quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Lição de ótica... Ilusão de ética...



Regada a regalos a poesia aduaneira floreia jardins, jardineiras e roçados.

Na pedra do rosário o passo acelerado da pátria causa rebuliço. No tremor a terra divaga sobre o precipício social. Em toques de flauta forja a fábula com alvissareiras palavras, notadamente as de boas lavras.

Propensa a tangos condena às farpas o q delata a fragilidade d’alma. Condena, mas fomenta a fauna com disfarces de fada. Só não se apercebe q a paga vem a toque de valsa, na caixa de sua ilusão.

Sem noção de aonde quer chegar esconde os sapatos com refinado status subliminar. N’est ce pa? Mademoiselle de incansável voejar... Au revoir... Comme sa! Comme sa!

A bordo do erário pudico saboreia petit gatoux. Na alcova de Almodóvar ensaia gestos vestais balanceados em buquês de Bordéus. O olhar art nouveaux não titubeia. Nem na hora de pestanejar.

Justiça seja feita! De olhos vendados é difícil tecer algum juízo ou saber aonde tdo isso vai dar...

Diante dos desmandos, por baixo dos panos Duran confidencia: “se pensas q pensa, estás redondamente enganado”.

De fato, salienta Duprat: na inclinação da curva é q se dimensiona a intenção do rebolado, a estatura do salto, a extensão do mandato...





Trecho incidental de "Hino de Duran", música q compõe a "Ópera do Malandro", de Chico Buarque, baseada na "Ópera dos Mendigos", de John Gay.

A região de Bordéus, na França, é a segunda maior área de cultivo de vinhos no planeta.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Magical mystery tour...




Meninos e meninas cantam. Na ponta da língua traduzem o q dançam. No trânsito enlouquecido de vênus, se esfregam em versos na ponta dos pés. Na boca o gosto indecoroso de linguagem universal.

Seduzem à velocidade da luz. Galopam andaluz, fadas e faunos, à meia luz. Bem aventurados vendados beirando estradas.

No conforto das almofadas fazem graça. No meio da praça acalentam suas desgraças em valsas de andorinhas.

Meninos e meninas aprontam. Montam-se ou desmoronam conforme a relevância, a discrepância da pompa e a elegância circunstancial. Confrontando semáforos exibem semânticas. No sinal verde avançam, para alivio de seus fardos, no encantado reino onde habita o animal.

Aos beijos acompanham a banda. Bolinam buarques por todos os lugares. Redescobrem luares na palma da mão, passarinhando Quintana q não passa, meninos e meninas q são...





Magical Mystery Tour é disco trilha sonora do terceiro filme dos Beatles, lançado em 1967, no formato long-play.

domingo, 17 de novembro de 2013

Receita quase imperfeita...



Tinha amoras mundo afora. Caquis em cachos dependurados nos caibros. No alpendre uma serpente coral. Esquecida na prateleira um pote vazio de brilhantina glostora.

Tinha hully gully, pistácio, manchas do glory hole na gola. Lá fora escoras. Palavras inclinadas no crepúsculo desfiguravam a seda nas asas da lagarta. Cadelas a virar latas. Biscoitos de nata feitos pela mulata Dora. Carícias no suco de frutas colhidas nos arredores da aurora.

Tinha caixas abarrotadas de sonhos de todos os tamanhos. Inquietação na estação. Inquisição de sabor estranho. Enigmáticas receitas. Estrelas de Madagascar.

Tinha o luar. Bilhetes debaixo da porta. Broches nos seios deboches. Cremes deleites no rosto. Varizes, valiseres... E o olhar hipnotizado no exuberante camafeu...








Hully Gully: dança da década de 60 inspirada nos ritmos e movimentos negros do início do século XX.

Glory hole (buraco da glória): buraco feito na parede para as pessoas praticarem sexo, anonimamente, utilizando os dedos, a língua e o pênis.

Glostora: Marca famosa de brilhantina na forma de pomada usada para modelar o cabelo. Da década de 50 até os anos 70, era responsável pelos impecáveis topetes dos fãs e cantores de rock.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Rainha no bolo... Cerejas do mar...




Entres cerejas sereias em mim. Serei meu princípio em teu fim?

Vermelhas meu olhar no desfrute do teu olhar fruto de pitombeira. Furtiva semeias teias nas veredas antropófagas destes mares tropicais.

Sem modos serpeias libertina no latejar das veias. Sapateias irrequieta ao som de satânicas trombetas. Nem percebes, mas falseias ao despir as meias.

No pomar de tantos sabores teu olor mistura-se às flores. Henriqueta assenhoras a noite vestida de lua cheia.

Primaveras meu quintal. Fagulhas a granel nos montes de tuas oliveiras. O olhar brilha. O corpo vibra. Brisas margaridas deitada no para-brisa. Com estranha generosidade expões tuas entranhas.

Assanhas entre colchetes. Vens à tona. Reinas no mar.

Sob o efeito de teu perfume respiro outros mundos. Pelas janelas transbordas caudalosa. Abro as asas. Meus demônios te agradam. Devoras-me o qto podes, senhora, fora de si.

Quando dou por mim te vejo sorrir, a despertar infâncias à sombra da aurora...







Henriqueta Maria de França foi uma rainha-consorte de Inglaterra, Escócia e Irlanda. Por ser católica era impopular na Inglaterra, o q impediu que fosse coroada. A execução do rei Carlos deixou-a na pobreza. Fugiu para Paris, regressando após a volta ao trono do seu filho mais velho. Tempos depois retornou a Paris, onde morreria.


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Apócrifos diálogos póstumos... (1)




Meu Diego,

Assisto calada ao estigma deste câncer q se espalha e me desintegra a cada instante q passa. Já não tenho dúvidas. Sequer carrego esperanças. A escuridão espreita as poucas cores vivas mantidas escondidas neste meu corpo sem vida.

Meu olhar sorri com a ternura q ainda me conserva a lucidez. Lambo as derradeiras gotas do desejo nas lágrimas q escorrem pelo meu rosto.

Apesar de tudo me nego a encontrar a chave q abrirá a porta da minha indesejada morte. Meu ventre pulsa com a lembrança do teu sexo melado no meu licor. Nem o cheiro impregnado de teu cigarro impede a mão firme dessa saudade q me invade.

Engulo as noites cheia de vida e graça. Desgraça de vida. Logo agora q começo a me sentir plena. Quero vc. Mesmo q não seja para sempre...

Sua Frida

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Minha Frida,

Tua presença amarga me atiça. Salivo tua existência. Contraceno com tua dualidade. Pela janela vejo q a boca da noite não tarde em abrir. Será q te vejo surgir entre estrelas?

Ontem derramei tintas de prazer sobre meu corpo. Tomado de tuas lembranças abri feridas. Tens razão. Desgraça de vida.

Esparramado na cama pronunciei cada palavra q me levava até vc. Por favor! Peço q não desista. Insista. Frida minha, tbém quero vc...

Seu Diego




Correspondência entre Diego Rivera e Frida Kahlo encontrada em escavações feitas no imaginário. Uma forte corrente defende a tese das cartas terem sido encontradas em um baú resgatado no incêndio das lembranças. Na verdade pouco se sabe...

No devido tempo outras cartas serão postadas, na tentativa de registrar a inexplicável dimensão de um sentimento q soube romper fronteiras, mas se mostrou incapaz de sobreviver à própria existência...




Boa noite cinderela...



Deu boa noite à poesia sem a pretensão de decifrar seus mistérios. Abriu os braços às estrelas salpicadas na sexta-feira ondulada em paixões.

Ah! O amor... Bicho esquisito como grafia de doutor. Leque aberto de múltiplas filosofias e salvaguardadas ironias. Marco divisor nos afeitos ao efeito devastador da vara do pescador.

Deu boa noite à poesia com pequenos gestos e atravessou a linha do seu equador. Usava brincos de colher primaveras, blusa em seda fina de alças amarelas. Com o coração em frangalhos e seios em rebuliço semeou feminices pelos jardins da praça.

Meio sem graça brincou de amarelinha. Com a pele corada flertou a joaninha, sozinha, perdida na imensidão do verde em folhas. Era ela e ela. Vida pincelada em aquarelas.

Deu boa noite à poesia sem conter o q já não cabia em si. Sabia q em algum luar um olhar lhe seguia os rastros...