Um dia partiu gêmea do filho q pariu para fugir de casa. No dia seguinte, por conseguinte, mal teve tempo de enxugar as lágrimas nas fraldas estendidas na cortina do banheiro.
Sem saída chegou a aventar nova fuga. Ideia abortada na porta de saída de um conjugado alugado, por onde entrara com seu novo patrão.
Assim o tempo passou igual aos passarinhos q antes cantavam em sua janela. Somente ela não conseguia sair do lugar. Assim os dias insurgiam em uma rotina de vida passada e repassada na tábua de passar.
Sem saber como conter tanta fúria com a palma das mãos, viu sua angústia emudecida diluir-se no tanque onde umedecia as partes mais íntimas de sua solidão.
No terceiro dia conheceu o inferno. Mesmo dia em q seu filho subiu aos céus com as ‘roupas sujas’ empurradas com a barriga.
Do quarto olhou o dia amanhecer sem oferecer mais resistência. Não mais reclamou do tempo, nem da falta de sonhos dos antigos juramentos. Em silêncio prosseguiu o réquiem de uma vida deixada para traz, bem lá atrás.
Nos retiros espirituais sentia o lampejo de tiros dados no escuro. Há quem diga q chegava a ouvir os pontos iniciais de uma desafinada canção de ninar...
Aeternam dona eis - ‘Dai-lhes o repouso eterno’. Frase em latim q inicia 'o ofício dos mortos' na liturgia católica.
Montagem feita a partir do quadro ‘retrato de Suzanne Valadon’, de Toulouse-Lautrec.
Suzanne Valadon (1867-1938), nome artístico de Marie-Clémentine Valade, pintora francesa pós-impressionista de personalidade marcante no cenário artístico parisiense no período pré-cubismo. Qdo jovem foi garçonete nos cafés e acrobata, abandonando o circo para trabalhar como modelo de Renoir e Toulouse-Lautrec.
Iniciou-se na pintura e desenho sob proteção de Edgar Degas, tornando-se a primeira mulher admitida na Société Nationale des Beaux-Arts.
No final do texto um leve sobrevoo no vagão sonoro dos ‘retiros espirituais, de Gilberto Gil.