quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sublimes salmos... Sutis súplicas...



Presa a um altar adornado de lírios e desejos, com os pés e mãos atadas ela acompanhava, sem desgrudar seu olhar, o movimento sádico dos ponteiros de um relógio encravado em sua mente.

Sem conseguir calcular a extensão de sua loucura, saboreava cada segundo com a mesma convicção q a fazia ferir a própria carne. Estranho prazer do se sentir entregue e sem saída. Em silencio su’alma parecia declamar a ode de sua submissão, numa declaração a um amor q não via, mas sentia corroer tdo o q havia dentro de si.

O Senhor é meu pastor e nada me faltará. Só Ele me faz descansar em campos verdejantes e me guia por águas tranqüilas...

Submissa ao tempo se desfazia aos poucos de suas vontades. Alheio a sua existência, o tempo destruía suas fracas resistências, revelando na flor da pele toda a sua insignificância. Qto mais se anulava mais se sentia menor diante daquele a quem respeitosamente chamava de Senhor.

Só Ele me protege e me dirige. Guia-me pelas veredas da justiça, por amor do Seu nome...

A obediência passara a ser a maior e a mais definitiva prova q ela poderia dar do seu estranho amor. O simples ato de obedecer deixava-a tomada de uma indescritível excitação. Sentia remexer seu ventre e envolver su’alma em um explícito e delicioso martírio.

Seu sexo contraia de tal maneira, q sacudia a cabeça, como a conter a loucura ainda represada prestes a explodir. Sabia q somente Ele daria sentido a sua vida. Vida q já não possuía, pois tdo o q sabia de si havia sido entregue nas mãos hábeis de seu condutor.

Mesmo q eu ande pelo vale da sombra da morte, nada temerei mal algum, pois Tu estás comigo...

Sem saber o q lhe aguardava. Sem noção do q aconteceria ou por onde ele a conduziria, ela abria a janela e ficava a sua espera. Refém e escrava. Por qto tempo? Não se atrevia questionar.

Embora nunca houvesse dado das angustias de sua inquieta juventude, desde a adolescência fora assim. Somente depois de mtas recusas e frustrações, despertara para necessidade de encontrar quem lhe coloca-se em seu verdadeiro lugar.

Agora estava ali, vendo sua estória ser reescrita por um deus enfurecido q invadira seu íntimo, despertando seu desejo em ser possuída com luxuria e adestrada em todo o esplendor de sua submissão.

Tua vara e o teu cajado me consolam...

Sentia-se pronta para ser do jeito que ele queria. Qdo chegasse a iria encontrar vestida com a sua camisola mais bonita. Será q ele irá gostar ou deveria colocar outra? Será q dessa vez ele a iria presentear com uma coleira?

Sua vontade era de sentir seu pulso forte. Seu maior desejo era ser submetida a toda espécia de castigo. Só assim poderia saciar seus impulsos e purificar su’alma de tdo o q fosse impuro. Em seu íntimo sabia o qto era indigna, mas lutaria com todas as suas forças para q Ele aceitasse sua total devoção. Com ele descobriria, enfim, a vida sem artifícios.

Honras-me ao ungir minha cabeça com Teu óleo. Em Ti meu cálice transborda...

De repente seus olhos cobriram-se de um brilho incomum. Do outro lado da janela ela viu q seu Senhor estava a lhe observar. Imediatamente colou seu rosto no chão e ficou à sua espera, cadela q se sentia e, finalmente, reconhecia q era. Não era a primeira vez q se percebia bela. Mas, pela primeira se sentiu iluminada por inteira, qdo viu o tempo lhe estender a mão.

Certamente q a Tua bondade e misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias...