sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Tome jeito, dona independência...



Imagino Evaristo um poeta maestrino com o Dom de ser Ravel. Sou capaz de vislumbrar o dia em q subia a lomba pensando o q fazer para alcançar os mimos e ser visto com bons olhos pela nova corte q tanto falavam iria se estabelecer naquelas cercanias.

Eureca! Pq não um hino! Pensou em um clarão tão forte qto o sol q ardia na sua cabeça musical. Nada mal, concluiu sem conter o sorriso. Por um instante nem lembrou de reclamar da velha lomba cansada de tanto ver suas subidas. E descidas.

Um hino conquistaria a simpatia e ampliaria sua audiência. Visto q, mesmo com toda a efervescência q havia nas terras onde tdo q se plantasse dava, ainda não havia sido inventado youtube.

Assim, com máxima virtude, sem sequer lembrar-se do tuiuiú desavisado q quebrava o galho planando tranqüilo pelos pantanais mato-grossenses, ele viu raiar diante de si um horizonte q lhe faria deitar eternamente em berço esplêndido.

Ao chegar a sua casa nem quis olhar para a cara de sua mulher. Com toda a certeza ela o fuzilaria com olhos mais mortais q pistola automática. Mto menos deu bolas para a gana com q a patroa esfaqueava o coitado do peru q nada tinha a ver com mágoas mal adormecidas da noite anterior. Até desmiolado estava, aguardando a hora em q seria servido no almoço.

Como bom discípulo de Vivaldi, Evaristo correu em direção de seus filhos ainda meninos e, querendo ser ouvido por toda a casa, bradou em alto e bom som: -“já podeis, filhos meus, ver contente a mãe gentil. Acabo de bolar a nossa liberdade. Aquela q vai mandar para bem longe todo o nosso temor servil”.

Aproveitando o entusiasmo da tresloucada inspiração continuou sua eloqüente fala, agora com endereço certo da cozinha: “os grilhões que nos forjavam na injúria e astuta perfídia, doravante encontrará a minha mão mais poderosa.”

Imagino até com q empáfia se postou, para dar ênfase à entonação daquilo q dizia com incontida zombaria.

- Não temais ímpia falante, nem procure esconder a sua face hostil. Vossos peitos sentirão meus abraços. Larga essa faca! Desfaça de uma vez por todas essa muralha! Levanta logo esta saia, pois percebi q estás sem anágua. Venha comemorar nossa independência com toda intensidade desse brado varonil.

Então, perfilado com o trompete armado, sentiu a retumbante valsa do imperador q sua amada dançou fantasiando regalos e maus tratos dados por certo capitão da cavalaria q, não fazia nem três dias, havia deixado sua farda para ela lavar e passar.

Antes q a estória desande para algo estranho de contar, faz-se mister declarar q depois Evaristo fez alguns uns ajustes na idéia. Mas foi assim q se deu a inspiração – salvo conotações ao contrário - daquele q mais tarde viria a ser reverenciado e executado como o hino à independência do Brasil.






O Hino da Independência do Brasil foi composto por Evaristo da Veiga e musicado por Dom Pedro I.

Pelo menos assim diz o relato oficial. Sabe-se lá se tal parceria não foi mais uma agrado do Evaristo. Pelo visto...