segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mar à vista... Vôo de gaivota...



Janelas abertas. Cedo da manhã o sol passa meu corpo em revista. Chega a doer na vista. Por alguns instante fecho os olhos e, qdo os abro... Avemaria! Que coisa mais cheia de graça! Toda vez q ela passa é uma desgraça. Uma cachaça q sobe a cabeça e mostra q não há mistérios no cometa. E devo confessar: Luar igual, não há. Nem mesmo no sertão.

Respiro fundo seu perfume e encosto meu rosto na fonte. Com movimentos da língua bebo das águas q espelham o gozo do inevitável confronto. Defronte, um horizonte de peito aberto. Meu corpo responde com acenos devassos e delinqüentes. Mastigo cada gesto e trago gotas de sua seiva entre dentes. Floresta de cores eretas. Mundo de flores avulsas e trilhas dispersas. Caminho sentindo seu cheiro na mata. Sorrio qdo me vejo no reflexo das folhas salpicadas de branco.

Eu deus mendigo na lata a forma exata q encaixa o quebra-cabeça na caixa. Com os braços estendidos procuro tocar cada lado q se expande com sua ressonância. Tdo parece fazer sentido. Até a cor envelhecida da porta deste quarto q me dá abrigo.

De repente vejo duas asas brotarem abertas no céu do deserto. A noite passa e se declara clara. Como uma aurora. Como uma oração ela despe a loucura ainda escondida e escura no céu da boca. Ela é bela. Mais uma vez respiro fundo e corro atrás do q ainda não se fez sonhar.

Meu verso mambembe e capenga rima a marimba transversa e sai a procura do mar. Queria sentir outra vez o prazer de mergulhar. As ondas batem caboclas, qdo soltas na força do malembá. Os ventos arrastam as palavras e me faz passageiro de um rio no cio de janeiro. Teu cheiro penetra meu corpo. Pindorama goteja do alto das palmeiras respingos de desejos na pele. Correntes contínuas correm paralelas acendendo as veias.

A gaivota voa, vai e volta qual sereia banhada de luar. Com toda gana ela escava a lâmina d'água coberta de lama com as próprias mãos. Por entre as tramas o gado rasteja na grama e se desmancha na beira da cama coberta com a gama de claros e escuros de suas borbulhantes cores. Imersa em seu universo sem arestas, abre suas pernas de arcos retumbantes em flechas nem sempre certeiras. No entanto acusa e desponta na ponta intrusa da incerta seta q lhe perfura, noite a dentro, pela estrada a fora.

Caminhando pelos canteiros refaço seus passos. O dia trafega inteiro na órbita da noite cosmonauta. Da terra se avista as chamas de um mar no cio, arrastando véus em versos escarlates. O verbo late e lhe morde a carne com o estandarte apontado para o alto. Sem sobressaltos, num único salto, ela explode em gritos e odes à liberdade. Com sua verdade exposta, de costas soletra os escalpos. Vênus em Marte. O sol ao luar doura as cores com açoites nas pernas e coxas bambas.

Com os pincéis cravados até a alma, a gaivota bate suas asas, riscando o céu com rastros e olores de suas cores. Seu vôo é singular e tem o sabor do q ainda lhe é mistério, mesmo q não tão esotérico. Ainda assim há de pintar por aí...