quinta-feira, 17 de maio de 2012

Anáguas análogas... Dom de viver...


Ao caminhar pelas lembranças, com a alma dividida, esfregou o corpo na cama. De uma forma contundente sentia um fio de outono lhe cortar os pulsos. Por impulso beliscou a própria pele e esboçou um sorriso por não estranhar a dor como sinal de vida. Com os desejos em punho tocou suas mãos na chama.

O primeiro instante lhe pareceu distante. No seguinte encaixou suas pernas na música q o corpo cantava. Dançou. Dançou mto. Dançou com atrevida delicadeza sobre a linha da navalha q descascava cada um dos sentidos. Misturou heavy metal às sonoridades de sua veia nativista. Assim adubou seu quintal com ternura e sons da mata, enquanto louvava as perdidas atlântidas de su’alma litoral.

"Graças quero dar ao divino labirinto dos efeitos e das causas, pela diversidade das criaturas que formam este singular universo, pela razão que não cessará de sonhar, pelo amor que nos deixa ver os outros, pela linguagem que pode simular sabedoria, pelo hábito que nos repete e nos confirma como um espelho...” 

Apesar das asas não depositar sua fé em anjos e nem frequentar roda de santos, não causou espanto benzer o corpo na beira do rio. À sombra da frondosa árvore se sentiu fruto e se ofereceu em sacrifício. Sabia ser a hora de germinar.

Na defesa capital de tantas ironias, cristãos e mulçumanos se esganam em nome do vácuo. A arena das fantasias afunda na velocidade dos dias, revelando um labirinto de regras inúteis e confusas.

“Graças quero dar pela manhã que nos depara a ilusão de um princípio, pela noite, sua treva e sua astronomia, pelo valor e a felicidade dos outros, pelos íntimos dons que não enumero, pela arte da amizade, pelo fato de que o poema é inesgotável e se confunde com a soma das criaturas e jamais chegará ao último verso, e varia segundo os homens."

No circo dos horrores medusas rasgam suas blusas. Do cérebro emanam duendes montados em serpentes. O corpo manifesto salta além da fala e da genitália. Salta com sua vara sobre valas onde mortos disputam a posse de seus jazigos.

No meio do salto, a girar sem sobressaltos na roda gigante, soltou o dorso na saia rodada. Sem dizer nada, ventos assobiavam entre anáguas, desaguando em tdo o q valia a pena viver.





Inserção ondular e atrevida do “Poema dos Dons”, de Jorge Luiz Borges