De manhã na cozinha olhou de novo sobre a mesa e não havia ovo...
No gargalo do gogó do gago pediu indulto ao gajo. Este, afinando o calo temporão do esporão do galo no timbre tenor, subiu ao sótão e cacarejou:
Se galo eu a galada abre inocentes asas sobre todos os nós...
De Bodocó à Marrakech. Do Salto da Onça à Não me Toque. Não houve escarpa q escapasse às brancas runas. A tudo tracejou.
Contudo, depois do frango assado de nome engraçado experimentado no cruzeiro, passou a exigir elevador social até para subir no poleiro.
Contudo, depois do frango assado de nome engraçado experimentado no cruzeiro, passou a exigir elevador social até para subir no poleiro.
Nada mais pessoal q abrir o celeiro aos três mosqueteiros. Enfatizou o justiceiro.
Nada mais social q soltar a língua no vespeiro. Acrescentou esperançoso o sorveteiro.
Antes do quarto badalo o galo deu como lida sua missa...
Após comer seu milho e morder língua de sogra, cansado de tanta prosa, sentou na única cadeira vazia com um lapso na mão e um ramo de arruda à altura do peito.
Após comer seu milho e morder língua de sogra, cansado de tanta prosa, sentou na única cadeira vazia com um lapso na mão e um ramo de arruda à altura do peito.
Nada mais disse. Também ninguém contradisse.
Além das invencionices sabia-se q tolice pouca era pura roupagem...
Quanto ao ovo sempre foi claro: quem responde é Clarice.
“Por devoção ao ovo eu o esqueci. Meu necessário esquecimento.
Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo.
Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar.
Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta.
E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha.
Iluminando-a de minha palidez.”
Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo.
Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar.
Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta.
E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha.
Iluminando-a de minha palidez.”
Título inspirado no conto “O ovo e a galinha”, de Clarice Lispector.
Por fim, como nem todo fim justifica ser meio, um enxerto proposital do parágrafo final de “O ovo e a galinha”.