quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Tardes tâmaras... Banhos e riachos...



Do alto o sol seguia a tarde em seu habitual e orbital remanso. Sobrevoando alvoroçadas copas da selvagem e recortada mata, pássaros colibris, rolinhas e pintassilgos dançavam ao som das 18 notas daquele final de dia, a entoarem alegres canções e louvações. Uma composição feita e refeita, dia após dia, longe, mto longe de qq monotonia. Uma emoção acompanhada por badaladas de sinos e refletidas nas linhas musicais de um apaixonado olhar rouxinol.

Iam e vinha. Mergulhavam e subiam rapidamente a tona. Tocavam-se. Aninhavam-se. Sem nenhuma rota definida ou coreografia ensaiada prosseguiam em seus volteios, até perderem-se de vista na linha de um horizonte em si bemol.

Como fazia todas as tardes, a tamarana cor de tâmara enchia o riacho de rastros e relevos. Sem receios seguia o curso dos saborosos sulcos delineados em lábios entreabertos, lascivos e adornados de um incomum perfume nativo. Um agosto a encobrir desgostos com um gosto envolvente e tropical. Ao seu lado, como sempre tbém fazia, o tambuatá acompanhava seus rastros, dando saltos cada vez mais altos. Com seu jeito doce fazia acrobacias na lâmina transparente de um espelho de águas rasas q jorravam do olho d’água nascente no ventre, e logo se espalhavam transformadas em tranças de bem aventuranças; deslizando por entre pernas e rios de coxas, os sonhos antes rabiscados nas paredes de um quarto pintado com cores aquarelas.

Um quarto em desordem de porta fechada, janelas "quintanas" abertas e tímidas vontades de desejos escancarados. Mãos nervosas enfiavam-se pelas frestas úmidas de uma terra pronta para o cultivo. No brilho de olhos desalinhados salpicavam o viço rijo cipó caçuá a roçar no corpo agridoce um calor sabor umbu cajá. Vistosas folhas de bananeiras bailavam ao vento, despertando saltitantes aranhas pimenteiras do lado de dentro e do lado de lá. A floresta em festa numa sinfonia de cios e afagos deixavam cobertores encharcados de odores. Uma verde e visceral onda de loucura penetrava os antros com ternura, provocando espasmos, tremores e gritos alucinados de triunfos.

Sentindo-se arada, a terra inflamada balbuciou palavras incompreensíveis, enquanto borbulhava salivas e anseios nos cumes de eriçados seios, derramando sobre a cama um viscoso sabor caju. Naquele instante um suspiro se fez em paz. O instante em um filete de luz parecia desvendar os mistérios do universo daquele corpo silencio e nu.

Lá fora, e bem dentro dela, uma criança brincava no balanço do parque com uma boneca presa entre as pernas. Parecia pedir q o luar viesse brincar de gangorra em seus cabelos. Seu vestido verde de rosas roxas e amarelas salpicava nos olhos lampejos caribé. A cada movimento sentia q o tempo ia deixando para trás memórias de um cárcere e vestígios de uma agonia, q aos poucos se esvaiam na paisagem. Banhada nas águas daquele riacho, ela começou pintar em seu corpo tons de esperanças, trazendo de volta a lembrança de seu cheirinho doce de bebê.