sexta-feira, 25 de maio de 2012

Trem das coisas...


Na primeira vez q ouvi a primeira manhã passava da meia noite. Cruzava os sinais vermelhos da angélica, com o coração acelerado e o vento soprando na contramão. Por fora meu pensamento tencionava o corpo ereto, dentro de um carro esfumaçado até o teto, e sem direção. Meus insanos galopes mosqueteiros ainda não entendiam os alucinantes contrapontos da consolação.

Na manhã do dia seguinte os jornais anunciavam a morte de Lennon. Desolação.

Desse dia em diante rascunho sobre bulas q reinventam sonhos. Vendo meu tempo e fatio meu corpo em migalhas, com as quais alimento meus passarinhos. Às vezes tento cantar, mas só cato ventos. Ventos q me levam e traem os pensamentos, tentando me levar de volta para uma casa q já não tenho.

Sem outra saída levo as mãos ao rosto e sinto rugas, abertas em blusas, soprarem nuvens q passam em asas além de minha imaginação. Sensação.

Na fluidez inóspita dos encontros, minha sombra me abraça e me convida para dançar. Nada é tão sólido q pese nos ombros. Nada é tão líquido q me afogue o peito. Na modernidade líquida de Zygmunt Bauman consumo minh’alma passageira num sobe e desce de ladeiras.

No alto mar de um cruzeiro sem fim, o aquaplanar lento e surdo da primeira manhã mastiga o fruto do meu absurdo. Solidão.






Lembranças compostas ‘Na Primeira Manhã’, música de Alceu Valença.