sábado, 15 de outubro de 2011

Cabelos brancos...




Enquanto a tarde caia retornava para uma casa q não lhe pertencia. Solto em um mundo mal iluminado cortava ervas danosas nas calçadas. Com isso provocava indignados rompantes em q se reconhecia.

E assim, mastigando sonhos q já não tinha, seguia pela rua vazia de vida e luar. Um bater no peito. O pulsar de um corpo q ardia. Era assim todo dia.

Paixão cega vestida branco. Um homem cego de paixão imerso no colorido de sua escuridão. Na rotina do dia quase nunca sabia onde encontrar a parte do imprevisível q lhe cabia. O q dizer qdo se sabe q não se cabe em lugar algum. Saber ser qq um ou mais um. Impossível amar desprovido de ilusão.

Um dia, sem estampar a dor q sentia, foi se desfazendo do peso das reticentes companhias. Ao terceiro dia viu subir aos céus a inutilidade de sua paixão. No quarto dia abriu as portas da casa q não era sua e saiu pelas ruas semeando palavras.

Continuou sem pensar em mais nada, até q não encontrou mais palavras, e ficou sem ter o q dizer. No mesmo instante, passando as mãos nos cabelos brancos, cantou para quem quisesse ouvir:

"...agora, em homenagem ao meu fim, não falem dessa mulher perto de mim...”







Incidência quase física da música “Cabelos brancos”, de Marino Pinto e Herivelto Martins. Ilustração feita a partir do quadro “The sower”, de Millet Jean François