terça-feira, 5 de maio de 2015

Receita quase imperfeita, 2ª estância...




Colhia o tempo saboreando amoras. Corria de encontro ao vento para sentir perfumes na flora. Curtiu horrores mundo afora.

Quando pensou ter caído em si viu cachos caquis dependurados no caibro do alpendre onde brincos de princesa faziam a festa de beija-flores.

Na sua frente uma jabuticabeira fazia sombra à sensível trepadeira. Sempre vista com delicadeza. Sempre dando suas voltas. Mas com clareza, em toda a sua grandeza, só era vista nos dias banhados de lua.

Um pouco a esquerda emborcada na areia uma canoa furada conduzia o pensamento à estância velha. Junto dela uma arandela circundava com espelhos d’água o vaso de barro onde havia plantado a seca pimenteira.

Em seu repouso empoeirado em um dos cantos do batente, o pote de brilhantina 'glostora' trazia de volta os tempos de rock, hollywood e brucutu.

Nas brechas deixadas no assoalho de madeira, margaridas brotavam assanhadas, entrelaçadas nas toras roliças q serviam de escora.

O alpendre, tanto no oriente qto no ocidente, escondia o sol. Só não escondia, por mais q se tentasse, eram suas inquietações.

Por mais q desejasse, os dias sempre amanheciam sem saber a receita de como se manter no luar.

Um enigma quase imperfeito para um coração afeito, feito para sonhar...