segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um blues vestido de azul...


A verdade existe sem endereço certo. Na maioria das vezes atravessa o tempo em silencio sem chamar a atenção. Seu destino é percorrer o mundo sem a pretensão de desvendar o pq do grande segredo da vida ser a morte. Pensando bem, talvez o único mistério resida no abismo q criamos para distanciar os homens dos deuses de nossa imaginação.

Um dia me encontrava sentado à beira de uma calçada, qdo ela surgiu vestida de azul e sentou ao meu lado. Lembro q estranhei encontrá-la sozinha àquela hora da noite. Ela apenas sorriu e disse: - Não estou sozinha. Por acaso não está aí?

E não disse mais nenhuma palavra.


Nenhum questionamento cabia naquele momento. Nenhuma inquietação povoava os sonhos ou alimentava qq tipo de ilusão. Tudo se fazia adornado com uma inexplicável e límpida percepção.

Eu q me julgava conhecedor de tantas coisas na vida, pela primeira vez podia sentir o brilho de um olhar tão de perto. Aquele olhar q emergia na escuridão da noite me fazia contemplar a essência do meu verbo em um estado presente de pura iluminação.

Tudo se reveste de uma clareza absoluta qdo se busca enxergar tão somente o q temos à frente. De nada adiantaria pensar nos resultados, sem q houvesse dado o primeiro passo em sua direção.

Não sei por qto tempo permanecemos ali. As horas pareciam não ter um tempo logicamente definido. Nada era definitivo, mesmo sendo tdo tão preciso. Até a maneira como ela se levantou e vagarosamente passou as mãos pelas coxas, ajeitando o seu vestido feito de um azul q até então ninguém jamais havia descrito.

Não queria q ela fosse embora, embora soubesse q nunca mais ela sairia de mim. Queria saber o q haveria de fazer para encontrá-la novamente. Deveria haver algum jeito ou alguma pista a ser seguida. Meu medo era q sumisse sem deixar rastro e desaparecesse para sempre da mesma maneira q surgiu. Exatamente como a vida muitas vezes se mostra sem lógica. Sem qq explicação nos atira no chão e nos faz olhar para o próprio umbigo a procura de um eixo, sentido ou razão.

- Aonde vc vai? Perguntei...

- Vou respirar a vida por ai. Saltar tantas e qtas linhas houver no horizonte. A estrada é longa e esse mundo já não me engana. Vc vê esse meu jeito sorridente de criança, mas saiba q ele esconde as marcas de uma vida. Com o tempo tbém aprenderás a voar. Apenas tenha o cuidado para suas asas nunca ultrapassarem o tamanho de sua imaginação.

Não fique triste e nem parado. Procura caminhar um pouco. O sol não demora a nascer. Quem sabe descubras onde ele guarda o seu brilho. A vida é um sopro silencioso em nossos ouvidos. Presta bem atenção e descobrirás os caminhos q haverás de seguir e o q é preciso fazer para te alcançar.

Fiquei olhando ela sumir nas penumbras. Segui-a o máximo q minha miopia permitia. Mesmo assim pude ver o sobrevoar das barras de seu vestido nas beiras das calçadas, como a reverenciar com gestos bailarinos a brisa q refrescava os últimos suspiros daquela madrugada.

De onde eu estava me limitei a sorrir, vendo o seu bailado compor diante de meus olhos o q havia de melhor no meu mundo.