sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Apócrifos diálogos póstumos... (1)




Meu Diego,

Assisto calada ao estigma deste câncer q se espalha e me desintegra a cada instante q passa. Já não tenho dúvidas. Sequer carrego esperanças. A escuridão espreita as poucas cores vivas mantidas escondidas neste meu corpo sem vida.

Meu olhar sorri com a ternura q ainda me conserva a lucidez. Lambo as derradeiras gotas do desejo nas lágrimas q escorrem pelo meu rosto.

Apesar de tudo me nego a encontrar a chave q abrirá a porta da minha indesejada morte. Meu ventre pulsa com a lembrança do teu sexo melado no meu licor. Nem o cheiro impregnado de teu cigarro impede a mão firme dessa saudade q me invade.

Engulo as noites cheia de vida e graça. Desgraça de vida. Logo agora q começo a me sentir plena. Quero vc. Mesmo q não seja para sempre...

Sua Frida

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Minha Frida,

Tua presença amarga me atiça. Salivo tua existência. Contraceno com tua dualidade. Pela janela vejo q a boca da noite não tarde em abrir. Será q te vejo surgir entre estrelas?

Ontem derramei tintas de prazer sobre meu corpo. Tomado de tuas lembranças abri feridas. Tens razão. Desgraça de vida.

Esparramado na cama pronunciei cada palavra q me levava até vc. Por favor! Peço q não desista. Insista. Frida minha, tbém quero vc...

Seu Diego




Correspondência entre Diego Rivera e Frida Kahlo encontrada em escavações feitas no imaginário. Uma forte corrente defende a tese das cartas terem sido encontradas em um baú resgatado no incêndio das lembranças. Na verdade pouco se sabe...

No devido tempo outras cartas serão postadas, na tentativa de registrar a inexplicável dimensão de um sentimento q soube romper fronteiras, mas se mostrou incapaz de sobreviver à própria existência...