quarta-feira, 23 de maio de 2012

Curvas matreiras da cuia cunhã...


Bem de manhãzinha a dengosa nanã cunhava a cuia nas curvas da cunhã. Nas telas encobertas de Frida exibia as dores da vida com cores de um sangue ainda não derramado. Assim enxugava lágrimas descortinadas em seu semblante.

No fundo difuso da lata não dizia nada. Sequer disfarça a face traiçoeira dos pensamentos, em gemidos, entregues a açoites.

No apagar das luzes a senhorinha de fino trato descruzava as pernas na penumbra de bares com cheiro das ruas. Banhada pela claridade de tantas luas, fechava os olhos para melhor sentir os cachos de acácias roçando seu corpo.

No escuro cúmplice do olhar marginal, segredos guardados em compotas. Tomada pela fúria jogava moringas de rimas contra a parede. Tamanha ânsia de encontrar a liberdade no fim do túnel.

A senhorinha sabia q toda free way tem seus pedágios. Só não pagava pra ser. Sempre havia um deus pagão à mão.

Embriagada de silêncios dormia sorridente negrita. Parida de tesão afagava a cuia com as mãos, ouvindo a guitarra Yupanqui penetrar-lhe o templo. Ventos... Ventos... Os mesmos q lhe desprendia no tempo, quem sabe desvendaria o futuro.

Nas curvas da cuia cunhã a noite se perdia. O q evocava évora adormecia no esquecimento...





Atahualpa Yupanqui, compositor, cantor, violonista e escritor argentino, nascido em Buenos Aires, no dia 31 de janeiro de 1908. Flauteou-se em Paris, no dia 23 de maio de 1992, durante o intervalo de uma apresentação, em Lion.

Filho de pai ‘quéchua’ e mãe ‘basca’, na adolescência adotou o nome Atahualpa Yupangui, numa homenagem aos últimos governantes incas: Atahualpa e Tupac.

Atahualpa, na língua quíchua, significa 'o filho da terra q veio narrar'.

Nanã é o orixá das chuvas, dos mangues, do pântano e da lama. Senhora da morte, é responsável pelos portais de entrada (reencarnação) e saída (desencarne).

Cunhã, do tupi Kunhã, significa índia, mulher e companheira.