quinta-feira, 12 de maio de 2011

A pedra e a gota d'água...


Era pedra. Era água. Era pedra em gota d'água. Pinga aqui. Pinga daqui. Pinga a colar o luar. Pinga de novo. Pingava gostoso. Pingava como quem pinta o ovo q traz o novo.

E assim pingava em sorrisos transparentes, soltos e sem juizo. Pingava... Pingava... Pingava sem alterar um único compasso. Sem sair do eixo e nem do quadrado q rege a lei da grave idade q acha q tdo sabe, mas não percebe a cavidade feita pelos pingos, uniformes e retilíneos, cujo destino é chover no molhado.

- Pq não pinga diferente? Muda um pouco a melodia dessa toada.
- Mas q Pedra boba! Respondeu a água.
- Faça como eu. Acredite. Pense q pode ser bom. Mas...
Por frações de segundo pareceu titubear, mas continuou: - Na vida sempre se abre mão de alguma coisa. Se não parecer tão bom, dá seu jeito e disfarça. Não há de ser nada.

Sem perder a graça, a água prosseguiu em seu pinga-pinga; e a pedra, resistente, a se deixar pingar.

Passou mais um tempo e a água q antes molhava agora furava. Todo dia furava um pouquinho. Sempre de mansinho, dizendo q era carinho. A pedra molhada fechava os olhos e gozava desavergonhada.

De tanto pingar a água transpassara o coração da pedra. A pedra nada dizia, pois já não sentia nada. Apenas observava a queda d’água atravessar o oco q agora havia em seu corpo, sem, no entanto, conseguir tocá-la em nada.

A água, distraída, não percebia nada, continuava a pingar com cega naturalidade. Até hoje pinga. De vez em qdo mistura-se em lágrimas. O q não há de ser nada. Algumas vezes resvala em inesperados meteoritos, sempre com o velho rito e a mesma maneira de molhar.

E assim segue solta a respingar vazios, a procura de algo q venha a lhe tocar.

Existem pedras q habitam oceanos. Existem pedras presas em águas glaciais. Existem pedras q rolam felizes, se sentindo totais. Existem pedras acesas em cachoeiras. Existem pedras e águas de tdo o q é maneira. Desde a Era em q a pedra era lascada e a água corria fluente, obediente, pelos rastros banhada de sol.

Existir é algo a q se destinam pedras e águas. Sejam brutas, turvas ou cristalinas. Desde em q mundo era mundo, não esse bosque perigoso e imundo, e o menino cantava a rosa ainda pequenina.