sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pia vazia... Ralo d'alma...



Qdo menina costurava com linhas a sua boneca. Com a mesma linha costumava dividir os espaços de seu quarto, demarcando os limites do q poderia ser visto. Só não sabia como fazer para esconder seu medo de transparecer tdo o q, aos olhos de todos, certamente ela não era. Maldito espelho q insistia em revelar o qto era bela.

No parapeito da janela sorria e cantava melodias, a se imaginar Rapunzel ou alguma uma Cinderela. Só não gostava de fazer cenas com príncipes cheios de dúvidas, dívidas e novelas.

Sem sapatos e nem calcinha encostava-se à parede. Mordia os lábios e molhava os dedos, despertando fantasias e agonias nos transeuntes q acreditavam possuir seu coração. Senhora de tantas ilusões, debruçava desfigurada e, com a alma escancarada, rolava displicente pelo chão. E assim, todo santo dia, em segredo, deixava aflorar seus adolescentes e diabólicos encantos. E eram tantos...

Mas, como tdo passa. O tempo passou. Mta coisa mudou. Já não havia tantos amantes disputando a sua janela. Nem os sonhos eram tão delirantes. Nas fotografias, no entanto, continuava bela. Deitada na cama coberta de lembranças, ela fechava os olhos sem entender o pq de tantas mazelas.

Já não conseguia controlar seus medos. Em segredo tentava refazer cada um de seus passos, como se quisesse prender o tempo na mesma gaveta onde guardava os encardidos laços de fita e os álbuns de retratos.

Vida maldita. Retalhos de vida. No seu íntimo continuava a se ver como uma menina. No entanto, para seu desespero, já não tinha mais como encontrar seu brinquedo favorito. Nem mesmo sabia o q fazer para conter seus prantos. E eram tantos...

Todo dia, olhando a pia vazia, ela via su’alma escorrer pelo ralo. Enquanto isso, os ratos continuavam a roer os laços de fita amarrados em seu portão...