quarta-feira, 30 de março de 2011

Talvez...

Só queria abraçá-la outra vez
Talvez se beijassem como queriam
Talvez mergulhassem um no outro
O q até hoje, por mais q sentissem
O bater da vontade, não se fez
Talvez se amassem... Talvez...

terça-feira, 29 de março de 2011

Boca de rio... Beira de mar...



O mar só precisa da areia para beirar sonhos de uma vida inteira perdidos numa beira de mar.

O fogo só precisa da centelha para se espalhar sem eiras na amplidão do ar.

A boca só precisa do desejo para no beijo segredos revelar.

O corpo só precisa do cheiro para em outro corpo por inteiro se encontrar.

A vida, por sua essência passageira, se apaixona na lua cheia, e com ela passa uma noite inteira, sem vontade q a manhã venha lhe acordar. Viver é se deixar velejar na ilusão do possível amar. É saber q, mesmo o dia seguinte sendo incerto, o q bate no peito é certo e pode outra vez embriagar.

Amar é sonhar de olhos abertos numa beira de mar.

Um selvagem qdo levanta o braço, abre a mão e tira um caju... Tenha certeza, é um momento de grande amor...



No final, uma interferência vital da música "jóia", de caetano veloso

domingo, 27 de março de 2011

Inclinações musicais...



Noites de chuva. Dias de outono. A tarde era feito em meios-tons, como se estivesse embalada por opacos e desbotados papéis crepons. Tons e sons de cordas em vibrato serenavam nos acordes de uma serenata azeitada nas desabrochadas pétalas vaginais.

Tanta vontade a fazia pressionar com força as cordas no seu corpo. A tarde era uma mulher a declamar versos desconexos com sua voz rouca e apaixonada.

Com as portas abertas ela recebia com festa conhecidos demônios. Uns, nem tanto. No entanto todos bem vindos e imbuídos de lindos espíritos tântricos. Com eles vivia uma orgia de prazer e acalantos, na tentativa de espantar para bem longe antigos vícios e prantos.

Lamentos q, em meio a todo aquele rito, seu delírio transformava em simples rompantes. Ingênuos e banais.

E eram tantos demônios e delírios. Eram líricos delitos acentuados pelo volume de suas formas vogais. Lá fora a chuva caia como elegia ao q escorria de dentro do seu corpo. Sonhos q ela percorria com a habilidade de suas endiabradas mãos.

Com olhos arregalados e corpo atiçado na visão de seus gritos de liberdade, abri minha boca de uma maneira absurdamente louca e abocanhei seus desejos sem nenhum pudor.

Destruindo os conceitos de nossas invisíveis armaduras encontramos, aos beijos, o fio condutor da ternura.  Descobríamos enfim os caminhos q nos levariam a dançar de modo desgovernado.

Entregues devotos e bestiais entoamos as devidas louvações ao q havia de ser louvado. Nada mais.

Por fim, envoltos em poesias, debulhamos nossos feixes de alegria.

No rádio de pilha q havia sobre a pia Geraldo Azevedo cantava o amor em todas as suas apaixonantes inclinações musicais...



quinta-feira, 24 de março de 2011

Calambre...



Custei a entender. As notas passavam aceleradas. Cada uma com a intensidade de um vendaval. Lembro de só ter experimentado sensação igual na fronteira do centro-oeste, qdo, pela primeira vez, na estrada q me levava à chapada dos Guimarães fui surpreendido pela aproximação de um tufão. Naturalmente a íris de meus olhos arregalados paralisaram. Naquele momento senti na pele a tradução do pleno êxtase. Sem condições de esboçar qq reação me entreguei, por inteiro, a grandiosidade de um espetáculo q a natureza me proporcionava viver.

Agora estava a senti-la mais uma vez. Calambre. Espasmo súbito involuntário. Estado inesperado e letal do universo em estado de graça. O aspecto físico mais amplo da emoção, a constatar a ignorância da razão sem razão.

Logo nos primeiros acordes um soluço entrecortado me encobriu o olhar, abrindo, ao mesmo tempo as comportas da ilusão. O compasso de um estranho movimento ondular de um arco cortava o espaço e a respiração, extraindo notas disformes e incompreensíveis do nada. E o q antes parecia nada se encheu de prazer e, como da outra, sem nada poder fazer, como um carlito em meu próprio cinema mudo vi minh’alma ser arrasta pelo corpo; e eu, por inteiro ser levado pelas correntezas, até despencar do alto de uma cachoeira estranhamente silenciosa.

Cor sem cor de uma emoção sem forma. Dor anestesiada em cada pedaço de meu coração entregue. Qto mais me afogava, mais via meu mundo emergir.

Não me perguntem como e nem tentem compreender os motivos do q me fez perder a noção de todos os meus sentidos. Nem sempre encontro a razão q me faz guardar um feto q a tempos jaz sem paz. Qdo penso q me esqueço vejo o objeto disperso na linha de um horizonte inconstante e encoberto pela neblina.

Assim sigo "adelante" por essa estrada cada vez mais e mais inebriante. Caminhos q me levam cada vez mais distante e, ao mesmo tempo, me aproxima de mim. Por alguns instantes respiro sob o efeito da calambre. Nada há q se assemelhe ou possa parecer igual. Mesmo sem saber para onde a onda me leva, não lamento o q não compreendo e nem o tempo em q me sinto perdido. A espera de encontrá-la está sempre em qq lugar dentro de mim. Não sei qdo vou parar. Apenas vou! Aonde? Por onde?

Cuando yo puse mis pies en la tierra vengo a decirte...




A maestrina adverte: Faça a vida valer a pena! Pelo menos uma vez por semana ouça "calambre", de Astor Piazzolla...

quarta-feira, 23 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

an passant...

Qdo acordou, o dia sorriu enluarado
Parecia menino enamorado a sonhar
Com abraços dados nas estrelas...
Qdo a tarde chegou, ele pintou
A vida com as cores de sua alegria...

sábado, 19 de março de 2011

Toucas e milongas... Prosac e bal masqué...



Onde tem mocó, sabiá não come broa. Dito prescrito em receita para mto capeta metido a ser gente boa. A boa é q o Olodum, qdo batuca, remexe qq cuca. Não o do cruzeiro, caboclo estrelado, tranqüilo e seresteiro. Falo do celeiro, q não fede e nem cheira em pau de galinheiro. Tanto faz q o tempo passe, continua se achando o tempo inteiro.

Desde o tempo do “frentex”, qdo playboy usava gumex, q dura a lex sed lex. Quem pode se sacode. Faz até o q não pode. Quem se lembra do Ford bigode, sabe q a contraversão continua na mão do bicheiro. Nos rabos da saia q aquecem os fevereiros, de janeiro a janeiro. No passo apressado dos contínuos tem sempre um metido a traquino.

Na cadência do samba já vi mto gringo de perna bamba. Das caçadas dos macacos ao caboclo virgulino. Das lembranças q eu guardo do meu tempo de menino, os movimentos vêm e vão, mtas vezes em vão, no jogo do botão.

Juro, não é nenhum desatino. Com seus devidos tributos, cada um se faz de cego e surdo. Até finge ser mudo. Por uma questão natureza, só não muda os atributos da muda. No mais, tdo continua beleza no reino da baronesa, no batuques de reis e rainhas desse imenso carnaval. Tem horas q é bem melhor ouvir Hermeto Pascoal.

Barack é o nosso prosac. Há tempos a Rita perdeu seu cadilac. Com raiva levou junto com ela o meu sorriso. Enquanto a moeda gira fica o dito pelo não dito. Mas, quem realmente se importa? A dama não perde o hábito de usar creme bucal. Dizem q na madrugada a voz fica mais rouca. O Olodum qdo toca, todo mundo pula com sua devida touca.

Acordeons...



Ontem sonhei contigo. Acordei com os dedos molhados de sexo.

O dia é longo. Nele dou rasantes sob o efeito alucinógeno de teu olhar andrógino. Só vc seria capaz de tamanha especiaria.

Tê-la é verbo q excita, incita passeios, provoca... Evoca o perfume doce de tua pele.

Medo é segredo oculto. Ainda assim acuso. Levitas no meu vulnerável tesão.

Meu corpo nu transparece o q não se escreve, nem lhe esquece.

Tento a todo custo manter minh’alma imune à tua existência, q me alimenta e contamina.

Ignorando a minha frágil vontade o trem desliza os trilhos de tua beleza acesa de fornalha.

O vento serpenteia tempestades e fertiliza a pele. Tuas garras são afagos q rasgam a carne. O aconchego abafa o grito q me leva às nuvens...

É certo atravessar oceanos qdo lhe recebo. Com prazer me visto de harmonia no movimento de teu corpo.

Adormeço sem tentar lhe esquecer...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Drume dome grunhido...

Na flor do desejo
O beijo bebe o lume
Aceso fogo na raiz
O corpo se consome
Sentido fome
Ele come. Ela come
A razão some
Na sede de ser feliz

quarta-feira, 16 de março de 2011

Canto do louco amor...

Eram tantas. Eram belas
Formosas e silenciosas
As palavras percorriam fogosas
Tuas formas na ponta da língua.
Sem q ninguém atinasse
Sonharam até bem tarde
Depois adormeceram em paz

No dia seguinte, a poesia
Colheu alegrias com o perfume
De tdo o q naquela noite se sonhou.
Em seguida abriu a janela
Sentindo-se ainda mais bela
Estendeu suas asas e saiu por aí
Cantando loucuras do amor

terça-feira, 15 de março de 2011

Éricas bélicas... Veríssimo olhar...



Um olhar a mais nunca é demais. Mto menos é menos qdo é simples aceno. É justamente aí q ele mostra o qto pode ser sereno. Mesmo parecendo ser quieto e publicamente discreto, o olhar carrega em si um lúdico e indomável instinto inquieto. Razão pela qual ele nunca se sente inteiramente completo.

O certo é q o olhar rebusca na paisagem a maneira q lhe pareça mais justa de contemplar tdo o q lhe transporta, seja por linhas retas ou tortas, em seu íntimo e, por vezes, incompreensível sonhar. Ainda q o destino seja incerto, o olhar se permite ao flanar na imensidão dos sonhos, pelo simples desejo de se espelhar.

Por ser olhar, ame-o e deixe-o sorrir em paz...

Mtas vezes diante do espelho da penteadeira, ele fica a rodopiar por entre as estrelas, para lá e para cá. Solto ao sabor dos ventos, ele sai por aí a sorrir, beirando o próprio mar. Então se lança em seu bailado nas ondas sem vontade de voltar. Doce olhar sonhador, solto e sem estribeiras, a contar conchinhas na areia e estrelinhas escondidas nas entrelinhas do fundo do mar.

Em seu quarto, cercado de paredes rabiscadas e nuas, o olhar acende o brilho da lua no viço do olhar. Bélica beleza do olhar. Eras de Vênus. Afrodite de sentido pleno. Érica veríssima. Verdade bruta explícita no olhar.

De minha janela fico a pensar aonde será q ela repousa o olhar. Mas, logo me sinto um tolo, por tanto querer e tanto pensar. No fundo, o olhar nunca descansa. Nem mesmo qdo mergulha no sonho abissal mais profundo se cansa de tanto sonhar. Qdo fechados em pálpebras, o olhar percorre o invisível perceptível apenas nos sentidos, a tdo o q não se permite a todo e qq olhar.

Então, ele se deixa solto, a dançar como um louco por poemas fetos feitos em breus, a procura da luz crescente de algum outro olhar.

Sem palavras, o olhar percorre o encanto de seus cânticos. E dança... Dança sem parar. A girar por um universo, embora desconhecido, completamente seu. Ao seu prazer. Ao deus dará. Um simples olhar é suficiente para transformar.

"A vida começa todos os dias..."



No final, sutil inserção de frase atribuída a Érico Verissimo...

sábado, 12 de março de 2011

Pétalas...



Ao se reconhecerem pétalas na flor do tempo
Suspiraram a brisa e o suave perfume
Que os conduziram leves até aquele momento...
Condenados a um amor sem fim
Já não procuravam e nem se achavam
Em nenhum jardim...
E assim permaneceram pétalas
E assim, todos os dias, eles viam o sol nascer
Em suas janelas, e se reconheciam, enfim,
Ninfas e querubins, daquele amor q os alimentavam
Pelas enluaradas madrugadas, q nem a alvorada
Conseguia saciar ou fazer q enxergassem um fim...
E assim seguiram embriagados e enamorados,
Cada um em seu devido tempo,
Conforme lhes conduziam os ventos
Pelos caminhos e descaminhos
Desatino e destino de seus corações...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Trem das doze...



Este é um país q ri de sua própria sujeira, q exalta a máxima besteira de sermos a histórica bola da vez, além de penta campeões dos dribles e trambiques constitucionais. Nos bastidores do cassino a grande dama é quem dá as cartas. Longe da sala, reis e valetes mostram-se obedientes na copa, mas tramam escondidos debaixo do pano. E nem fazem drama qdo veem à tona os sucessivos equívocos. Impávidos até o osso mantêm seus sorrisos ôcos estampados no muro de eternas lamentações.

Entra ano sai ano continuamos a fazer planos com os nossos enganos, numa eterna fronteira feita de sangue, incertezas e dadivosas ilusões; dessas q fazem uma vivíssima viviane araújo se considerar uma atriz e a população não acreditar q há justiça na sentença proferida pelo respeitabilíssimo senhor juiz. Seja no mérito ou nas coxas da intocável meretriz.

Triste verdade de uma divertida e democrática diversidade, q já não se importa se um tiririca assume não ter nenhuma proposta ou se a canalhice continua surda, impávida e impaciente em dar as costas, ao atravessar as largas portas q dão acesso ao congresso nacional. Nada mudou. Tdo continua irritantemente igual. A notícia só é notícia se foi dada pelo jornal nacional. Alias, há mto q não se fazem mais stanislaws. Agora, ursinhos blabláus tem a dar de pau.

Minha vida nunca foi um palco iluminado. Pensava nisso enquanto olhava uma foto de Poço de Caldas na parede de uma cantina na Borges, qdo ouvi o silvo do apito de um guarda, palhaço e perdido na ilusão de controlar um trânsito cada vez mais assassino e louco. O índio continua sem apito. Lembra do Silvio Brito? Pois é. Esse mundo está cada vez mais rouco. Mas, ninguém é louco de se meter no sentido contrário da inconseqüente corrente q conduz as multidões.

Em silencio continuo a tomar meu caldo de cana. Tem horas q me sinto um sacana, mas, qdo me lembro do q a velha guarda debaixo da cama, vejo q não sou mesmo de nada. Até dá vontade de fechar a matraca, ao ver um beija-flor passar na televisão cheio de emoções. Cartola, até parece q é zica. As rosas já não falam, mas, acredite, elas ainda exalam no resto do perfume q guardo em um frasco quase seco, com o qual volta e meia dou voltas por aí. É certo dizer q sempre me traz lembranças de ti, como uma folha seca contornando meu ar, feito um chute do magistral Didi.

Por outro lado, qdo Lamartine canta, eu babo, olhando as folhas soltas espalhadas pela saudade. Subo no trem das doze e atravesso a cidade sem saber onde vc se esconde. Quem me dera fosse eu um conde, visconde de sabugosa ou um encantado lobisomem. Tentaria chegar lá no alto do não sei onde, bem além do horizonte, só para ver onde esse trem vai dar.

Mas, meus pés, de tanto tempo q ficaram descalços, já não cabem em nenhum sapato. Seja de bico fino ou de salto alto. Aliás, existem coisas q nem vale à pena grifar nessa lousa. Em um enredo sem segredo lambo as marcas dos estragos do último tango q me pariu. E o brasil continua sem mostrar a sua cara lavada. Mas, deixa isso pra lá. A carne até pode ser fraca, mas o tempo apaga o q não vale um vintém.

Anselmo me desculpe, mas não sou nenhum pagador de promessas. Nem gosto de fazer prestações. Olho por olho, dizia o besouro já coalhou, de tanto olhar a donzela tirar a roupa pela fresta da janela. Vai, com jeito vai. Aonde a vaca vai, pode apostar q tem sem um boi indo atrás. Dizem q é por causa do rebolado, q apesar dos maus olhados, continua bom demais...

"A tua vida é um segredo. É um romance e tem enredo. A tua vida é um livro amarelado... A tua vida, romance igual ao meu. Igual a muitos outros q o destino me escreveu. A tua vida foi sonho e foi ventura. Foi lágrima caída no caminho da amargura. São nossas vidas, comédias sempre iguais. Três atos de mentira. Cai o pano e nada mais..."

Sem ter mais nada a dizer, vesti uma camisa amarrotada e sai por aí. Em vez de tomar chá com torrada preferi me esbaldar em uma tigela de açaí. Levando uma lembrança no peito e um notebook na mão, sorri qdo Mercedes me disse: Sossega leão! Sossega Leão...


Interferência musical de “A tua vida é um segredo”, de Lamartine Babo

A cômoda...



A gaveta da cômoda
Acomodava a incômoda corda.
Sua dona enquanto dama discordava.
Enquanto rama dava corda.
Subia em mundos da lua
Sem incômodos de outrora.
Adormecia com marcas na cama.
Acordava com toda a corda...

Hablando con ella...

A veces me pierdo sin sentido
En los caminos de la ciudad...
Me pierdo en busca de mí...
Y voy a mirar a través de los escombros
Enbúsqueda de los sueños
Los q nunca han dejado de vivir
Y voy… Y voy… a cruzar la noche
Noche q mis besos bebiós tus besos
Y voy… Y voy… Y voy…
Sin querer detenerse em alguna parte
Sólo mi corazón q parece latir
con la esperanza q no se cansa
Recuerdo del día em q
Desnuda y cansada de tanta fiesta
Usted bailó sólo para mí

domingo, 6 de março de 2011

Blocos, recuerdos y carnaval...



Sem qq motivo aparente, provavelmente levado por algum impulso desconhecido, desses q surpreende pelo próprio repente, ele abriu a porta do quarto e saiu dançando pela avenida, expondo em seu peito as batidas de um coração pierrot e apaixonado.

Mantinha seus braços abertos, como se quisesse abraçar aquele mundo de confetes e ilusões. Naquele dia não prestou tanta atenção nas fantasias. Só queria se espalhar nos espelhos das alegorias. No ritmo frenético do frevo se deixou levar na valsa das marchinhas de carnaval.

A lembrança, até onde me parece e a compreensão alcança, é muito mais q a projeção de um tempo percorrido. É uma aliança permanentemente guardada no peito. É desejo preso a uma saudade q não se escreve e nem se consegue conter com as linhas da escrita. A lembrança tem seus caprichos, muitas vezes feitos de rabiscos e sentimentos perdidos, por entre caixas altas e baixas de um teclado.

A lembrança é um registro impreciso q se desprende da alma e escorre pela tela, como em uma pele molhada, banhada de suor.


Qta alegria sentiu percorrer seu corpo no meio daquela folia. Era tdo o q queria. Sorriu como nunca fizera antes. Dançou como nunca havia dançado. Beijou concubinas travestidas de meninas. Passou suas mãos em bundas risonhas e desinibidas. Foi apalpado. Usado. Até se sentiu amado. Com algumas até de forma bem vagabunda.

A lembrança é divina loucura. É o inferno de um céu em chamas. É o resta para se beber do mel de um amor q passou, mas, q persiste em se manter, como na fogueira a brasa. Calor q não aquece e, no entanto, não se apaga. A lembrança vai e volta. Não desgruda. Nem qdo a fala grita: cala!

Qtos gritos. Qta ironia. Qtas certezas absurdas e surdas se transformam em incertezas mudas. Assim, ao som dos atabaques, bumbos e tamborins, ele percorreu por toda a noite a alegria de uma festa q lhe enchia os olhos, mas não preenchia o vazio, q insistia em ecoar no fundo de su’alma.

A lembrança é uma fada sem alma, a voar sem destino pelo próprio desatino. É o olhar q se fecha na tentativa de melhor se enxergar. É salto dado no mais completo escuro. É a procura de um gesto, sorriso incerto em q se tenta velejar.

No largo da amaralina ela surgiu meio na surdina. Por um instante ele pensou q era miragem ou efeito da bebida. Era tdo o q queria da vida. Encontrava-se, enfim, diante de seu tão esperado inesperado sonho. Naquela hora, tdo o mais em sua volta parecia bisonho.

Então, sem qq embaraço, vestiu sua roupa de palhaço e se deixou levar pelos encantados braços daquela sereia. Era noite de sexta-feira. A lua, enfim, iluminara seus desejos. Embriagado de paixão, ele deu pulos de alegria e desceu a ladeira sem perceber q começava a viver os primeiros acordes de seu derradeiro amor.

A lembrança arde diante da imagem da tarde q debruçava viço por todos os cantos da janela, deixando a noite deliciosamente preguiçosa. A lembrança é um açoite q sangra o tempo. Vento soprando forte na busca de algum norte.

A lembrança é esperança q se arrasta pela paisagem. Deserto de uma cidade fantasma, onde o pensamento persegue o cheiro do esgoto no cais de um porto desesperadamente alegre, sem escudo protetor contra a previsível dor.

Enquanto a vida segue inquieta mundo a fora, as lembranças saem à tua procura sem o menor pudor.


Depois de mtos beijos e abraços eles misturaram suas ilusões. Pareciam eufóricos ao cantar tanta emoção. Naquele instante não se preocuparam com nada. Nem mesmo se encontrariam harmonia, qdo o dia terminasse de cantar a última e ensolarada estrofe daquela canção:

“Procurando por você meu amor, mas que felicidade lhe encontrar rebolando na avenida, para desgraça e glória dessa vida... Deixa o coração bater até se despedaçar. Chora depois, mas agora deixa sangrar... Deixa o carnaval passar...”



Interferência proposital e justa de “Deixa sangrar”, de Caetano Veloso
Composição essencial sobre “Pierrot and Columbine” de Pablo Picasso