Com palavras de fino recato bordava nuvenzinhas algodãozinhas, todas azulzinhas, na barra da saia. Com receio dos furos e dos perjúrios escondia seu delator no dedal.
Sem passe livre no passado coloria o futuro com lápis labial Dior. Dentro da bolsa outros guardados. Bordados e abordagens. À luz da janela um gato de olho na estrada. Por trás da cortina o semblante desconfiado.
Escrava de um amor próprio e cego, de olhos fechados escorava fins de tarde em postes sujos de porra. Ao voltar para casa passava escova na roupa. Nas coxas ensaboava saudades.
Viveu preservando a imagem da santa, com a flor da idade nas mãos...
Montagem feita em obra de Pieter de Hooch, pintor dos países baixos.