domingo, 25 de maio de 2014

Ópera em luar na escuridão...



Encontro às escuras. Desejos às claras.

Resvalo entre palavras cruzadas no banco da praça. Olhares imersos em outros tantos inquietos. Curioso charme manifesto na nada discreta hipocrisia.

Corações em trânsito circulam livres pelo passeio. Pensamentos soltos no ar.

Parado diante da vitrine o casal tenta ocultar as provas de seu crime.

No canteiro central da alfândega o religioso negocia a exclusividade pós-morte com chavões de se achar a graça. Sob o olhar desatento da brigada o cidadão reivindica o direito de vender o novo dvd do Rappa. 

Mendigos mendigam...
Alternativos se alternam...
Transeuntes se estranham...

Na rua da praia o artista de rua canta “Strawberry fields forever” cheio de interjeições e expressões teatrais. 

"Living is easy with eyes closed
misunderstanding all you see
it’s getting hard to be someone
but it all works
out It doesn't matter much to me"

Tempo coberto por longas conversas. Beijos misturados ao mate e alguns rápidos comentários sobre a queda da safra do tomate. Desconversas. Calor de primavera. Era dele e dela, sem qq testemunho ocular.

Depois de alguns sorrisos e reflexões sobre invasão de privacidade, despediram-se sem pedir fidelidade, nem medir as graves consequências da felicidade.

“É fácil viver de olhos fechados, sem tentar entender o q se é, nem o q se vê. Na dificuldade de ser, ao menos faça com q tudo funcione bem.”

Ele dobrou a esquina. Ela permaneceu calada.

Agora postada à entrada do banco da Dona Lilly Safra. Ela e o boneco feito com pedaços do pano usado, conforme a lua, como mordaça... 







Montagem feita sobre o quadro “At the Edge of the Brook/ Na borda do ribeiro”, do pintor francês William Adolphe Bouguereau.

Ao final uma tradução livre e pessoal de trecho da canção “Strawberry Fields Forever”, de John Lennon. Inserida com rápidos acordes entre as meias do texto.