terça-feira, 10 de junho de 2014

Sobrevoos...




Saio da sessão de Lamarca cabisbaixo...

Misturo revoltas, dou voltas e um nó no tempo. No centro a cidade mora na incerteza. Ruas infestadas de escuridão e olhares amargos. Sem mãe ou proteção de algum tipo de santo a escória incorpora o espírito do esgoto.

Sobram evidências. Falta consciência...

No batuque de pneus passando sobre saliências expostas no asfalto, cuspo na arrogância e nos avanços 'cybercontemporâneos' de nossa humanidade.

Vou pelas ruas à procura de ternura...

O pensamento insiste em repetir teu nome. Lembro as marcas do tempo no corpo delgado. Cada ruga, cada traço é um poema tatuado com a mesma escrita descrita em tuas asas.

Então mergulho no poema ainda por nascer...

De costas para a costa do mar o vento me faz passageiro de redemoinhos em tua órbita. Pontos delineados no sorriso ainda tímido traz esperança ao olhar cansado de tanto renascer.

Pouco importa se sonhas com querubins...

Na ponta do punhal sente círculos dando voltas por dentro do umbigo. Querendo provar os riscos me arrisco pelos quatro cantos de teus pontos cardeais.

A rigidez das vontades desprende tiras e mentiras...

Liberta te atiras de encontro à parede com a sede incrustrada na pele. Ainda zonza percebe no tempo um amante apaixonado.

Desta vez, ao adormecer, não quis sonhar com querubins...









Lamarca. Filme brasileiro dirigido por Sérgio Resende, baseado no livro "Lamarca, o capitão da guerrilha", de Emiliano José e Miranda Oldak.

Detalhe da obra “Sistine Madonna”, do pintor italiano Raphael.