sábado, 18 de fevereiro de 2012

O dia em q falei com as flores...



Olho demoradamente o extenso e escuro corredor q tenho à minha frente. Chama a atenção o fato de tantas lâmpadas apagadas. A única acesa vem de uma placa no final do corredor avisando q estou “sem saída”. Respiro fundo na tentativa de aparentar uma calma q na verdade não sinto.

Como um Hitchcock registro a tdo em câmara lenta e adentro a penumbra guiado pelo cheiro do oasis q acredito existir no lado de lá.

Os ventos correm soltos entre os maciços e gigantescos paredões q margeavam a rua das flores. Apressados. Enjaulados. Agitados. Delicados. Era praticamente impossível imaginar a variedade de perfumes q, vindo de todos os lados, circulam nos pulmões.

Durante incontroláveis oito minutos tento enxergar o número nas portas q passam. Paro no número oito. É curiosa maneira q sempre fui atraído pelo infinito contido nas circunferências de sua imagem.

Cada um carrega sua história em possíveis lembranças contidas nos frascos guardados ao alcance da mão, n’algum lugar da emoção.

Procuro respirar fundo, mas o coração desobediente insiste em seu bater desordenado.

Sem hesitar toco a campainha q se faz de surda e se recusa a chamar. Toco outra vez, mais uma vez e nada acontece. Desisto da campainha e bato na porta. Uma. Duas. Três vezes. Qdo já não esperava por alguma resposta ouço o barulho de uma chave girar mansamente no lado q ainda não vivi.

Com o passar dos anos aprenderam a conviver em harmonia. Não se sabe por receio do confronto evitavam expor suas angústias em um explícito encontro. Contudo, não fosse o estranho hábito de nunca olharem para os lados, poder-se-ia dizer q conseguiam conviver com mútuo respeito.

Após o ruído de chave a porta continuou em silêncio e fechada. No mesmo compasso de minha respiração movimentei o trinco. Abri, entrei e fechei rapidamente. Tdo ainda é escuro. Somente a respiração continua a ditar meu ritmo. Agora outra, bem baixinho, parece tbém me ouvir do canto onde está.

Algumas vezes pareciam sentir-se incomodados, mas nada diziam. Mantinham-se no silêncio de seus ritmos. Sabiam q somente o equilíbrio lhes possibilitaria manter a perspectiva de sobrevivência. Tinham plena consciência do q eram e da necessidade em viver cada instante do q ainda atravessariam.

Lembrando a placa sem saída q vi no final do corredor sigo em sua direção. Sem saber percorro o caminho dos reis e escalo as dunas do meu armagedom. Um agradável cheiro de alfazema me dá boas vindas. Vendo as portas abertas derramo oito beijos q lambo com a língua assanhada. Quase ao mesmo tempo adentro com a minha verdade abraçando a vida.

Lá fora a rua das flores perpetuava-se em múltiplos olores. Apesar do outono e do longo inverno q teriam de atravessar, as essências do q se continha festejavam com alegria a primavera q um dia haveria de chegar.