terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mano a mano... Punta del pie...



Como pretexto o texto beijou a tarde por toda tarde. Na ponta dos pés roçou a alma desconfiada.

Na ponta dos pés sentiu o corpo dançar sobre cacos híbridos. Desenhou linhas afiadas nos saltos rígidos.

Na ponta dos pés sonhou com rumbas. De relance exibiu na bunda riscos e sorrisos de garganta profunda.

Na ponta dos pés sentiu-se leve, com o corpo em febre viu um mundo a seus pés. Só instinto sabia lhe fazer feliz...




Montagem sobre quadro “La Rumba”, 1937, óleo de Antonio Sánchez Araújo, pintor cubano.


Blindados querubins... Sangue e pudins...



Noites sem fim. Notas afins bailam plácidas em águas repletas de camurupins. Na mesma toada seguem os pássaros em feliz revoada. Batendo asas cantam loas na ribalta, sem levar em conta a mudança das ondas, nem de q forma elas sacodem o barco no mar.

Assim é a vida no entre e sai das salas de visita. Do por do sol do Guaíba aos desvios de rota no lago Paranoá. A aparente transparência da luz chega a cegar. O olhar não enxerga o q se apega debaixo dos tapetes, tantos são os fogos de artifícios riscando o ar.

De nada vale limpar os chacras em banhos de rio, se o futuro é tecido de fios sempre deixados pra lá. Por mais q se desdobre em dar ênfase ao efeito nobre, a copa não satisfaz a quem dá duro na cozinha. Talvez seja coisa minha. Mas, se quiser, pode perguntar para dona Carminha...

Tem casos sem jeito. Não tem fada madrinha ou vara de condão q faça o soluço passar. Sede q se sente bem rente, sem conseguir localizar. Por mais q tente, não se sabe como vai acabar.

O maior erro do jeitinho brasileiro é não se dar conta q uma mão nem sempre lava a outra. Dois pássaros voando, salvo engano, é sempre melhor q um sufocado na mão. Com tudo à mão é comum esquecer-se do vento q sopra na contramão.

Vendam-se os olhos aos aspectos genuínos para prestigiar os interesses consanguíneos. Subestimam os efeitos da marola. Ora bolas! Procura-se a solução sem a compreensão da extensão do q vem pela frente. É surpreendente o estado demente das conclusões.

Como prever o q reserva o lado oculto do rosto q espera, pacientemente, o outro tomar chá de ervas na imponderável noite de sangue e pudins...







Camurupim: praia do litoral sul do Rio Grande do Norte, formada por grandes arrecifes. Nome de origem tupi, q significa peixe pequeno. De coloração prateada e escamas grandes, o camurupim é comum na costa norte do Brasil.

Influência incidental da música “Sangue e pudins”, de Raimundo Fagner, cantor e compositor brasileiro.


domingo, 27 de outubro de 2013

Colher de pau... Nordeste vegano



Encostas firmes. Vigorosas
Ponta de dedos cravados
Entrelaçados em costas...
Carnes expostas ao sol, às sedes,
redes em um mar de rosas.

Enfurecida, a natureza sacode.
Lambe fendas, oferendas na rocha.
Eclode nua. Na pedra dura explode.
Fornica. Festeja. Lampeja.
Piruetas em repentinas ondas.

Não espanta tamanha força q suporta
a trama, a sanha, o mar descontrolado
que arde, bate, espraia, vai e volta.
Coabitar desfigurado... Reviravoltas
no pulsar da veia horta...

sábado, 26 de outubro de 2013

Punhal berimbau... Camafeu pagão...



Olhar leviatã, azul imã de luar turquesa. Beleza poética. Magnética luz burlesca de dialética francesa. Madre de cios, em beiras de rio se faz presa do deus vadio estampado na face oculta de seu broche.

Musa indecorosa arrasta-se com seus fantasmas em margens opostas com sibilar de cobra. Na linha silenciosa de seu decote arma o bote. Com o mesmo deboche se posta felina. Só baixa a guarda qdo aguarda e se afaga em dulces gracejos de corar messalina.

No q transpassa os olhos da máscara esquece a rima. Pele cítrica laranja lima faz mímica no corrimão. De cócoras urina na própria sina, com ar angelical, cheia de más intenções...


domingo, 20 de outubro de 2013

Origami...



O q preciso
É precioso
Gozo de vida
Submissa a tudo
Que é Majestoso.
É vice e versa
E o q versa
Entre linhas
Sem o limite
Do contorno.
É sintonia
em alvoroço...


sábado, 19 de outubro de 2013

La Goulue... Bom-bocado e arrecifes...



Em ti floriu minha natureza mais generosa. Alma desgovernada amarrada a feixes de fetiches, bom-bocados atracados em teus arrecifes.

Debaixo dos véus vislumbrei meu tão esperado céu. Em tuas ancas dancei cirandas. Fiz miçangas com os anéis de teu saturno.

Viajante noturno. Poeta embriagado e sem bússola. Enxerguei-me no espelho q trazias escondido entre seios oferecidos no vistoso decote de tua blusa.

Assim te povoei e me levei por tudo o q via e pelo q apenas intuía. O q não morava na filosofia corria campo sem rima. No galope crioulo em galpões nativos. No fogo farto de égua fogosa. Nos versos de prosa parida na paixão.

Sem noção do exato ponto de partida, nem rota definida, dependurado em galhos, qual macaco demonizado, me enfiei em tuas mãos, com as minhas em tuas cumbucas.

Noites iluminadas por indecorosas propostas arranhadas em tuas costas. Noites expostas aos delitos. De olhar aflito enfeitiçado pelo aroma de tuas folhas de árvore frondosa.

Eras formosa como tudo q goza. No corpo, no botão em rosa, o ponto de fusão entre o masculino e o feminino. Inferno e paraíso. Afago rabiscado no guardanapo levado pelo vento. Punhal rasgando a poesia de uma canção em dois tempos.

Em tempo: Não havia casa. Não havia jardim. Havia vc em mim...






La Goulue. Apelido dado a Louise Weber, popular dançarina francesa de Cancan. Destacou-se entre as dançarinas por levantar as saias, deixando à mostra suas rendas íntimas. Tinha por hábito beber o conteúdo dos copos dos fregueses, o q lhe valeu o apelido de "gulosa".

Bebop é uma corrente do Jazz originária do Kansas, EUA. Sua melodia ágil e veloz se assemelha ao som produzido pela batida de martelos na construção de ferrovias.

No final, incidência musical de “Uma canção em dois tempos”, de Vital Farias. Compositor e trovador nascido em Pedra d'Água, município de Taperoá, estado da Paraíba.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Corredor da morte... Grunhidos prima-dona



Debaixo dos lençóis Carla grunhe em sonhos de um amor em chamas.

Debaixo da cama sapatilhas descansam o andar dedicado à prima dona.

A febre sacana cospe na face a lógica da lhama. Em guarda aguarda a tapa. De soslaio oferece o sorriso e o dorso. De um jeito peculiar, igualmente primoroso, se faz montaria. Braços estendidos em cordéis de famintos se autoproclama rainha das ramas.

Com voz trêmula se expõe à prova. Desafia-se em venturosas romarias. Suas carnes moídas confessam pecados.

“Esquecerei as lágrimas e dançarei. Queria que aquela época abençoada tivesse sido mais longa do que foi.” 

Em clarins desperta poesias. Algumas dedica às estrelas q espiam sua nudez na janela.

Em um estranho dialeto - q diz ser mandarim - a boca da noite lhe suga o corpo. Estremecida esquece os percalços e, de pés descalços, me chama.

Debaixo dos lençóis Carla afina a voz e os anzóis em q sangra...






Trecho incidental da canção “Afternoon”, de Carla Bruni, cantora e compositora franco-italiana.


sábado, 5 de outubro de 2013

Mistura em gotas d'água...



Tomava banho sonhando primaveras. Levada pelos ventos, dessa vez tomou seu banho de um jeito diferente, inconsequente, sem aparente razão de ser.

Na verdade nunca quis decifrar equações. Menos ainda se apossar das razões. Queria, sim, embriagar de emoção, sua única razão de viver.

No corpo ensaboado sonhos multiplicados. Sentidos teclados em canções sussurradas, em novelinhos. Órgãos divinamente oráculos. Composição harmônica. Arranjo afinado à orgástica valsa tocada em nome do Senhor.

Com sorrisos de tesão conspirou com os astros. Ainda molhada deitou seu corpo. Fatal postura fetal. Olhos fechados em tanto lume, sem a certeza de nada, e ainda sonhando com valsas se aventurou.

A felicidade tinha seu perfume...




sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Uns zuns...Outubros em outros...


Amai-vos uns aos outros.
Eu, tu, eles e elas... E os outros?
Eu ando. Tu chamas. Ela difama.
No 'nós', a sós, quem faz drama?
- Amarrai-vos sem medo da lama!
Disse o catador de caranguejo,
sujando o corpo da dama.
Eles debatem, até se batem,
mas sabem q amar é chama...






Com a legítima intromissão de João, capítulo 15, versículo 9

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Catolé de Chico... Cafundó de Baudelaire...



“Deus é o único ser q, para reinar, nem precisa existir”. Baudelaire


Se Baudelaire tivesse nascido em Catolé dos Rocha da Paraíba, teria aprofundado sua teoria sobre as flores do mal. Com isso, quem sabe, encontrado o motivo de ser no talo q rosa exibe seus espinhos.

Teria tido “tenência” e a devida paciência de medir os passos antes de entrar na valsa de Serafina. Rapariga fogosa e lenheira, q passava o tempo alimentando fogueira. Dadivosa, mas perigosa, igual rasteira de cobra em lomba na noite sem lua.

Se acaso tivesse criado calo em cabo de enxada, saberia amarrar piaçaba em rabo de cadela atrevida. No lugar de um “ondêroque” entornava a “mardita”. No banho de bica lavaria a “pica” em boca de fêmea parida.

Bendiria casa de chão batido. O sabor do leite mamado em vaca de juízo encardido.

Rodava o mundo no rela bucho. Pinote de garrote em cangote de puta grã-fina. Encheria a cara de rima. Faria toada, gargarejando embolada, com tocador de chamamé. Decifraria a filosofia de "tomé com bebé" e a utilidade pública da “otoridade” do cabo zé.

Se Baudelaire tivesse ajustado a batida dos sinos. Quem sabe mudasse a senha, a reza e a sina. Teria dado ouvido a Silvio Brito. Escutado Chico César dizer o q fazer para tocar o coração de uma mulher.






Baudelaire foi um poeta francês considerado um dos precursores do simbolismo, fundador da tradição moderna em poesia. Em 1857 lança o livro “As flores do mal”, com 100 poemas. O livro é acusado de ultrajar a moral pública.

Chico Cézar é um cantor e compositor brasileiro, nascido em Catolé do Rocha, Paraíba

Silvio Brito é um cantor e compositor brasileiro, nascido em Três Pontas, Minas Gerais