sexta-feira, 30 de maio de 2014

Curvas certas em sete linhas tortas...



Solta das cordas acorda bamba.
Dá voltas e mais voltas. Revolta-se,
mas logo volta o pensamento
para o lugar onde sabe se entorta.

Já não se sente estranha nas entranhas do seu nó.

Em silêncio suporta. Grita qdo goza.
Como prova seu sabor...

terça-feira, 27 de maio de 2014

Divinas manhãs suicidas...



Divinas e brancas ancas da mulher amada. Montanhas erguidas no sopé macio de coxas q se prolongam pelas vastas e oceânicas curvas dorsais.

Exibidas com porte potranca e inquestionável beleza Gioconda, galopa pelos vales de minha morte com versos Bocage.

Uma a uma me desvenda nas estrofes de suas carnes...

Do sedutor olhar flamboyant a inspirar libidos, aos pentelhos centeios espigados; arbustos de flor exuberante, onde o sutil beija-flor transpira adúltero no olor do colo em vertigem.

Endiabradas manhãs em q a tenho amordaçada...

Rendido em seu aroma, razão de tantos fetiches, grifo o viço de primaveras em graves tonais. Acentuo-me agudo, degusto a vida e lhe dedico meu poema suicida.

O vento sopra em todas as direções. Ela escuta sem saber de onde vem, nem para onde vai...


Em tempo:
Raimundo Fagner certa vez cantou: - Quando ela dança os passarinhos ficam mudos...

Quando rebola causa tremor, em terra firme, em alta escala.
Se Mister Richter a visse, certamente perderia a fala...






Bocage. Poeta português representante do arcadismo lusitano.

Arcadismo. Escola literária surgida na Europa no século XVIII. Seu nome é uma referência à Arcádia, na Grécia antiga, tida como ideal para a inspiração poética.

Raimundo Fagner. Cantor e compositor cearense.

Charles Richter. Sismólogo q desenvolveu a escala q quantifica a energia liberada pelos terremotos.

Montagem sobre a obra “Figura em azul”, de Tarsila Amaral.

domingo, 25 de maio de 2014

Ópera em luar na escuridão...



Encontro às escuras. Desejos às claras.

Resvalo entre palavras cruzadas no banco da praça. Olhares imersos em outros tantos inquietos. Curioso charme manifesto na nada discreta hipocrisia.

Corações em trânsito circulam livres pelo passeio. Pensamentos soltos no ar.

Parado diante da vitrine o casal tenta ocultar as provas de seu crime.

No canteiro central da alfândega o religioso negocia a exclusividade pós-morte com chavões de se achar a graça. Sob o olhar desatento da brigada o cidadão reivindica o direito de vender o novo dvd do Rappa. 

Mendigos mendigam...
Alternativos se alternam...
Transeuntes se estranham...

Na rua da praia o artista de rua canta “Strawberry fields forever” cheio de interjeições e expressões teatrais. 

"Living is easy with eyes closed
misunderstanding all you see
it’s getting hard to be someone
but it all works
out It doesn't matter much to me"

Tempo coberto por longas conversas. Beijos misturados ao mate e alguns rápidos comentários sobre a queda da safra do tomate. Desconversas. Calor de primavera. Era dele e dela, sem qq testemunho ocular.

Depois de alguns sorrisos e reflexões sobre invasão de privacidade, despediram-se sem pedir fidelidade, nem medir as graves consequências da felicidade.

“É fácil viver de olhos fechados, sem tentar entender o q se é, nem o q se vê. Na dificuldade de ser, ao menos faça com q tudo funcione bem.”

Ele dobrou a esquina. Ela permaneceu calada.

Agora postada à entrada do banco da Dona Lilly Safra. Ela e o boneco feito com pedaços do pano usado, conforme a lua, como mordaça... 







Montagem feita sobre o quadro “At the Edge of the Brook/ Na borda do ribeiro”, do pintor francês William Adolphe Bouguereau.

Ao final uma tradução livre e pessoal de trecho da canção “Strawberry Fields Forever”, de John Lennon. Inserida com rápidos acordes entre as meias do texto.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A fina flor Sarandi...



Céu nublado. Recheios. Anseios. Chumaços.

No vácuo das nuvens reconheço os rastros da estrela ardente. Observo suas tentadoras formas atento à forma como ilude meu olhar.

Caminho no alpendre à entrada da estação. Os sofisticados detalhes em madeira rústica sugerem um passeio pela década de 20.

Meu peito bate sem perceber q me reparte. Antes q mude de idéia, ou fique tarde, subo no trem q parte às 11 horas, horário de Catende.

No bolso, em um guardanapo de papel, o bilhete assinado com batom me diz tdo q preciso ouvir. 

Pela janela tudo passa acelerado. Na poltrona ao lado Saramago finge dormir. Mastigo um pedaço de chocolate de sabor amargo.

No boca teu sabor riacho. Aromas de vinhedos q vinha debaixo da saia. Tuas fronteiras desprotegidas. Teu viço. Teus seios atrevidos.

No apito do trem minh’alma felina saltimbanca nas lembranças de tuas ancas. Trago as palavras escritas no teu corpo na ponta da língua.

Do outro lado do mundo sigo pensando ti, linda flor de Sarandi...





Sarandi é uma flor que cresce às margens dos riachos afluentes do rio Passo Fundo, e q deu nome ao município gaúcho. Catende é um município de Pernambuco, a 142 km de Recife.

sábado, 17 de maio de 2014

Entre cortes e costuras...



Um antigo manuscrito em alemão havia sido encontrado na trilha q conduzia à virilha, nos países baixos. 

Quando a notícia chegou a Versailles foi recebida com entusiasmo e respeitoso silêncio. O diplomata, com elegante subserviência, nem pestanejava. A dama de companhia, diplomada em vigílias, mal escondia sua satisfação.

Por um longo período havia sido utilizado como o calço na pesada porta de entrada do salão de orgias, onde a monarca despachava e agraciava com dóceis indultos aqueles q a serviam com alegria. Nos arredores de sua saia formavam-se babados enfileirados em uma extensa e sonolenta romaria.

Em geral veados são felizes. Embora nunca se saiba o q se passa durante o longo período de noites frias. Os sapatos, entretanto, não importa o tamanho, qdo tingidos de macho quase sempre guardam rancor.

Na baixa o sapateiro enxugava o suor e a lágrima. Em tempo de construção, no baixo meretrício a moçada q não pegava no tijolo atravessava a madrugada pedindo bis...

Infelizmente o preconceito é mal de raiz. Nenhum samba diz, mas, cantando bossa nova a família torcia o nariz para a liberdade explícita em Leila Diniz.

Não. Não é engodo. Todo vestido novo causa estrago no olhar devorador aguçado. Mesmo brilhando no couro sapato novo costuma fazer calo. Por outro lado o veado desgovernado faz bico refém das incertezas da natureza.

Es gibt nichts Neues. Alles ist vorahnung des tiefen.
Alles bleibt in der dunkelheit in der Lücke zwischen den kontinenten...

Arrastando o pé esquerdo por causa de uma anomalia de nascença, Dona Maria das dores servia com simpatia café com biscoito aos atuadores.

De tudo ela via da coxia. Nada a espantava. Só nunca entendeu qual a beleza em se medir horrores...

Quem sabe um dia ela confessa o tanto q ainda preserva escondido na dispensa.

Não há nada de novo. Tudo é presságio de abismo.
Tudo permanece escuro no espaço entre os continentes.

Excusez-moi mademoiselle, vous voulez un peu de thé?






Montagem sobre a obra “Dans l’eau”, de Eugene de Blaas, pintor italiano.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mãos no asfalto... Paçoca na carne...



No alto do morro o pavão canta na missa do galo. Abaixo da linha da misericórdia exibe ramificações presas a exuberante calda multicor. Entre às pernas o fuzil exibe a grife de combate.

Na mão direita um frenético ioiô. Na esquerda um oráculo em braile. Canções de vitória grifadas no exílio, entoadas no grito.

Luta inglória. Revolta q não se desnuda. O país recita Buarque, é bem verdade, mas baixa a crista e tampa os ouvidos ao q diz o Senador.

Derramado no asfalto o cheiro de esgoto invade os carros blindados parados no farol. O garoto esfrega detergente nos vidros.

Assusta tanta liberdade...

A cidade congestionada engole sobressaltos. Com extrema facilidade elege o cristo. Depois posta sua versão no tablet. Em resposta Roger Rabbit logo curte. Felisberto exibe o topete. Renan o look.

Por respeito à babilônia o congresso lembra Hollywood. O vermelho nos tapetes da fama não combina com o q se pinta nas ruas.

Da janela do apartamento o homem se joga louco de amor. Em outro se ouve o piano de Thelonious.

Alguma coisa Coltrane me conduz por “Ruby, my dear”.

Nas escadarias a madre curiosa exibe ex-votos e engole a seco a hóstia e sua história. Em sua razão mais generosa veste as cabeças com a pele da ingenuidade. Passeia nas manhãs de domingo no parque e, investida do hábito, semeia selfies com sobriedade.

O tempo passa rápido. O tempo muda os móveis de lugar. Cantarola. Remexe na caçarola o dente de alho. Depois da janta declama na cama seu desejo de áreas.

Do outro lado da lagoa escancara o outro lado da moeda. Lambe taças na adega. Navega com seus lábios tintos. Na boca do túnel emerge Afrodite. Diante da adaga indaga por qto tempo a carne suporta o corte sedutor da navalha...

Ao passar defronte a igreja faz o sinal da cruz, sem notar o olhar transeunte a lhe mendigar a carne.

Certo estava quem falou q vive-se por dom ou por arte...





Ruby, My Dear. Música de Thelonious Monk. Ruby é Rubie Richardson, seu primeiro amor.
Thelonious Monk. Pianista e compositor norte-americano, famoso por seus improvisos e estilo de tocar. John Coltrane. Saxofonista norte-americano, considerado o melhor sax tenor do jazz.

sábado, 10 de maio de 2014

Olhar de campina...



Deu voltas e mais voltas em volta dos muros do castelo erguido no único espaço oculto da campina.

No fim da tarde viu a ave de rapina planar seu olhar volteado de foice. Sem dizer nada adentrou na noite como única saída.

Quando a viu sem lua soprou brisa suave e lhe tirou dos sonhos. Percorreu suas paisagens secretas. Descreveu loucuras na curvatura e imensidão de suas asas.

Do outro lado do medo havia delicias, carícias e alguns rituais de prazer.

Abriu janelas. Escancarou a porta. Cantou a vida apaixonada.

Na noite em q se fez lua saiu pelas ruas iluminando paixões...


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Laços de embalar campônio...




Campônios aram a terra. Úmida eclodes luma em colibris.
Meu corpo fêmeo se ajusta efêmero em tuas formas justas.
Consultas o relógio. Não é de hoje q o tempo anda confuso.

Tomado pelo dilúvio encontro a lógica no buquê de bicos rosa.
Lá fora ouço a música feita de buzinas e roncar de motores.
Aqui dentro odores de carne grudada. Lúbrico amor em pelo cru.

Coberto de flores semeio outras cores no horizonte quase oliva.
Envergas as pernas. Entregas. Às cegas palpitas em braile.
Bailo no corpo arado. No ar o perfume do teu cheiro caju...




Montagem com cajus, frufrus e a obra “Semeando a Semente” do escocês Samuel Bough