quarta-feira, 31 de agosto de 2016

verso oculto no réu professo...



Oculta da borboleta revela-se à vontade.
Leveza intrínseca de rara beleza ambígua.
No aconchego dos segredos asas adormecidas
sonhavam desejos nem sempre límpidos.

Consciente do insolente senso inconcluso,
mendigo bendigo lembranças de Évora.
Com letras tortas evoco o verso não incluso;
semente de fruto incerto professo no poeta luso.

Viver nunca é preciso. O q é preciso se descobre
ao navegar; ao decifrar o derrapar das linhas,
entre lençóis de linho e poeiras de pergaminhos,
a realidade imprecisa dos riscos...

terça-feira, 16 de agosto de 2016

O ovo de Clarice...



De manhã na cozinha olhou de novo sobre a mesa e não havia ovo...

No gargalo do gogó do gago pediu indulto ao gajo. Este, afinando o calo temporão do esporão do galo no timbre tenor, subiu ao sótão e cacarejou:

Se galo eu a galada abre inocentes asas sobre todos os nós...

De Bodocó à Marrakech. Do Salto da Onça à Não me Toque. Não houve escarpa q escapasse às brancas runas. A tudo tracejou.

Contudo, depois do frango assado de nome engraçado experimentado no cruzeiro, passou a exigir elevador social até para subir no poleiro.

Nada mais pessoal q abrir o celeiro aos três mosqueteiros. Enfatizou o justiceiro.

Nada mais social q soltar a língua no vespeiro. Acrescentou esperançoso o sorveteiro.

Antes do quarto badalo o galo deu como lida sua missa...

Após comer seu milho e morder língua de sogra, cansado de tanta prosa, sentou na única cadeira vazia com um lapso na mão e um ramo de arruda à altura do peito.

Nada mais disse. Também ninguém contradisse.

Além das invencionices sabia-se q tolice pouca era pura roupagem...

Quanto ao ovo sempre foi claro: quem responde é Clarice.

“Por devoção ao ovo eu o esqueci. Meu necessário esquecimento.
Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo.

Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar.

Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta.

E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha.
Iluminando-a de minha palidez.”









Título inspirado no conto “O ovo e a galinha”, de Clarice Lispector.

Por fim, como nem todo fim justifica ser meio, um enxerto proposital do parágrafo final de “O ovo e a galinha”.

domingo, 14 de agosto de 2016

La barca y la golondrina...

Cobra q coça no roça rosa
Vira e mexe enrosca no caçuá.
Jacaré q nada borboleta
No crawl lhe cai os butiá...





Borboleta e Crawl são estilos de natação.
Caçuá é palavra tupi para cesto feito de cipós.
Golondrina é andorinha na língua espanhola.
Cai os butiá, expressão gaúcha para impressionada ou assustada

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Dama sem equação...



Embarco na escrita seguro à raiz do carvalho. Ao passo em q me arrisco no carrossel do tempo o vento acende chamas. Olho o céu. A rama menina em brasas espalha-se abraçada às lembranças.

Sem medo arremesso os pés pelas mãos. No q divago embarco embalado pelo perfume deixado pelo corredor. A catraca gira. O mundo dá cambalhotas às voltas com seu rabo de cavala.

Braços destemidos ao alto. Mãos seguras à alça. Corpo solto presa fácil dos julgares; olhares luares vindos de todos os lugares em sua direção. Vários, vagos, vulgares, reféns da própria inquietação. Alguns desconjurados mal compartilhados logo sacodem em freios de arrumação.

Sem seu opor me ponho no posto. Dito exposto folheio em seu corpo algumas páginas em branco. Ali, insatisfeita, deliciosamente imperfeita, era ela flor de rama, dona de meu furor, dama profícua digna de toda louvação.

O entardecer assistia a tudo emudecido emoldurado nas janelas.

Em uma delas reflexos e vestígios, cada vez mais explícitos, de nossas mútuas intenções...