quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Asas

Nasci sem asas nem coleiras, sem manual de instrução q me explicasse ou bula q alertasse contraindicação. Por teimosia ou ironia resolvi dar asas à imaginação.

Se fosse mineiro diria ser caçador de mim. Como sou de beira de mar a saída foi mergulhar mais e mais dentro de mim. Meio dono de mim fui meu princípio sem entender qual seria a lógica do fim.

Nasci no século passado ao som de pedras que rolavam vindas de Londres. Entre os acordes dissonantes de uma bossa nova e uma eletrizante guitarra mutante.

Cresci espreitando a vida nas pernas desquitadas da mãe de Lina. Com olhos miúdos li o Bhagavad ghita. Despenquei de ribanceiras. Trepei nas estrelas entregue ao 'Leo' q até hoje me habita.

Com a alma desarmada e sem dentes busquei o colo. Respirei a poesia tocando solos nas afiadas cordas da rima.

Depois de Gattes os deuses viraram internautas. A linha do horizonte desgovernada ganhou nova percepção.

Pura ilusão. A vida continuava sem receitas.

Nasci, vivi e vivo meu reinado sem trono, sem pátria nem patrão. Sem esperar por um deus que acuda. Sem carregar o irresponsável peso da culpa ou necessidade de encontrar desculpas para o q possa me atormentar.

Narciso não reflete lágrimas no espelho.

Assim, sem pai nem mãe, meio cético meio poético, atravessei meio século equilibrado na irreverente e divertida corda bamba da vida.

Infinitamente mutante. Profanamente romântico. Profeticamente cigano.

Ao sabor de um vento q não refresca nem acalma, mas espalha o cheiro de cio pelos mares, amares e rompantes.

Navegante neste inominável mundo louco sigo sem a certeza de nada, tendo somente o EU como porto seguro, sem saber se encontrarei meu cais...