
Lambia os dedos ensaboados na compoteira de doces. Deitava na rede para sonhar com chuva. Só não queria se molhar.
Entre uma janela e outra provocava. Devorava o q podia, como se o seu universo fosse feito de um único dia.
Carregava na bolsa palavras adequadas.
Com elas apimentava fantasias em pombas impacientes à sua espera na praça da consolação.
O coração indecente palpitava a cada experiência. Se real ou fantasia nunca sabia. Evitava o confronto. Só não conseguia evitar os outonos.
Parecia correr contra o tempo, como se recupera-lo fosse necessário para justificar artimanhas usadas qdo ainda criança.
Dizia-se obrigada a ser o q era. Vinha de vinhedos Prisioneira de outras eras pintava vinhedos e primaveras.
Só não sabia ser o q era.
Por isso recorria ao tempo. O mesmo q lhe fugia à lembrança. Tempo q não vivera, pois esquecera de acordar...