sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Meteóricos...



Sem imaginar serem feitos do mesmo barro se esbarraram no baile dançando “moonlight serenade”.

Ele abraçado à cerimonialista. Ela abotoada ao professor

Em braile trocaram olhares. Ele de cima a baixo. Ela por cima do ombro

O primeiro esbarrão deu em pizza.
O segundo, segundos de um leve toque na mão.
O terceiro foi aquele em q ensaiavam passos de aproximação.

Ele pisca. Ela sabe onde pisa
Ele belisca o ovo. Ela sorri de novo

Leitura labial deixa pistas
O olhar despista pra não cair em tentação.
A emoção por sua vez vai fundo
Vagabunda esquece o mundo e pede socorro.

De olhos grudados, abraçados a seus amores, balbuciavam coisas sobre misturas no barro; em afagos, de esbarro e encaixe; de estimulos pré-moldados.

Feitos aos quatro beijos, serviam-se um do outro sem embaraço, já sem acenos de mão. Cada um em seu espaço, seu devido espasmo, receptivo sorriso e respectiva ilusão.

Passava das quatro. Ninguém mais falava em “moonlight”.

Agora era Ella quem cantava “the shadow of your smile”...












Ella é a Fitzgerald, cantora jazzista americana
"Moonlight Serenade", composição de Glenn Miller, músico americano
"The Shadow of Your Smile", canção de Johnny Mandel e Paul Webster, tema do filme “Adeus às ilusões"

domingo, 11 de outubro de 2015

Ligações intraflorentinas...

Três da tarde ela liga e pergunta como estou
Ainda zonzo eu respondo: de pau duro
Ela acha um absurdo e desliga na minha cara

Treze minutos depois torna a ligar...

Desta vez pergunta se me acordou
Respondo q não
Então me pergunta das produções

Antes q divague digo q estão devagar
Ela diz q as coisas estão difíceis
Falo q mais difícil é encontrar amor...

Sem dizer nada ela desligou
Será q se ligou?




Por via das dúvidas cantei Abujamra
Apenas pra lembrar q alma não tem cor...







“Alma não tem cor” é uma canção de André Abujamra

Cultura Day...



Quem a si mesmo aceita, desde cedo percebe q amar não é seita. Logo só se aceita no q não prescreve e resiste sem receita. Inclusive nos incursos difusos das veredas em nada convencionais

Amar é sensorial. Como tal, verbo atemporal narcisista. Senhorio imperativo de senhorinhas possuidoras de caricias; de boas vontades rendidas aos deslizes. Delitos em delícias próprias dos vendavais.

Amor é sentimento de equilíbrio movediço e cultura plural. Um paraíso feito de ciclos e inferninhos austrais. Cujo ativo, de posse do passivo, produz benefícios específicos. Tanto físico qto espiritual.

Quem não enxergar isso viverá em roseiral de sacrifícios. Falará de amor, mas do amor só conhecerá o fodido. No pior conteúdo da palavra.

Afora os noves foras, mais nada...



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

¿Qué es eso?

Nosotros somos plurales y dispersos
y yo, bueno, yo sólo te amo…

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Eclipse...



O dia nasce.
Não sei se espalho lembranças
ou espelho lambanças
na folha de papel ainda em branco

Rabisco um tempo.
Quanto mais ele passa, mais fico passado...

A sombra da casa cresce silenciosa
e cobre todo o jardim com a tarde.
Percebo q nem tudo assombra
À sombra permanece tal e qual

Mais tarde, como era de esperar,
a noite aparece. Com ela minha vontade
de descrevê-la por inteira. Rasteira,
longe da penteadeira e sem echarpe

Por mais q se acrescente ou se concentre,
tdo incide à luz do q nos prende...

Escrevo aos céus
em uma noite coalhada de estrelas.
Escrevo rápido
Antes q a lua cheia apague tudo...

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Sem paralela...



O q mais quero e espero é q rebata
Repique no pau a pique e me faça
seu piquenique. Até me explique...
Não pelo meridiano Greenwich. Nem venha
com duelismo ou dualismo paralelistas

Que me venha safada e me foda
me socorra e exploda comigo
inserido, sem efeito retroativo, na lata

Que preze o q atiça, e se preste
a me passar em revista. Com laços e fitas
brincar de bandido e polícia
Rendidos, até no se perder de vista,
aos sinceros toques anarquistas da malícia

E q se faça a festa e tdo o q 'não presta'
Ela dançando twist
no realismo do meu samba canção...

Em tempo: E é bom q se reforce a tempo:
Não é samba. Não é canção. Mas...
Faz alusão a ela e suas linhas sem paralelas
Por quem verbo reverbero e espermo
por ser gênese do meu tesão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Tremembé tremendão...

Por mais q se suma
nem sempre se assuma
no banho, na mesa,
na súmula só se soma.

Mesmo mantida
regulável distância,
se somente trisca
é festa de arromba...

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Acabou Chorare...

Quando a abelhinha cheia de mel
soletrou o beabá no bé do carneirinho,
comecei a sorrir a partir da ponta do pé.
De tanto sorrir acabei chorando... 






Acabou Chorare é título de um disco dos Novos Baianos, de 1972.
Tempo em q ainda se ouvia música boa no tabuleiro da baiana.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Banho de Bica...



Sentada à borda do bidê ouvia Dinorah fazendo crochê.

Precisava ver... O corpo doido suava remoendo pensamentos deprê.

Não. Não era coisa pra marquês ver. Nem caso de citar Duprat, o fato de cantarolar toda vez q esfregava o utilitário bélico, pra lá e pra cá, no estéreo, pelo incomensurável do vasto grelo.

Sem esboçar pressa fazia compressas na vulva com as partituras, apascentando visíveis rupturas no seu higiênico papel.

Sem noção da dimensão q causaria o rolo, misturava o imaginário, o popular e o Eros próprio da dita. No ritmo adequado à produção do mel adentrava o vigésimo céu tal e qual Jezabel.

Entretanto, no introito preparatório do grande mambo final, aquiescia com gemidos distônicos aos infames ditames impingidos pelo martírio de sufocar os gritos.

Conduzida a termo, olhar a esmo largado no trânsito dos trâmites.

Muda. Repartida. Engolia a seco o resto do prosecco e a saudade deslavada dos banhos de bica...








Dinorah é uma canção de Ivan Lins, compositor brasileiro
Rogério Duprat, mestre e maestro do Movimento tropicalista

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Onde sabiá faz curva...




Entre profano e espontâneo o corpo curvado deixava o peito colado às coxas aninhadas em conchinhas.

O brilho da carne gozada iluminava o sorriso hortelã adormecido no rosto. O rubro do ruge e resquícios da noite passada retinha o frescor do sonho vivido nas maçãs.

Sob isto havia mais q isso. Havia um prazer submisso nos flancos deixado em aberto, à espera do tiro certeiro do amor franco e atirador.

Sonhou... Sonhou... Sonhou...

Sem saber o q fazer de tanto amor, sonâmbula desafiou as ordens acatadas aos pés do santo e protetor.
Sem delongas. Sem fazer burburinho fez um buraquinho na gaiola e voou.

Voou... Voou... Voou...

Riscou o ar com os bicos dos peitos eretos. Rastejou no espelho do mar inquieto com as incertezas de seu coração incompleto.

Arribaçã à procura da anunciação, a mercê da arrebentação...







Costura fundamental na música “Sabiá lá na gaiola”, de Hervé Cordovil e Mário Vieira.

Arribaçã, de arribação, substantivo feminino avoante...

terça-feira, 16 de junho de 2015

Honoris pausa...

Vontade q não passa
Saudade q abraça
Pensamento q se larga
sem q se queira largar

Calma! É questão de tempo...
Disse o vento q passava.
Tudo q vem no tempo
n’outro tempo se esvai

Largando mão do vento,
vendo q o tempo passava,
rompeu com o silencio...
Por que por dentro não passa?

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Maktub cucurrucucu...




Atravessados na cama masturbavam-se a quatro mãos.

Noite passada haviam comemorado bodas d’alma nas margens libidinosas da lagoa.

E ainda comemoravam...

Nus em duos sincronizados descreviam no céu das bocas o q lhes ocorria de correr nas veias.

Um no outro. Um e outro em um e outro descobriam o mágico do q até então era apenas ideia de colosso.

Falanges, falanginhas e falangetas compunham entrelaçadas operetas com impressionante disposição harmônica. Na trama em q se haviam sabiam q não havia vivalma à toa. Nada destoa qdo um voa no outro.

Maktub mon amour!
Soletre sorvete com a sede na ponta da língua
Curta! Cutuque o verso com saia curta
Dê mostras das curvas na lomba...
Cucurrucucu maktub paloma!
A vida é extremamente curta
e a estrada intimamente longa...

Desde noite passada festejavam bodas. Com toda a pompa rasgaram o q haviam escrito com suas filosofias anãs.

Assim, cada vez mais atravessados, transportavam-se da cama ao lago, transformados sapo rei e rainha rã... 








Maktub é uma palavra árabe q significa "estava escrito" ou "tinha que acontecer".

domingo, 14 de junho de 2015

Batendo asas...

entre o lúcido
e o lúdico
a carne vibra
na pele viva.

Pelo q sinto
e ouço
No osso q é
duro de roer...

domingo, 7 de junho de 2015

Perfumes de Colônia...



Certa vez atravessou a madrugada pintando as paredes da casa de amarelo.

Dizia querer morar no sol...

Bem antes de o sol despontar, iluminando a carranca amarrada à viga central, espalhou sementes de girassol em volta da cama. Depois pendurou pedacinhos de poemas no cortinado de organza.

Como acontecia nos dias de tesão cobriu a voz com luvas de seda. Postou-se de forma mansa, pontuando as palavras impostadas com justo interesse.

Aconteceu q amanheceu e o sol não veio...

Frustrada, deixou-se nublar como o tempo. Assim navegou à deriva até respirar outra vez o perfume de colônia.

Enfeitiçada enfeitou-se de dama...

O corpo exalava poemas qdo pisou nas sementes. Dançava qdo rasgou a organza.

Mesmo prevendo contratempos deu asas ao universo, como se cada verso fosse um tapete mágico. Reencontrou-se às margens do rio de La Plata, bem a tempo de abrir escalas, abraçada ao barqueiro q conhecera em noites passadas na milonga.

A cada orgasmo viu florescer girassóis...

Quando o sol lhe acordou no dia seguinte não pensou duas vezes. Antes q o galo cantasse espreguiçou o corpo remexido e fez um selfie com um sorriso amarelo. Agora à luz do sol. 

Como prova de amor tentou oferecer uns versos. Ao olhar o estado do cortinado rezou para encontrar algum largado, ainda q amassado, debaixo da cama...









Colonia del Sacramento é uma cidade portuária localizada à esquerda do Rio de la Plata, sudoeste do Uruguai.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Junho...

Chutou a tristeza e o lixo.
Tirou a saia justa
e veio em minha direção.

Na bolsa trazia saudades
negra luz esperança só
vista no escuro das ruas.

Envolto ao pescoço
um cachecol lilás solto
no entardecer atrevido...

terça-feira, 2 de junho de 2015

Frutos da goiabeira...




Costumava come-la à dentadas. Com os dedos fazia pressão no corpo, até estufar o mesocarpo suculento encarnado, logo enfiado com vontade na boca.

Mordia com gula, misturando seu sabor à saliva. Sentia q engolia alguns caroços. Cuspia outros sem saber q semeava outras goiabeiras, onde, por certo, outro alguém alimentaria sonhos d’alguma sereia. Igual a q aguardava comendo goiaba toda noite de sexta-feira.

Passava a tarde circulando na feira. Quando anoitecia voltava para casa carregando um molho de erva-cidreira.

Em casa, acesa a lareira, abria as cortinas da janela onde avistava o pé de goiaba e, ao longe, bem longe, a Lagoa Mangueira.

Banho tomado sentava na cadeira da penteadeira e assanhava as teias da sua aranha de estimação.

Sempre no mesmo quarto de hora. Sempre na mesma janela. À luz do abajur azul explorava seu corpo com virtuosas dedadas. Aos poucos su’alma saía lambendo bordas, deixando nódoas em sua calcinha de algodão.

Do lado de fora, de olho no olho da goiabeira, ele acompanhava cada movimento de sua sereia. Às vezes gemia alto, bem alto. Às vezes mansinho, fazendo carinho em um tom melódico, à altura de sacrossanto canto.

Passado um tempo, já debaixo das mantas, coberta outra vez de esperança fazia o sinal da cruz e apagava o abajur.

No quarto às escuras olhava as estrelas adormecerem nas profundezas de seu silêncio.

Na manhã de sábado, antes de varrer a casa, tomava o suco feito com as goiabas deixadas como paga no batente de sua porta...









Lagoa Mangueira é uma lagoa situada no município de Santa Vitória do Palmar, a 500 quilômetros de Porto Alegre, RS, perto do Uruguai.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Dark inside of the moon...




Os paralelepípedos continuam oblíquos e emoldurados nos paralelos dos meios fios. As calçadas da cidade baixa ainda cruzam riscos, sob olhares tangidos pelo fio do teu belo e irreverente rabisco condutor.

É providencial ressaltar a natureza substancial dos meneios. Requebros sempre mostram à q veio. A ansiedade da carne busca respostas na carne oposta.

Apostas são feitas à revelia no seio da tribo...

Alheia ao veredito, a sede é visível nos recheios q dão sentido as fendas laterais do vestido. As delícias do preâmbulo descortinam e justificam os mais belos horizontes.

Dos insides eróticos aos manifestos antropológicos, os corpos se aceitam indiferente ao breu castiço deste mundo caótico.

Até onde posso permaneço oculto, se o princípio ativo - partícipe intuitivo - cultua o corpo ambíguo posto cheio de adjetivos.

Sem q ninguém perceba toco the dark side of the moon.

Antes de passar a língua nas pontas dos dedos, no alto do poste um louco me avisa q os trópicos, apesar de todos os esforços, continuam utópicos...







“The dark side of the moon” é um álbum da banda britânica Pink Floyd.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Remendo institucional...

Se a melhor defesa
é o ataque,
o melhor ataque
é a surpresa...

Flexões e reflexões...

Na ficção
a realidade é
uma comédia.

Eis o drama...

Reações em plenário...




Depois do almoço, molhando o bico da pena no nanquim, o moço escreveu no verso sujo do bilhete recebido anônimo.

Ainda q houvesse motivo para duvidar da repentina coceira dada na vista, certas coisas ditas eloquentes são tão empíricas q se tornam implícitas. Não foi preciso ser explicito para saber de onde viera. Nem consultar o mapa astral da blogosfera para enxergar pseudônimo no remetente.

"Na guerra, a verdade é a sempre a primeira vítima”...

No porta-retratos cinderela continuava bela. No entanto, sem maquiagem, o olhar confessava o q se passava no avesso do espelho. No verso manifesto havia inferno. No inverso um universo.

Por mais q se entenda. Por mais q a imaginação estique e traga à tona a lona da tenda, nunca se será capaz de dizer com palavras o havia no beco escuro da descrita.

Un poco allá, un poco más allá, fez do corpo um tango sem compromisso...

Nada de anormal para quem insta na literatura seu melhor argumento. Nada q corresponda a fleuma de relatos enfeitados de ilusório saber. Nada mais q isso.

Na verdade não existe nada mais falso q o juízo...

Num piscar de olhos, ao abriu os olhos pode perceber além do perímetro imposto rendido à loucura humana.

Naquela tarde a caligrafia trêmula, com a devida vênia e pena, decretou a morte da poesia...






Célebre frase de Hiram Johnson, governador e senador da Califórnia.

sábado, 9 de maio de 2015

And the Oscar goes to…




Nem foi preciso esperar pela abertura do envelope, consultar os astros ou encontrar lógica em suas reações hiperbólicas.

Bastou ajustar os sinais da parabólica e observar para qual lado apontava sua buliçosa bússola. A tendência em voga indicava q a moda vinha do áureo berço.

Também não foi preciso, embora fosse possível, destacar o foco de seus artifícios ao interpretar o suplício de uma paixão. Muito menos se ater a detalhes ‘in blue’ alinhavados às pressas no vestido usado para ouvir e aplaudir o oferecido blues.

Ficou a dúvida se Muddy Waters revirou na tuba ou se sumiu na estrada pilotando uma hayabusa.

Certo é q tuiuiú voou...

Na verdade nada nunca lhe foi preciso. Tudo já havia sido prescrito na bula e na gula dos saltos usados e dados no alto do altar.

Na ladeira do amparo a boa conduta é regida pela lei da contradição e da oferta...

A questão deixa de ser ou fingir não ser, mas prever como será sua próxima atuação. Implodirá ou tornará a causar comoção?

Terremotos e tsunamis não causam estragos apenas no Nepal e no Japão...

Sem resistir a absurda força exercida pela correnteza de um mar del plata, a historia q se dizia escrita nas estrelas passou a ser descrita, com letras miúdas, na etiqueta costurada nas internas de sua blusa.

Respeitados os dons e atributos. Obviamente considerando proventos, intentos e o contrassenso. Enquanto o tempo não prescreve ela reescreve seu roteiro nada original. Resta saber por qto tempo a natureza atura tanta perjúria.

Enquanto isso no tapete vermelho a vida perdura. Jura q é casual...

Ao natural a borboleta perambula. Vira e mexe vira cobra. Só ela sabe o qto se desdobra para administrar tanta loucura nas duas cabeças.

Convenhamos, tanta proeza é digna da estatueta...


terça-feira, 5 de maio de 2015

Frente ao verso popular...




Dizia amar sem se curvar
No dia q se curvou amou

Daí pra frente viveu feliz
para sempre sorridente,
inclusive na frente
cada vez mais popular...

Receita quase imperfeita, 2ª estância...




Colhia o tempo saboreando amoras. Corria de encontro ao vento para sentir perfumes na flora. Curtiu horrores mundo afora.

Quando pensou ter caído em si viu cachos caquis dependurados no caibro do alpendre onde brincos de princesa faziam a festa de beija-flores.

Na sua frente uma jabuticabeira fazia sombra à sensível trepadeira. Sempre vista com delicadeza. Sempre dando suas voltas. Mas com clareza, em toda a sua grandeza, só era vista nos dias banhados de lua.

Um pouco a esquerda emborcada na areia uma canoa furada conduzia o pensamento à estância velha. Junto dela uma arandela circundava com espelhos d’água o vaso de barro onde havia plantado a seca pimenteira.

Em seu repouso empoeirado em um dos cantos do batente, o pote de brilhantina 'glostora' trazia de volta os tempos de rock, hollywood e brucutu.

Nas brechas deixadas no assoalho de madeira, margaridas brotavam assanhadas, entrelaçadas nas toras roliças q serviam de escora.

O alpendre, tanto no oriente qto no ocidente, escondia o sol. Só não escondia, por mais q se tentasse, eram suas inquietações.

Por mais q desejasse, os dias sempre amanheciam sem saber a receita de como se manter no luar.

Um enigma quase imperfeito para um coração afeito, feito para sonhar...


sábado, 2 de maio de 2015

O tempo do vento...




Quando o tempo adentrou a intimidade do quarto lhe encontrou adormecida sobre lastros mantidos à custa de lágrimas q no próprio tempo tratou de enxugar.

Vontade era desejo intocável. Verdade guardada em sigilo no invisível cárcere dos amores falidos.

Quando o tempo adentrou no silêncio do quarto percebeu o cansaço de tanta solidão. Percebeu mas permaneceu em silêncio.

Sem se dar conta o tempo passou...

Com o tempo veio o vento soprando indecências debaixo das cobertas. Sonâmbula olhou o tempo. Ainda q o respeitasse soltou sua mão ao sentir frescor no vento.

O q o tempo tinha de traiçoeiro tinha o vento de aventureiro...

Quebrando o silêncio tocou seu corpo. Um tanto malemolente deixou as coxas à descoberta, à espera da próxima rajada do vento.

Não tinha noção do q era, nem do q havia à sua espera.Ainda assim, ainda q do amor vivesse o emaranhado, experimentou seu amor mais profano e desbocado.

Ciente de q nada escapa às mãos do tempo, teve o discernimento de deixar em aberto o basculante da janela no quarto.

Assim, com o passear do tempo, ao soprar pelas frestas, o vento poderia tocar seu corpo, possuir outra vez su’alma...







Montagem sobre foto de Elena Pezzetta, do ensaio “belos desastres".

domingo, 26 de abril de 2015

Ainda...




De certo sonhava. De certo sentia ainda q de modo incerto, cedo ou tarde, certo ou errado, os sonhos sempre se tornam reais.

A realidade é fenômeno atemporal q foge à lógica preconcebida dos anormais.

Parece tão natural. Como parece inútil prender-se ao tempo e a pretensa compreensão do q move as coisas. 

Acima de todas as coisas, inclusive dos versos q escreve, o conjugar dos verbos são manifestos de tdo q permanece oculto do simples olhar.

Por mais fluido q seja o amor só entende o prazer no estado sólido.

Entre um e outro o universo era ponte. Um abismo de união cada vez mais profuso, profundo e tentador. 

Ainda q o amor continuasse lúdico, entre eles era sólido... 


quarta-feira, 22 de abril de 2015

O calendário...




No primeiro dia abriu cortinas
No seguinte manteve a rotina
No terceiro sentiu-se culpada
No quarto ficou calada
calhada em sonhos de menina.

No quinto tirou anéis e véus
No sexto redecorou a casa
Só não tocou nas cortinas.
No sétimo esqueceu pudores
Tirou da gaveta atrevimentos.

Por um curto espaço de tempo
Questionou o q seria o amor?
O q encarcerou? Aquele q se jogou?
Ou o q lhe encontrou desgovernada
Arrastada pelos pensamentos?

Sem tempo nem paciência
de esperar por respostas
trepou bem alto, no mais alto
do mais íntimo sentimento
e saltou...

Sem amarras sentiu-se amada
Sentido os vazios preenchidos
rendeu-se ao desvario
reconheceu-se no amasso desregrado
daquele inesperado amor varrido.

Quando a outra semana chegou
a encontrou diferente.
Nem crente nem descrente.
Sorrisos repartidos nos lábios
Metade ao léu. Metade indecente...



domingo, 19 de abril de 2015

Vapor Beethoven...




No diapasão do teu tesão meus acordes
seguem as trilhas sonoras de tuas curvas

Surdo enxergo notas músicas pelo teu corpo
Erguido por tuas escalas roço cordas vocais

Mudo solto o verbo, sobretudo sobre o q é sentido
A todo vapor, desnudo e impreciso, em todos sentidos

Agudo adentro sem dar ouvidos ao q não faz sentido
Aguço os graves, sublinho na partitura meu rebuliço

Sem antever limites executo tua melodia de improviso,
a salvo dos falsos juízos, sem temer ponto final...







N.A.: Afinal, como cantou Tim Maia: que beleza!
Teu clarão (e diapasão) é a razão da minha natureza...



Ludwig van Beethoven, compositor alemão, um dos pilares da música ocidental, tanto na linguagem como no conteúdo de suas obras. Segundo o crítico alemão Paul Bekker ,"o resumo de sua obra é a liberdade, em todos os aspectos da vida".

Tim Maia, cantor, compositor e multi-instrumentista carioca, foi o responsável pela introdução do estilo soul na música brasileira.

sábado, 18 de abril de 2015

De Charlie à Kaiwoá... Valei-me Villas!




Uma pequena historia nem sempre quer dizer alguma coisa. Quando ela quer se esconde nas palavras... 

Naquele dia acordou com a tarde e o vestíbulo vaginal em brasa.

O vestíbulo batia palmas. A tarde era ocupada.

Daquela tarde lembro as montanhas de lixo, de todos os tamanhos e biótipos, inclusive os mais representativos, sendo chutados pelas ruas, na marra, na lata.

Nas ruas o calor humano era formado nas mãos dadas.

Naquela tarde vestida de kaiwoá, com a cara pintada reforçada no batom chupou tacape de guarani até grunhir e o fogo caseiro rugir na esquina. Democrática q era fez-se linda ao desfrutar da índia, bela e amortecida pelos seus amassos.

Villas q não era bobo, aliás, um velho lobo, tratou de entrar em cena. Cansado de ouvir cantilenas molhou a ponta do charuto com a saliva da encarnada Iracema.

Pois não é q o gigante despertou com todo aquele axé!? Pois sim! Pôs sim! Pois é...

De volta à passeata ajustou-se às causas, tal fizera com a saia comprada no brechó. Incorporada e vadia, para alegria da nação transgênica, fez dos peitos o ponto alto e marco de sua redenção.

Com olhos de mocó a nação pensou ter desatado o nó. Ledo engano. Mais cedo q o esperado engoliu-se a seco o resultado e o cale-se ofertado.

Era tarde. O mal estava eleito. O cavalo nem chegou a ser selado e foi crucificado.

Kaiwoá nada disse a respeito. Com estranho pesar tirou a saia e pisou em cima. À surdina se recompôs com desenvoltura de dançarina e segurou no pau de selfie.

Quando estava prestes a gozar esticou a coluna e gritou: Je suis Charlie!

Oui! Oui! Très Jolie!

Tudo aquilo parecia tão lindo! Tudo ia indo... Até q a desgraçada lembrou Roberto, ao postar q tdo o mais e os demais fizessem fila nos internos.

Oh! Inferno pra ter cão...


quinta-feira, 16 de abril de 2015

O ponto cego de Lupicínio...



Se acaso ele enxergasse além dos bordados, além do jeito ensaiado de beijar na boca, perceberia as horas em q ela, vestida de louca, sai farejando meus rastros.

Se acaso ele sonhasse q depois de molhar os lençóis com o perfume de sua vagina, deixando seu amor  adormecido em um céu de estrelas, ela vai ao inferno a procura do q lhe seduz.

Amor mantido na cruz. Amor circense assentado à margem direita do lago plácido, a contemplar com inquieto apreço o tentador desassossego do pântano.

Na intimidade o amor se revela impublicável...
Quando seu amor enciumado ameaçou lhe bater, ela reagiu. Sentiu raiva. Sentiu dor. Sua mão não tinha formato das mãos de seu capitão do mato; não fazia su’alma ascender em labaredas na fogueira, nem lhe fazer submissa às suas vontades beiradeiras. Nem ao menos sabia fazer fluir sua natureza transgressora. 

Apesar de simplória a prosa do Osório não é notória aos olhos distintos do público...

Longe dos olhos o amor rasteja no chão impregnado pelo cheiro de sargaço. 

Mas como em nome do amor se faz juras, em nome dele ninguém esquece o caminho da volta. Assim q a noite ia embora na fumaça no trem q sumia nas colinas, ela adormecia outra vez com seu doce sorriso de menina.

E, mesmo q as cortinas abertas e cheiro de sua vagina denunciassem a noite passada em claro, seu amor, ainda mais cego de amor, a acordava com versos e um ramalhete, escolhidos e colhido nas primeiras horas da manhã.

Se acaso ela falasse, quem sabe ele cuidasse com a mesma alegria e ingenuidade dos caminhos de seu bosque em flor.

Quem sabe fosse tdo o q sempre sonhou...










Lupicínio Rodrigues, cantor e compositor gaúcho, autor da página músicas “se acaso você chegasse”.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Juan e Chatterley...




Enquanto o mundo defecava eles se imaginavam em serenatas. Sentados no banco da praça ouviam e se viam na música q a camerata ensaiava às portas fechadas na casa de chá.

Sem darem conta do impreciso, a dois passos de se sentirem pássaros, miravam seus peitos alvos espelhados na poça d’água, das noites de chuva passada em claro.

Despidos os hábitos costuraram o centro de suas intenções. Habituados ao ambíguo colaram umbigos. Sem perceber tocaram-se no ponto cego...

- Foi sempre assim Juan?
- É sempre assim Chatterley?

Diante da catedral de Babel quebraram regras, pisaram com força em cacos de vidro. Estavam tão envolvidos q não perceberam qdo as luzes apagaram e a camerata parou de tocar Lady Jane.

Haviam sido consumidos pela terra, com todos os seus mistérios...







Lady Jane é uma canção de Olivia Byington, tocada em outros tempos nas catedrais do papel...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A terceira pessoa do verso...



Lá dentro, bem lá dentro, remexeu diferente
como sussurro no ouvido, como anunciação.
Com uma das mãos tentou conter o sorriso
Entre o susto e o ímpeto pensou: Por q não!?

Verbo condicionado a segunda pessoa
Ao bater asas percebe q nunca se voa à toa
Que na primeira pessoa a alma voa
E, na realidade, a fantasia aproximava
de tudo o q, verdadeiramente, era real

Olhos vendados. Imaginação na rua escura
Beirava a tortura no corpo outro corpo dar voltas
em sua volta, no entorno da cintura deslizes de mãos
a colar alvoroços pelo pescoço despido

Por dentro furor. Nos ventos fragrância de sexo
No empuxo, segura pelos pulsos, se fez reflexo
Com motivos deu-se ao desfrute, em todos sentidos
Corpo possuído, alma invadida,
Conjugada na terceira pessoa se sentiu plural...







Montagem sobre a obra “Florals”, de Janice MacDowell

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Salto na agulha...




No salto agulha fagulhas.
Divindade sobre-humana da criatura
Humana mente insana, mundana flutuas.

No q concerne meu corpo converge
convencido q és promessa de vida.
Comprometida te ofereço uma prece
Tu te ofereces conforme a metida

Na lisura te convertes e concedes
sem questionar duras medidas.
As reações falam por nós...

No verbo de tempo indefinido
equilibramos em linhas invisíveis.
A fissura q nos engole torna comum
a mais incomum de nossas loucuras...



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Vinte e três e trinta e oito...




Há quem diga q o universo conspira antes, mto antes de qq recomeço.

Não desmereço, e reconheço: desde o começo repito o q me disse a história:

Era bem cedo. Bem comecinho de tarde. Amarrados por imaginários cordões umbilicais trocaram palavras como brincadeira de ioiô.

Brincaram mto. Brindaram tanto, mas tanto, q qdo deram conta da hora a hora virou. Pensando em despedida diante do entreposto beijaram-se na face direita do rosto. A caminho da outra face tocaram as línguas de passagem pela boca.

Ela sorriu marota no tanto q ele saboreou...

Na esquerda remexeram as cabeças. De remelexo em remelexo buscaram um jeito de se trocarem outra vez na boca.

Desta vez assuntaram-se bem mais. Muito mais devagar. Como um bem a vagar em trilhos sem direção.

Quanto mais se soltavam mais grudavam; mais dançavam com as línguas assanhadas. Alguns momentos na valsa. Em outros substancialmente salsa.

Nas águas de março esquentaram os corações...

Apertaram-se. Morderam-se. Capinaram arrepios pelo pescoço, percorrendo corredores, ligando interruptores.

Luzes acesas apalparam-se na bunda. Subiram costas enxergando-se resposta às propostas indecorosas do pensamento.

E um mundo mudo a girar contra os ventos...

Buscando o equilíbrio ela segurou firme no pau. Ele apalpou alegrias na buceta. Era pau. Era pedra. Era um corpo macio.

Era amor fodido...

Quando a noite chegou ela pegou o metrô. Ele continuou na estação, ouvindo a banda tocar coisas de amor...


segunda-feira, 30 de março de 2015

Amantes...

Sou parte de um caso à parte.
A outra parte é parte dela.

Sempre q parte de mim a invade
Sem alarde repartimos sonhos
de parte a parte, por toda a tarde.

Na verdade, ambas as partes,
somente em parte se sentem inteiras,
pois qdo ela parte leva parte de mim.

Então o coração outra vez se reparte.
Parte adormece abraçada com ela
Enquanto a outra lhe faz poemas...

domingo, 29 de março de 2015

Realejo-de-boca...



Encostada na vulva a boca desconstrói razões pela raiz. A ponta no nariz inspira o movimento das pétalas. Em um andamento desconcertante, a língua marota brinca de bambolê.

No sopro sustenido larghíssimo palpita inquieta. A vida pulsa na vulva allegro moderata. Quando todos os sentidos criam asas, ela dilata molto vivace, em um coro uníssono expele cânticos sem nexo.

O olhar perplexo reflete em ecos os acordes do tesão.

Na melodia do realejo ela esfrega os lábios, sacudindo o corpo regado a mambos, vinhos tintos e tequila. Com o instinto libertando tangos, a alma explode e se dissolve lúdica e lírica.

O amor escorre líquido pela boca de seu tocador...

sábado, 28 de março de 2015

Ninho de cuitelinho...




A dimensão do leito entre as pernas exibe nascente afluentes de rios q ela tão bem conhece.

Alguns profundos, caudalosos de trechos gozosos; esplendorosos banhos de amor.

Matas rastejam por suas margens. Touceiras exibidas dão boas vindas à delicadezas floridas. Arbustos crescidos à sombra de frondosos bustos germinam brotos de felicidade em suas pernas encharcadas.

Chuviscos formam corredeiras respingando fetiches entre pentelhos. Deslizes feitos diante do espelho estimulam declives modelados na polpa  rosada e movediça.

Tal e qual a natureza da buceta do meu amor, a natureza é musical.

É flor q todos os dias renasce aberta ao canto de pássaros incrustada nas paredes da montanha.

Assanhado me aninho cuitelinho e lhe faço de ninho... 


segunda-feira, 23 de março de 2015

2º round...




No q pensas ser o fim, reajo.
Meu corpo exausto vai a teu encalço
Olhar descalço sobre cacos de vidro
Repriso, repenso, piso até onde posso

No fundo de teus escuros te possuo
vasculho de todas as formas tuas formas
e te perfuro, e me procuro, e me esfrego
de encontro a teu mundo me entrego

Ave louca gozas pairada sobre o nada.
Levitando sonho e te acompanho.
Uma estranha felicidade cruza os céus
e me larga no colo do teu sorriso...

quarta-feira, 18 de março de 2015

Cama de gata... Tecidos plurais...




Com sede lambeu gotas de poesia na própria pele
Aninhada deixou-se levar nos sonhos, os mais estranhos; 
de todos os tamanhos, credos, cores e pontos em cruz.
Extasiada, coração em disparada, suspirou.
Despida nas fantasias sussurrou o nome de seu amor.
Temendo perder a conexão abraçou a si mesma,
deitada na cama, esquecida dos medos, coberta de calor.
Com mãos molhadas de sexo percorreu caminhos inversos
Reflexos despertos vasculhou desejos acuados no tempo.
Aos beijos deu-se em boas vindas...
Girando afoita, metida entre gozos, preenchida de vida...


Philo pq Phebo...

Estava no banho.
Pensava em nela.
Olhou a luz entrando pela janela
Achou q fosse ela.

Na hora pensou: pq não era?
Se era ou não era,
fosse verão ou primavera
era dela a inspiração.

Sabonete na mão,
após demorada reflexão,
continuou ensaboando
cantigas pelo corpo...

terça-feira, 17 de março de 2015

Manifestación del amor…

Invades mi mundo
Aventurate en el inframundo
Lame lo que es impuro

Desnudate! Sacudes los mundos.
Encontrarme! Encontrarse!
Encontrándome en ti…

segunda-feira, 16 de março de 2015

Velas de voar moinho...




Medos a rimar
Remos ao mar
Ondas e incertezas

O q será q remexe debaixo da mesa do ambulante?
Qual destino dar-se-á à Cervantes?
O câncer não dá sossego um só instante.

Na volta do moinho
curvas em redemoinhos
desfiam horizontes

Nos olhos d’água velas se enlaçam no mar.
O cheiro de terra molhada gruda no corpo.
Rastros incendiários cortam escuridões.

Enquanto remos sacodem rimas,
ventos sopram águas bailarinas,
dançamos em acordes de sol...


sábado, 14 de março de 2015

Manifestação de amor...

Invada meu mundo
Passeie pelo submundo
Lamba o q existe de imundo
Dispa-se! Revire mundos
Descubra-me. Descubra-se
ao me descobrir em vc...

quarta-feira, 11 de março de 2015

A batatinha do santo Antão...




Batatinha qdo nasce
faceira se espalha em ramas
Sem saber como se ama esparrama
sonhos de grinaldas pelo chão

Cabrocha qdo é de rocha
desabotoa-se dengosa
Em laços e carícias desabrocha
a par e passo com a emoção

Face ao q gosta, e goza,
faz-se viçosa com perfumes de rosa
Rompe fronteiras, quebra espelhos
e a imagem de santa de então

Aliás, já não é mais segredo
Há tempos não trás papai no bolso
Mamãe, com todo respeito, nem sabe
em q parte do corpo bate seu coração

Ao fim de cada dia vai dormir
sem fazer preces à virgem Maria
Com alegria agradece as vitórias
e conquistas ao santo Antão

Nunca se viu tamanha devoção...







Vitória de Santo Antão é um município brasileiro localizado no interior do estado de Pernambuco.
Santo Antão, também conhecido como o santo Eremita, foi um santo cristão. Segundo relatos viveu até os cento e cinco anos.

terça-feira, 10 de março de 2015

A fantástica fábula das andorinhas...



No reino das andorinhas os pesos têm a mesma medida.

Não existe mistérios no ministério da justiça. Ela é real e a todos igualmente estendida, se merecida.

Se andorinha fosse Picasso não pintaria Guernica.

No reino das andorinhas dos peitos da rainha jorram o mel. Seus olhos são vitrais emoldurados por cílios e cios. Seu corpo um altar de sacrifícios, a refletir abismos, a estimular fantasias nos enlouquecidos mortais.

Quando empossada, com as mãos espalmadas o rei fez reverências com bem vindas saliências. Ajoelhado em seu colo lhe abriu as portas do reinado.

Andorinhas voam. Sabem q não cabem na pele da santa. Guardam-se e aguardam-se em segredo sem temer o faz de conta. No sol da meia noite do reino das andorinhas até Baryshnikov dança.

Todos cantam os encontros e dançam as despedida conforme a batida q abre a porta de suas esperanças.

Todos os dias, mal o sol desponta, no chacoalhar dos peitos da andorinha rainha, o rei colhe fábulas de Amélie Poulain...








Montagem sobre fotograma do filme “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, dirigido pelo francês Jean-Pierre Jeunet.

sábado, 7 de março de 2015

Suspiros de alcova...




Tua bunda
Inunda
Meus olhos
Faroletes

Sigo a risca
O corpo desliza...

Chego
Aconchego
Me recebes
Escorrego...

sexta-feira, 6 de março de 2015

Perfeita tradução da flor...



Você é poema. Sua presença
é canção q sinto prazer ao ouvir.

Na verdade você é mais q canção.
Muito mais q este poema q faço.
Muito mais do q lhe digo.
Muito mais q um jogo de palavras feitas
alimentadas neste estranho amor.

Colado no seu corpo poema
escuto canções q falam de luxuria.
Leio e releio teus detalhes.
Na tua abertura vejo a porta
aberta às minhas loucuras. Nuas e cruas.

Pássaro acompanho teus passos
Apaixonado lhe faço. Lá dentro, bem dentro,
toco com firmeza teu ventre.
Tuas entranhas me devoram.

Seguro em teus cabelos
tempero a boca em teus peitos.
O direito e o esquerdo.
Os carpelos saltitam na saliva.
Tuas formas têm sabor de vida.

Vida q encontrei em teus braços
Quando, no primeiro abraço,
fomos a fonte, a inspiração
de todo o nosso calor…

La anatomía de una flor…



Tu es poema. Su presencia
es la canción que me gusta escuchar.

Aunque, de hecho, es más que una canción.
Mucho más que este poema que lo hago ahora.
Mucho más de lo que te digo
Mucho más que un juego de palabras
hechas y alimentadas en este extraño amor.

A la deriva en su cuerpo poema
escucho canciones que hablan de lujuria.
Leo y releo sus detalles.
Veo en su apertura la puerta abierta a mis locuras.
Desnudas y crudas.

Pájaro acompaño sus pasos.
Después de unas pocas horas
encaprichado reparto las pétalos de su flor.

Dentro, muy dentro, golpeó con fuerza su vientre.
Sus entrañas me devoran.

Seguro en sus pelos sazono mi boca en sus pechos.
Derecho e izquierdo.
Sus carpelos hinchan en la saliva
Sus formas tienen gusto de la vida.

Vida que encontré en sus brazos
cuando, en el primer abrazo, fuimos la fuente,
la inspiración de todo nuestro calor...

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sem escalas...

No começo
Tocavam-se
Parte por parte.

Sem q notassem
Criaram asas
Voaram pela tarde

A tarde inteira
Inteiros
Por toda parte...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Lindeza...

Quem disse
que o amor é lindo?
Lindo é vê-la,
olhos fechados,
pedindo: vem!
Estou indo...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Meu querido Paul...




Sobre o tapete tirou a roupa
boca colada na outra.
De forma louca pôs-se a viver
Cansada q estava de tanto sonhar.

De lá prá cá
deu de cantarolar chico.
Ao lado de Leminski
visto um milhão de coisas.

Vida passada em close
Provou-se no q tanto queria.
Não fosse isso, nem por isso seria menos.
Só não seria quase, posto q já é tanto...






Paulo Leminski é um escritor e poeta brasileiro nascido em Curitiba.

Casulo...



Dentro da casca havia um jardim.
No quintal brotavam lembranças
onde a esperança vinha se alimentar.
Um vestido feito de rendas
dançava estendido no varal.
Dentro de casa um perfume floral
Uma roupa de dormir q fazia sonhar...




Montagem sobre foto de Helen Warner

domingo, 22 de fevereiro de 2015

21 de fevereiro...




A tarde fez-se dela
Pinturas sobre a tela
Mistura de primaveras
nos lençóis de verão...

Por respeito o mar fez silêncio
O vento parou o tempo
Não se deu tempo do tempo
Nem partiu-se na despedida...

Quando a noite chegou
só encontrou
um punhado de sorrisos
deixados pelo chão...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Idas bem vindas...




Ventos do norte e do sul circulam pela praça.
Custa crer tanto q tentam se meter entre eu e vc.
Por certo não me vêm dar voltas em tua cintura.

Certo é q, acima de todas as coisas,
mto além da louca, qq coisa doida bate forte
qdo explodes na madeira sacudindo a nau.

Nada mal. Sinto firmeza em tua desenvoltura.
Nos montes de Ida não penso na volta.
Nem é preciso. Respostas se reportam no tempo.

Argonauta sopro ventos. Aumento o volume do fado.
Embarco o argo e me aventuro pelos mapas
sem amarras, preso às correntes de tuas águas.

- Gracias por no usar enaguas!







O monte Ida é a mais alta montanha da ilha de Creta, Grécia. Lá se encontra a caverna onde Zeus nasceu.

Segundo a mitologia grega, Argo era o nome dado à embarcação usada pelos argonautas em suas aventuras.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Milady... Milorde...




- Boa noite Milorde!
- Às suas ordens milady...

- Quem sou eu para tanto?! Respondeu milady com sorrisos nos olhos.
- Quiçá possa mostrar o qto é tanto. Completou o drácula.

- Não é para tanto. Não ordeno tarefas nem ao meu companheiro. Por sinal um tremendo gato. Que dirá ordenar a quem pouco conheço?

Milorde nada respondeu.

Suas linhas a traiam. Linhas q atraiam contradiziam tdo o q milady acabara de dizer.

Lindas linhas labirintos. E nem faziam referência, com a devida reverência, as linhas poéticas.

A gargalhadas milady olhou nos olhos do Drácula, a quem chamava milorde.

- E o q sente? Atração? Desejo?
- Melhor resposta tem o beijo...

Por definição não definiram desejos. A emoção falava muitas línguas.

Sem discutir filosofias pintaram telas de alegrias.

Ali, sem salvador ou mona lisa; sem rogar testemunho de nenhum jeová, deram-se ao tempo.

Felicidade bastava...







Fotograma do filme "Conde Drácula", de 1931, com Bela Lugosi e Helen Chandler.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Rendilhas do quase segundo...



Retalho, quadro a quadro,
remendos na parede do quarto.
Retoco recados com a ponta dos dedos.

Reflito. Respeito paciência talhada.
Recapitulo ao acaso. Registros são atalhos.
Rebentos movimentam ventos.

Renasço réptil na dália q respiro no talho.
Reacendes larvas com brilho nos olhos.
Revolúvel tesão ambíguo.

Reconheço: reverencio teus recantos.
Revivo. Revisito teus olhos.
Remexo tanto q atrevo hablar esperanto.

Renego remorsos. Revogo o ócio.
Reforço ossos. No rei posto
rebolas rainha no meu carnaval.

Releio o resumo.
Rezo para q releve o banal deste reles canto.
Repenso. No q penso refaço cazuza.

Rendido no escuro de teu mundo
reescrevo o quase de cada segundo.
Rebendito cardápio q te agrada...







Retoque no fim com leve ton de “Quase Um Segundo”, letra e música de Cazuza.

Rendilha. Tecido de malhas abertas e textura delicada, cujos fios se entrelaçam formando desenhos. Rédeas em couro cru, cuja finalidade é arquear o pescoço do cavalo durante a doma.

Rebendito. Mais que bendito; muito abençoado; felicíssimo.


Retenho tudo o q disse...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Nada a fazer...

Senão, mais uma vez, agradecer...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O colarinho de Martinho...



Nos arredores era um dos poucos q tinha colarinho impecável. Nenhuma dobra, linha torta ou mancha de batom.

O q não queria dizer q não fosse um escroto. Por sinal adorava uma vadiagem. Mas tinha cuidados redobrados para não arranhar sua imagem.

Assim era Martinho. Sempre querido por todas. Senhor de boa família, cujo sobrenome lhe favorecia a sangria. Poderoso afrodisíaco, tradicional sinal de garantia q usava sem parcimônia. Com fidalguia abria sorrisos e braços gentis, distribuindo quinquilharias q trazia das viagens q regularmente fazia para Rivera e para o Paraguai.

Astúcia tem asa curta q dura uma estação. A cada emoção se renova, como prova os bilhetes deixados com marcas sutis de batom.

Diferente da sedução q é rio caudaloso alimentado por afluentes de diferentes vertentes, de imprevisíveis correntes.

Quem sabe do éter entenderá as razões q faziam Martinho manter “um amor; fazer loucuras por uma mulher”, mas sempre calar ao vê-la encenar e ensaiar um aceno em outra direção.

Assessora para assuntos onde a barra pesada. Sempre prestativa e, aparentemente, devotada. Não tão jovem. Não tão velha. Mas eficiente e mto prendada. Ouvia a tdo. Aceitava tdo. Só de vez em qdo é q dava sua cartada.

Quem a conhecia sabia q a gravidade no aquário cria um mundo paralelo onde tdo é diferente. Sabia o porquê de um peixe vivo conviver tanto tempo com água jogada fora da bacia. Consultava o cardápio sabendo q entradas feitas no extrato abrem o apetite e o desejo no peixe frito.

Enquanto houvesse testamento e o apartamento da sacramento, haveria promessas de rendição. Para ela um nobre investimento. Para Martinho significava estar próximo da redenção.

Apesar das tentativas e de suas prerrogativas ela insistia em manter o rodízio. Circulação livre somente na perimetral.

A saber: troca harmoniosa de dedos no interior do dedal; uso adequado da meia soquete no bocal; meias-palavras acatadas com açúcar e com afeto; de resto tinha feitiço para evitar o enguiço e um ritual posto a serviço, conforme previa seu ideário.

Antes de o ano passar, como sempre fazia, ela ajeitou o colarinho de Martinho q admirou seu decote vistoso. Entraram com o pé atrás no outro. A despeito do ocorrido nos outros prometeram tudo de novo. 

Depois ficaram abraçados esperando o carneiro servido no molho madeira.

Ela, a sublinhar aparências, dava desculpas pela falta de carinho. Martinho, a se fazer besta, fingia ajeitar o colarinho.

Quem os via sorria e dizia terem sido feitos um para o outro...







Durante o trajeto incidência arriscada da canção "nervos de aço", do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues