, o ventre em chamas chama bandinhas de ciranda.

Rainha em padroeiras. Acesa em fogueiras. No tocar de cítaras salta excitada no cordão quase umbilical de seus arlequins.

Inteiramente rendida encarna suas tantas vidas. Desfia a ponta da meia rendada rasgada em suas partes mais íntimas.

Brincadeiras de luar. Banhos no varal das ruas em noite de festim.

No quintal de casa o pau de sebo desvirgina tiras e mentiras. No sobe, não sobe, no pote explode em gozo. Animal expurgado sem piedade.

Na verdade o olhar gemido desfigura o rosto cheio de sorrisos. Desgarrado em palavras molhadas o corpo umedecido esquece o oco. Tudo se faz fodido em seus sentidos.

Lá fora, qdo o agora lhe procura, outra vez aurora, bambeia na corda leviatã. No lábios carrega o hoje sem gosto de amanhã...





Pau-de-sebo é um mastro untado de gordura animal, geralmente usado em brincadeira típica de festa junina. O pau-de-sebo foi introduzido no folclore nordestino pelos colonizadores portugueses.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

No way out...



Se alguma coisa nesse desconhecido universo me conduz, eu agradeço sua existência.

Agradeço a vc q, sem perceber, exibe o umbigo e me faz vivo. Que pisa em falso juízo e me acolhe com seu ventre materno e livre.

Sem esperar pelo eterno, além do verbo manuseado, colamos afagos no vaso, aos pedaços. Um e outro. 

Cuspimos um no outro. Salivamos nosso gosto e o oposto exposto no rosto anônimo.

No esboço nada oculto soletro tesudo teu codinome. Tanto um qto o outro.

- Estou pronto. Vem me contar outro conto...
- Eu te encontro. No caminho te conto...

Retirado do armário, o retrato em preto e branco coloriu a fala e o afeto colhido em conchinhas.

No halo de suas imperfeições encontraram o amor próprio. Sem saber até onde seriam devotos. Sem esquecer o amor ao próximo...




Montagem sobre a obra “No Way Out”, de Milixa Moron, pintora venezuelana formada pelo Instituto de Design, em Valência, e Academia de Belas Artes de Florença, cidade onde reside e desenvolve seu trabalho. 


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Retrato falado... Dito preto e branco...



Defronte do recato, repleto de estereótipos, repete a exaustão o mandamento q recomenda não desejar a mulher do próximo. Só não tem como prever o q se dará qdo ela se faz íntima, ou se posta bem mais próxima.

Desde priscas sabe-se qual amor q fica. Segue-se o estratagema: se piscar o bicho come. Se acaso corre, logo ocorre se entregar ao primeiro santo de plantão. De mais a mais, mãe é mãe. Até no azerbaijão.

Vestindo o passado em trapos, carpideiras saem de suas neblinas. Comovidas lamentam tanta degradante devassidão. Antes de haver o sol. Antes mesmo do piar do pinto percorriam recintos carregando desculpas de ocasião.

"... e era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não entender não tinha fronteiras e levava ao infinito. (...) Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.”

A bicicleta de cristal deslizava no asfalto. Debaixo do sol toda a filosofia poética se revelara vã. Na pele da rã a noite se arrisca nos amores riscados nas esquinas. Amor de calor desinibido. Amor assustado, de tanto se espelhar em outras retinas.

Sabe, Chico, é impossível ficar calado, se na calada da noite ela me serve risonha o vinho tinto de seu sangue.

Na manhã seguinte, dito e feito, amarga a boca. Enfurecidas e loucas, as serpentes borboleteiam rasteiras, presas ao vício, nas folhas secas de outros outonos...

- Clarice, pelo sim, pelo não, pede para Simone por mais água no feijão...






Trecho de Clarice Lispector, de “O Livro dos Prazeres”, pincela e costura as interfaces do texto.

Parágrafo reflexivo sobre “cálice”, composição de Chico Buarque.

Uma suposta e bem disposta Simone de Beauvoir tempera e impede o entornar do caldo.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Estágio da paixão... Estado de garça...



Fogo de salsa
O rabo de arraia
costura na valsa
a mão na saia

O sentimento,
ainda mais indecente,
véu largado no vento,
lambe doce riacho

Coroada, se farta
Na mordaça a dor
logo passa. Ela grita:
Acaba essa farsa!

Afaga esta cadela
Faz dela tua cachaça.
Com exata petulância
Enlaça! Afoga! Agrada!

Reforça a tranca
Dança sem aliança
Entrança nas veias
meu corpo fatiado

Instante de paixão
Amantes em transfusão
desafiam a razão
Em estado de garças