segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Fantasias de classe...




Sob o palanque misturou com elegância as carnes na fantasia das classes.

Sob a égide igualitária grudou a pele, cara a cara. Na aclamação perdeu a classe. A ausência dos burocráticos entraves estimulou a claque a glorificar com vigor e verve sedosa.

No mesmo instante, sobre o palanque, papagaios agitavam enfurecidas bandeiras sem perceber olheiras nas pupilas do digníssimo senhor reitor.

Passado o prazo regimental, no apagar da derradeira luz, cada um retornou ao convívio de seu oposto.

Por fim, sem mto esforço, beijou a aliança. Antes de deitar deixou engomada a camisa social e, de mto bom grado, lustrou sapatos marrons ao ronco do bem amado.

Deitou relaxada sem se preocupar se seria audaciosa. No gongar da madrugada gozava nas lembranças da noite passada misturada às massas.

Como era doce o vigor ao sabor da vingança...



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Talo de flor...



A propósito,
posso não ser
teu grande amor,
mas é grande
meu amor por vc

No estalo lá estou
a corteja-la no talo,
como sempre foi,
tantas vezes for
como flor, outra vez

Assim ser vida,
seja como Cecília,
seja como Frida;
enlaçado como for,
lá sou beija-flor...

sábado, 20 de setembro de 2014

Nos caracóis de teus pentelhos...




Um bucólico cheiro de cio inundara o quarto, àquela hora entregue à penumbra.

De nada adiantou buscar sentido no inexplicável. Algumas realidades são imponderáveis. Esta era a única percepção plausível q tinha do inacreditável fato de ter chegado até ali.

Caracahuega era um povoado erguido no meio do nada, na transversal do tempo, em uma rota vicinal da rodovia q levava ao atracadouro construído na principal afluente do rio juramento.

Os pouco locais sobreviviam da agricultura familiar. Plantavam sem a certeza de colher. Viviam pelo viver. Simples assim sei q é difícil de crer.

Mas era um povoado feliz. Tranquilo até demais. Apesar dos ruídos q acordava a todos, todas as noites, vindos do pé da serra de Mbaracayú.

Alguns diziam ser Kurupi. Outros insistiam ser Jasy Jatere, acompanhado de seu irmão Ao Ao. Para mim era a mula perdendo a cabeça, mas, ninguém me entendeu...

Longe do disse-me-disse, fosse com lamparina apagada ou acesa, a noite adentrava no cio da madrugada e suas infernais veredas.

Dizia ser culpa dos sonhos q não lhe dava descanso.

Fato. Seu corpo esparramava curiosa brasilidade na cama. No atravessar das coxas aquecia travessa o travesseiro recheado de penas de ganso.

De dama à potranca bastava um pulo.

De pulo em pulo saltava as virtuais e eventuais cercas, e encarava a realidade, bela e lírica, cantando “gracias a la vida”, soltando da braguilha a pica de seu amor.

Coberta a imagem da santa, ajoelhava com a boca untada e lambia um terço. Conforme o tempo passava retirava os adereços. Como em um passe de mágica esquecia q tinha endereço.

Largados os encantos de fada renascia vistosa encarnação da malícia.

Sem temer o pecado da gula cozinhava docinhos de pecado no corpo suado, na sede do pobre diabo saciado com feitiçarias caseiras.

O q antes remexia por dentro perpetuava-se noite adentro corpo a fora, em ecos, uivos e dilúvios.

Depois adormecia, em silêncio, em paz...

No dia seguinte, nas rodas q se formavam à espera do almoço, alguns caracahueganos continuavam a apostar no Kurupi. Outros, mais exaltados, não se sabe pela fome ou pelo cansaço, insistiam no Jasy Jatere. Vai saber...

O q ninguém viu foi a mula perdendo a cabeça...

Aliás, antes q eu esqueça: Casi siempre, entre el lunes y el martes, tenía la costumbre de acumulavar. Entonces, en estos dias, ni era necesario hacer las apuestas.

Todos sabían: era un dios nos ayude…










Segundo a lenda paraguaia, Kerana, a bela filha de Marangatú fora tomada por um espírito do mal chamado Tau. Juntos, Tau e kerana, tiveram sete filhos: Teyú Yaguá, Mbói Tu'i, Moñái, Jasy Jatere, Kurupi, Ao Ao e Luisón. Todos, exceto Jasy Jatere, nasceram com a forma de monstros.

Kurupi é o deus da sexualidade. Costuma sequestrar as mulheres com seu pênis enorme e largo, sempre preso à sua cintura.

Jasy Jatere é um homem baixo de cabelos louros. Costuma surgir durante o sono portando uma varinha mágica. É conhecido por fazer desaparecer quem o vê. Está sempre na companhia de seu irmão Ao Ao.

Ao ao é considerado o deus da fecundidade. Dizem q teve muitos descendentes, e q andam em grupo comendo as pessoas. Segundo os mais antigos, para se salvar de um Ao Ao, deve-se subir até o alto de uma palmeira.

"Gracias a la vida" é uma canção composta pela cantora chilena Violeta Parra.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Entre vidraças... Entre cobertas...




Tinha as vidraças entreabertas
quando sentiu o sopro de dedos nas dunas.
Ao contornar o colorido impulso da orquídea
todo o entorno suspirou vida.

No perfume de sua floresta à descoberta
fortes indícios de festa.
Sem mta conversa não esperou a noite ser
descoberta entre cobertas.

Em outras palavras,
abriu as asas soltou-se às feras
até a manhã ser, de verdade,
redescoberta de janela aberta...

sábado, 13 de setembro de 2014

Náus intecionadas... Redes sem fim...



Naus intencionadas singram o mar com afiadas navalhas.
Sem sentir náuseas resvalam no declive da calha, quando não
encalham na sujeira deixada sob o risco de telhados de vidro.

Debaixo de chuva ama-se o q dá na telha.
Debaixo da terra valem os ossos do ofício de sermos todos iguais.

Em curto prazo avistam-se interrogações na testa. No porão
a balada é outra. Uma coisa é certa. Tão certa qto certidão de flecha:
a imagem consagrada nunca acaba qdo a imaginação termina.

Para naus intencionadas não há nada q o valha, mormente
o q graça fora das quatro linhas invertidas de suas retinas...





Montagem sobre a obra “Redes sem fim”, da artista gaúcha Esther Bianco. A interferência no título tem o claro intuito de indicar o fio da linha...


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O amaciante da capadócia...




Naquele dia o beija-flor acordou se sentido duende.

Inquieto e irreverente, como sempre, voou sobre a espada de são Jorge e sugou do néctar entranhado na cuca de Benjor.

Tereza, a baronesa, por ironia tbém estava ‘naqueles dias’. Ressonada mexia os olhos enquanto virava o ovo na chapa, na vera, na marra.

Nem era preciso consultar a Embrapa para entender o q germinava sob a pele em brasa.

Nem pertencer à realeza para compreender a catástrofe q seria alterar a ordem sagrada dos garfos. Ainda mais estando enrolados sob a égide do consagrado manto.

Contudo, para seu espanto, o ousado pascácio mantinha os sentidos emancipados. Segundo o enunciado, ao ponto de aguçar a carne no perfume amaciante de sua calcinha feita de algodão.

No silêncio em q estava ela ficou. E assim continuou até se deixar revirar no colchão...

A princípio sentiu os primeiros acordes sem emitir sinais de alarde. Porém, qdo lhe apalpou as partes, destarte as q jorravam o doce, se assanhou de um jeito dengoso, logo transformado em gritos somados, diluídos, desavergonhados.

Apesar dos arroubos iniciais descritos, os seios rígidos davam conta da liga...

Desta vez, no entanto, não fez figa. Ligada na cinta, alma safada a gargalhar no coringa, do jeito q estava descarrilou, tanto q vibrou.

Vibra q vibra q vibra, nos encantos da libra ascendeu aos céus de la dolce vita...

Desencarnado o ato suicida da auto compadecida, ofereceu-se ofegante à fibra. Tomada de marguerittas fritou tomates úmidos nos verdes ventres líberos. Nos solavancos abriu os flancos nos campos do seu profanador.

Depois de tantos requebros, sentindo a falta de ar, despencou no amor q pensara ser frágil vidro. Ainda sem entender como tdo aquilo se dera, sentada no meio-fio sorriu qdo viu, enfim, q não se quebrou.

Se o beija-flor continuou batucando Jorge, ninguém quem sabe, pois ninguém viu...

O q se fala é q do alto acompanha o andamento do sufrágio, resguardado pelo silêncio geral, acobertado pela batina do vigário...











Capadócia é uma região histórica e turística da República da Turquia, país euro-asiático, q vai do extremo ocidental da Ásia até sudeste da Europa.

Ben Jor, Jorge é um cantor e compositor brasileiro. Dotado de um estiloso suingue incorporou ao samba elementos do rock, soul e funk; além de sonoridades árabes e africanas, oriundas de sua mãe, nascida na Etiópia.

Tereza é a musa da canção "Cadê Teresa", composição de Jorge Ben jor.

La dolce vita é um filme de Federico Fellini, considerado um dos filmes mais importantes do século XX

sábado, 6 de setembro de 2014

Enlouquecido diário...



Revolvo a terra sentindo teu cheiro no corpo ainda semente. À espera de encontrá-la capino o futuro com palavras.

Conheço bem as palavras. Tantas ouvi. Tantas iguais a outras. Nenhuma com o sotaque dela.

Algumas guardadas na roupa de forma discreta. Outras, escrotas, presas ao q se prestam, servidas nas luas marotas de noites diletas.

A quem realmente interessa dizer q o mundo não presta?

Aquém a tudo sinto q ainda me iludo. Por instinto escavo mais e mais profundo. Sem deixar pegadas retiro as pedras, abrindo brechas onde as minhocas se enterram enfurnadas, ensimesmadas em si mesmas.

Enquanto penso minhas mãos dão raízes às asas. Com elas borboleteio pelos cantos do jardim em q apareces. Com teu cheiro entranhado nas mãos rego a lei da mutação.

Percebo q um dia sim nem sempre é oposto do não. No sangue sinto a transfusão.

À espera do pólen observo o trânsito inicial dos besouros. Um casal beija a flor no botão dos desejos. Com os sentidos loucos metidos no barro molhado te esbarro. No q exalto o samba do teu rock sinto choques e jogo tudo no ar...

Sigo o bom conselho. Paro tudo e dou um mergulho no mar...







Entremeada em determinadas palavras lembranças sinfônicas da canção “Alguém me disse”, de Evaldo Gouveia, músico compositor e cantor cearense, e Jair Amorim, locutor, compositor e cantor capixaba.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Efeito borboleta...



Vestia lúdico qdo entrou em cena.
Ao pisar no tablado tirou o salto,
no ato sentiu o peso do escuro.

Assustada deitou no palco.
Acariciou a alma, despiu-se
com calma quase obscena.

Ao fim do primeiro ato
coberta de poesia desejou o segundo.
No ato. Na saliva. Na carne viva...



Efeito borboleta foi o termo utilizado por Edward Lorenz, matemático e filósofo norte-americano, ao se referir à dependência sensível às condições iniciais da teoria do caos. Segundo a qual o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas, sendo capaz de provocar um tufão do outro lado do mundo.