domingo, 10 de junho de 2012

A lareira e a caixa de sapatos...



Diante da lareira contava estrelas e bordava indecências perfumadas com alfazema. Debaixo das mantas os pampas de um decote aveludado arranhava os mamilos enfeitiçados.

Esquecida entre cobertas a caixa de sapatos mantinha o cheiro de couro. 

Naquela noite sentou no sofá com a velha amiga entre suas pernas. Com a ponta dos dedos rascunhou sonhos,  repetindo carinhos lembrou de si mesma.

Sobre a mesa um envelhecido Bourbon dialogava com Carpinejar. Sem pestanejar abriu a caixa e espalhou seu amor em danças de ciranda pelo tablado do teatro ainda às escuras.

Assim louvou aos deuses e abraçou fantasmas. Derramando taças nas paredes e gritos no umbigo misturou o sórdido e o amoroso. Com eles embriagou o tempo e fez conchinhas no ar.

- Ei-la! Ei-la!

Repetia com as mãos estendidas e alma perfurada pelo clarão de um lampião somente visto no seu olhar.

Depois voltou a dançar, lançando sorrisos como se fossem anzóis de pescar felicidade. 

Naquele dia só adormeceu qdo caiu na tarde...