segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Rendilhas do quase segundo...



Retalho, quadro a quadro,
remendos na parede do quarto.
Retoco recados com a ponta dos dedos.

Reflito. Respeito paciência talhada.
Recapitulo ao acaso. Registros são atalhos.
Rebentos movimentam ventos.

Renasço réptil na dália q respiro no talho.
Reacendes larvas com brilho nos olhos.
Revolúvel tesão ambíguo.

Reconheço: reverencio teus recantos.
Revivo. Revisito teus olhos.
Remexo tanto q atrevo hablar esperanto.

Renego remorsos. Revogo o ócio.
Reforço ossos. No rei posto
rebolas rainha no meu carnaval.

Releio o resumo.
Rezo para q releve o banal deste reles canto.
Repenso. No q penso refaço cazuza.

Rendido no escuro de teu mundo
reescrevo o quase de cada segundo.
Rebendito cardápio q te agrada...







Retoque no fim com leve ton de “Quase Um Segundo”, letra e música de Cazuza.

Rendilha. Tecido de malhas abertas e textura delicada, cujos fios se entrelaçam formando desenhos. Rédeas em couro cru, cuja finalidade é arquear o pescoço do cavalo durante a doma.

Rebendito. Mais que bendito; muito abençoado; felicíssimo.


Retenho tudo o q disse...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Nada a fazer...

Senão, mais uma vez, agradecer...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O colarinho de Martinho...



Nos arredores era um dos poucos q tinha colarinho impecável. Nenhuma dobra, linha torta ou mancha de batom.

O q não queria dizer q não fosse um escroto. Por sinal adorava uma vadiagem. Mas tinha cuidados redobrados para não arranhar sua imagem.

Assim era Martinho. Sempre querido por todas. Senhor de boa família, cujo sobrenome lhe favorecia a sangria. Poderoso afrodisíaco, tradicional sinal de garantia q usava sem parcimônia. Com fidalguia abria sorrisos e braços gentis, distribuindo quinquilharias q trazia das viagens q regularmente fazia para Rivera e para o Paraguai.

Astúcia tem asa curta q dura uma estação. A cada emoção se renova, como prova os bilhetes deixados com marcas sutis de batom.

Diferente da sedução q é rio caudaloso alimentado por afluentes de diferentes vertentes, de imprevisíveis correntes.

Quem sabe do éter entenderá as razões q faziam Martinho manter “um amor; fazer loucuras por uma mulher”, mas sempre calar ao vê-la encenar e ensaiar um aceno em outra direção.

Assessora para assuntos onde a barra pesada. Sempre prestativa e, aparentemente, devotada. Não tão jovem. Não tão velha. Mas eficiente e mto prendada. Ouvia a tdo. Aceitava tdo. Só de vez em qdo é q dava sua cartada.

Quem a conhecia sabia q a gravidade no aquário cria um mundo paralelo onde tdo é diferente. Sabia o porquê de um peixe vivo conviver tanto tempo com água jogada fora da bacia. Consultava o cardápio sabendo q entradas feitas no extrato abrem o apetite e o desejo no peixe frito.

Enquanto houvesse testamento e o apartamento da sacramento, haveria promessas de rendição. Para ela um nobre investimento. Para Martinho significava estar próximo da redenção.

Apesar das tentativas e de suas prerrogativas ela insistia em manter o rodízio. Circulação livre somente na perimetral.

A saber: troca harmoniosa de dedos no interior do dedal; uso adequado da meia soquete no bocal; meias-palavras acatadas com açúcar e com afeto; de resto tinha feitiço para evitar o enguiço e um ritual posto a serviço, conforme previa seu ideário.

Antes de o ano passar, como sempre fazia, ela ajeitou o colarinho de Martinho q admirou seu decote vistoso. Entraram com o pé atrás no outro. A despeito do ocorrido nos outros prometeram tudo de novo. 

Depois ficaram abraçados esperando o carneiro servido no molho madeira.

Ela, a sublinhar aparências, dava desculpas pela falta de carinho. Martinho, a se fazer besta, fingia ajeitar o colarinho.

Quem os via sorria e dizia terem sido feitos um para o outro...







Durante o trajeto incidência arriscada da canção "nervos de aço", do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues