sábado, 30 de abril de 2011

Elizabeth, the best... Janela Bishop...



Qdo Ptolomeu olhou o céu de Alexandria, por uma questão de ética, não ótica, se benzeu o qto podia. Até de forma exagerada, alguém diria, rezou cinco astronômicas aves a Maria. Olhou-se no espelho e viu Noel fazendo samba em Vila Isabel. Mais q depressa, pensando estar louco, começou a descrever estrelas em folhas de papel. Deu rodopios em um único giro e guardou constelações inteiras em papirus. Umas mais distantes, outras, q de tão perto, até pareciam fazer morada no brilhante preso em seu anel.

Depois veio Copérnico e o galante Galileu. E o tempo girou em seu redemoinho, misturando tdo de modo impreciso e inconcluso, deixando o pensamento perdido, sem abrigo no coletivo do mundo. Mata Hari dançou em suntuosas casas blancas. Piaf cantou uma verdade sem esperanças. Luther King sonhou, até q acordou no estampido da bala q calou o indisciplinado poeta inglês. O mundo então mergulhou em um escuro breu.

Oh my love for the first time my eyes can see...

Qdo ninguém parecia mais se encantar com czardas e um atônito Batman percebia sua audiência hipnotizada com a incognita sorridente do charada. Qdo nada mais parecia existir além da batucada dos metidos a bamba no samba de uma nota só e a bahia, depois de caymmi, caetano, amado e caribe, parecia não ter outra coisa para oferecer além da carnavalesca sonoridade acarajé com bobó.

Qdo o mundo, cansado dos banais quinze minutos de fama, achava q nada mais haveria de surpreendente, eis q a cor deu sinal de vida e começou a se arrastar lentamente no oceano em branco de sua tela.

Depois de alguns minutos outra cor se fez e seguiu em outra direção. Sem acreditas as pessoas se debatiam. Algumas até se agrediam. Mas, nada acabava a tranqüilidade com q seu peito batia no inquieto coração do pincel.

Com olhar silencioso pintava outra cor. Em seguida mais uma. E assim compunha versos q desenhavam quintais, poemas q plantavam lembranças quintanas nas margens dos rios q brotam de suas mãos.

Enquanto a emoção, furtando a cor, se abstraia nos rastros deixados para trás, o dia nascia no horizonte abstrato de seus belos movimentos. Subitamente um momento brusco irrompe o vazio e outra cor cruza o espaço com linhas inexatas e igualmente belas.

A arte repetia a vida com todas as suas cores e medidas. Ela seguia a desvendar o amor sem mistérios.

Santos Dumont desenvolveu o avião. Vadim recriou a mulher. O porteiro do prédio deu bom dia sem desconfiar quem era ela. E ela é. Elizabeth, rainha solitária de coloridos impérios. Das batalhas perdidas e esquecidas nas vastas florestas reerguidas. Uma mulher e sua arte fronteiriça bishop em uma beira da lagoa. Correnteza serena a percorrer o leito entre dois rios.

No brilho de sua janela aberta é possível imaginá-la passeando os pensamentos pelas paredes da casa. Quem dera o mundo aprendesse a enxergar, longe do breu, os sentidos de todo o colorido refletido na tela de seu olhar.



Oh my love / John Lennon e Yoko Ono

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Delícias caseiras...




De mansinho a tarde areava a beira a noite. Esta abria os braços e estrelava, acenando de volta, contado as horas para surgir no texto.

Sem dizer nada, e se sentindo largada, a lagarta foi desnudando a pele à procura da borboleta. Sem embaraço devassou cada laço em volta do casulo. Alguns desatou. Em outros se refez e desfez a verdade com ternura mórbida. Extremamente habilidosa abriu as asas e se soltou.

Gozou dando voltas no botão da rosa. Debochada desafiou a lógica de seu teorema.

Tudo se fazia como imaginou. Envaidecida se fez fogosa na tela de seu cinema.

Antes de adormecer agradeceu a delícia de seus demônios. Qdo amanheceu fez uma prece apressada, e nada mais.

Abriu um botão no decote. Fechou a porta.

Desceu a escada de forma rápida, sorrindo, seguindo as canções com seu jeito grã-fino.

Nem se preocupou em ver as noticias do dia no jornal. Em vez disso olhou se a estampa q usava combinava com seu astral.

Nada mais natural.

O medo de chapeuzinho nunca foi do lobo mau...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fé Jeca... Farsa afiada...

Passeio pela cidade. O cinza concreto esculpido com gárgulas conta histórias em estático silêncio. Cada passo é dado e esmiuçado, proporcional a razão de uma abstração q me retalhada em divididos momentos. Cada um em seu devido vento.

Pouco a pouco percebo algumas luzes começarem a acender nos olhos, deixando clara a aproximação da noite. Ainda assim percebo ser pouco para iluminar o q se esconde no esfumaçado brilho das vitrines. Muito menos conseguem atravessar as vidraças rabiscadas das casas e seus habitantes desconfiados, emoldurados e envelhecidos.

No verbo sem princípios escoro, por alguns instantes, os pensamentos escuros. Observo o jeito incerto dos ventos sem rumo e nem direção definida. A vida espalha ressecadas folhas mal escritas para longe dos tapetes.

Depois da chuva o frio provoca arrepios na alma viúva. O corpo em calafrios procura se proteger com o q resta de emoção.

Atravesso a rua com passos mais rápidos, decidido a não entrar no beco escuro e sem saída das ilusões. Subo a ladeira com passos lentos e a respiração acelerada, procurando observar os fragmentos da vida tatuados na calçada onde piso. Logo mais dobrarei a esquina sem saber o q me aguarda. A essa hora da vida corre riscos quem se arrisca a ouvir o uivo da alma.

Do alto da escadaria vejo a tampa do céu aberta sobre a torre de babel com seus quilométricos degraus. Poetas, seresteiros e enamorados, não digam mais nada sem amolar a faca. O silêncio pode não reluzir na boca de um tolo, mas a palavra, mesmo dourada, tbém é farsa de dois gumes... E um tanto afiada.

domingo, 24 de abril de 2011

Amém...



Em nome do pai a filha divertia espíritos tontos

Queima total...



Não castre. Não mate
Não cobre. Não morra
Rasga de vez a fantasia
Solta logo essa porra!

Não se desdobre
Dobre a criatura. Recobre!
Na batida a dama sacode
Na cama leve onde pode

Esfrega sem regra
Corre, mas vê se não foge
Quebra o q prega. Entrega!
Requebra q explode

Bate! Rebate! Esperneia!
Soca na veia. Faz arruaça
Derruba castelos de areia
Vem me enche de graça

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Bobeira de Pedro... Pendão da esperança...



Pedro não era pedreiro, nunca tocou pandeiro, sequer tinha o dom da navegação.

Em compensação sabia lamber no mel qdo entrava em um bordel, além de ser amigo do rei Manuel. O suficiente para ser nomeado chefe da esquadra lançada ao mar atrás de algum advento q justificasse os proventos e tanta bajulação.

E lá foi Pedro, o q não tocava pandeiro, todo faceiro a contar dinheiro e lorotas nas fedidas xoxotas embarcadas na santa maria, pinta e nina. Eram treze, mas apenas estas couberam na rima.

Entretido e cantando hinos e vantagens sobre o vasco, o da gama, demorou a se dar conta do qto estava perdido do caminho q o levaria para os encantos das índias.

Então, aquele q não era marinheiro, sem querer inventou o primeiro jeitinho. Tornando-se precursor do q mais tarde seria patenteado brasileiro.

Após quarenta e três dias de enjoos e vômitos dizia-se arrependido. Maldizia com o q lhe restava de pulmão seu cargo. Estava decidido a se jogar do alto da caravela, qdo ouviu o grito salvador:
-Terra à vista!

De imediato Pedro, o precursor, deu um salto e exclamou:
- Puta q pariu! Onde enfiei meu pé de pato?

Enfiado na peruca cheia de piolhos a lhe coçar a nuca, aliviado soltou uma solene bufa. Havia encontrado o Brasil.

Encontrou, mas não curtiu. Bebeu, se abasteceu de pau, depois partiu. Foi embora sem descobrir o feitiço das mucamas ou o canto de jurema fazendo juras de amor. Não dormiu ouvindo o rock q a mulata fazia no meio da mata, nem provou da mágica do seu rabo encantador de serpente.

Sem experimentar seu jogo de cintura no samba. Nem as pernas bambas de tanto ela ensinar mil e três maneiras de fazer neston.

Coube a corte representar o império neste lado do hemisfério. Para não se cometer adultério foi decretado não haver pecado abaixo da cintura ou da linha do equador. Em meio a orgias, para desespero do ouvidor, o interventor broxou.

Pensou... Cafungou... Pensou... Temeroso do vulto, dominado pelo impulso, dividiu sua fantasia em capitanias. A partir de então, consagrado o percentual, além das hereditárias o erário estava liberado.

Condes e viscondes serviam-se abertamente de seus capitães no mato. Damas assanhadas engatinhavam com os olhos arregalados no majestoso pelourinho de seus escravos. Desnudas e despudoradas perambulavam nas senzalas, enquanto seus senhores admiravam as bundas alegres na rua da praia.

Ainda bem q Pero Vaz já não estava por esses lados. O q não se viu nunca existiu. Negar é a primeira regra até hoje seguida. Até qdo se é pego com a mão na botija.

Maldita mídia q não deixa ninguém surrupiar em paz. Se o galo canta a culpa é da vigília...

Passados mais de quinhentos anos ainda não se descobriu a razão. Na praia de Ipanema, assim como tantas, viver era mais simples e a alma não era tão pequena. Depois do cinema mudo veio o novo. Só não teve Colombo para ensinar como deixá-lo em pé.

Sacomé, santo de casa só faz seus milagres nas cercanias de Bagé. No toró é de dar dó...

De curso em curso o brasil se afogou no próprio discurso. Nada muda. Nem mesmo se o grito da muda romper a casca do ovo. Começa tudo de novo como rebento de gonzaga.

Eu não mudo. Ela não muda. O povo não muda. Nem as instituições. Há quinhentos e tantos anos somos todos mundanos. E continuamos, salvo engano, em nosso ofício de negar os próprios enganos.

Salve-se, ao menos, o lindo pendão da esperança. Pq a moral...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Achados e perdidos...



Todo dia o sol nascia querendo despertar a bailarina adormecida nas nuvens. Para mtos parecia natural e rotineiro. No entanto, por mais absurdo q fosse, tdo o q o sol queria era se fazer especial para ela.

Ninguém entendia os motivos q levaram mulher tão bela viver daquela maneira. Ocupados em seus afazeres, sequer imaginavam os segredos q ela carregava e guardava entre as nuvens. Mto menos o q acontecia depois q o sol sumia no horizonte, deixando as nuvens na escuridão.

Alguns pensavam em desilusão. Outros em decepção. Mas, nada disso parecia ser a real motivação. Quem havia visto a forma sedutora q ela se exibia na janela, percebia q ela, aparentemente, não demonstrava o menor sinal de preocupação. Nem questionar ou entender suas razões.

Como de costume, em casos envoltos pelo véu do mistério, havia mta especulação.

Uma falava de abandono e certo soldadinho de chumbo. Com ele descobrira o amor e sonhava desbravar os íngremes desfiladeiros q compunham o seu mundo. No entanto a frágil magia de sua inocência se desfez. Sem suportar a visão do seu possível amor ir embora mergulhou numa tristeza profunda. Ainda menina guardou seu coração numa caixinha de música e a jogo em um poço sem fundo.

Naquele navio partia o q repartiria sua vida e mudaria definitivamente o seu destino.

Embora mantivesse os dons musicais, era uma bailarina diferente das demais. Havia nela uma íntima sonoridade q destoava da forma como costumava se mostrar. Mtas vezes travava uma luta desumana para não parecer inconseqüente. Um luta em vão, pois a força q fazia seu coração bater era latente. Nessas horas seu corpo fervia e a alma descontrola revelava o q havia de mais indecente.

Apesar das finas carruagens e dos ricos adereços q lhe cobriam de ouro e prata, gostava mesmo era das emoções baratas achadas nas noites vazias e tardes vadias. Emoções q lambia com fartas gargalhadas. Pouco importando se ecoasse pelas valas da madrugada, sua essência puta, perdida e feliz.

Ser ou não era uma linha q a dividia e ao mesmo tempo demarcava os limites de seus medos. No íntimo continuava a menina q crescera sem saber onde encontrar seu brinquedo preferido. Uma mulher querendo saber em q ponto da vida esquecera a ternura de seus encantos. E eram tantos.

Talvez por orgulho não se deixava banhar em prantos. Preferia as luzes da ribalta, pois se escondia em coreografias decoradas e adornadas com o q restara das flores colhidas no corredor do tempo.

Por isso a bailarina não conseguia se imaginar em outro lugar. Ali residia a única possibilidade de se encontrar. Nas nuvens não tinha a preocupação com rastros e nem com dores dos amores inconclusos e passageiros. O tempo tratava de deixar para trás. Embora, por mais q tentasse, não conseguisse apagar.

Assim ela seguia. Tranqüila, bela e adormecida. Sonhando com o dia em q o sol não mais lhe despertasse para a realidade presa às inevitáveis correntes e correntezas. Vulnerável e volúvel. Exposta aos imprevisíveis temporais.

A despeito do tempo e do verbo. Fosse ele um passado presente ou sem futuro, o tempo seguia indiferente a tdo. Entre achados e perdidos a vida continuava passageira e bela, como a nuvem e sua bailarina adormecida.

sábado, 9 de abril de 2011

Morte em vida peregrina...

Pouco a pouco o corpo
Sem sentido expele o oco
Lógica sem razão de ser
A vida segue rota incógnita
Dentro dela sigo eu

No mar morto a natureza
Sobrevive cega... Eu grifo
O ego grita e se desmancha
Verso sem eco ou esperança
Só louco amou... Eu amei

Vento anzol... Tempo girassol...



O vento soprara forte o tempo inteiro. Tanto tempo havia se passado. Qtas vezes haviam observado a febre cobrir de amarelo as pétalas do girassol. Seguiam juntos o movimento contínuo de um destino menino, com seus corpos banhados e entregues aos desejos do sol.

Giravam e reviravam largados em beijos feitos lagartos grudados. Suaves. Suados. Encaixados. Como o peixe entregue ao seu destino, diante da morte, com a boca aberta enfiada no anzol. Eles descobriram borbulhar em suas veias a química mistura da dor e do prazer.

Qto mais giravam mais e mais se entregavam ao q emanava de seu bailado. Até mesmo qdo surpreendidos pela abrupta chuva, se despejavam encharcados e enlouquecidos, sem pensar em nada q não significasse vida.

Soltos no vento. Perdidos no tempo. Desprovidos de pudor. Ela provava damascos na mão de seu carrasco, sentindo na boca um gosto agridoce de uva. Ele brotava em delícias, com seus dedos enroscados na umedecida da vulva.

Sem q ninguém percebesse, o tempo se vestiu de uma silenciosa devoção e o vento fez o mundo girar fora de órbita lá fora. Exatamente como eles.

sábado, 2 de abril de 2011

O tamanco e o saltimbanco...



No tranco subia os barrancos. E eram tantos...

Por sorte gostava de tango. Embora não soubesse tanguear sempre se deixou levar, enfeitiçado pelo modo dela dançar, e um insinuante olhar q misturava o vicio da sedução ao soluço do pranto.

Mtas vezes pensou em acenar, mas nunca soube em qual bolso havia deixado seu lenço branco.

Sempre sentado no mesmo banco, se contentava em vê-la solta no tablado. O mesmo em q tantas vezes lhe rendera homenagens ao ritmo frenético de um mambo.

Nunca soube entender seu hábito de se vestir de branco. O q levava as pessoas pensarem se tratar de algum pai-de-santo. Não gostava de sapato. O único q usara havia sido um bico fino em preto e branco. Preferia alpercatas, visto q não apertavam; ou sandálias, q dizia ajudar trilhar lembranças e suportar inesperados solavancos.

Depois de tantos sonhos, sentindo o cansaço de tanta espera, resolveu se entregar aos encantos da menina de tamancos.

Diferente da Barbarella, esta não tinha ar de donzela. Não fazia questão de ser a mais bela, nem fingia ser a Cinderela extraída de algum conto.

Apenas disse: Espera! Sem mais nem menos. Sem se preocupar em dizer o qto...

Embora, em parte, não concordasse, ele sorriu de soslaio. Sem dizer nada passou a dar pulos em volta da cidade como um saltimbanco. E pronto.

Nada mais há para dizer por enquanto. Conforme o desenrolar da história, algumas partes, quem sabe, eu venho aqui e conto...