domingo, 26 de abril de 2015

Ainda...




De certo sonhava. De certo sentia ainda q de modo incerto, cedo ou tarde, certo ou errado, os sonhos sempre se tornam reais.

A realidade é fenômeno atemporal q foge à lógica preconcebida dos anormais.

Parece tão natural. Como parece inútil prender-se ao tempo e a pretensa compreensão do q move as coisas. 

Acima de todas as coisas, inclusive dos versos q escreve, o conjugar dos verbos são manifestos de tdo q permanece oculto do simples olhar.

Por mais fluido q seja o amor só entende o prazer no estado sólido.

Entre um e outro o universo era ponte. Um abismo de união cada vez mais profuso, profundo e tentador. 

Ainda q o amor continuasse lúdico, entre eles era sólido... 


quarta-feira, 22 de abril de 2015

O calendário...




No primeiro dia abriu cortinas
No seguinte manteve a rotina
No terceiro sentiu-se culpada
No quarto ficou calada
calhada em sonhos de menina.

No quinto tirou anéis e véus
No sexto redecorou a casa
Só não tocou nas cortinas.
No sétimo esqueceu pudores
Tirou da gaveta atrevimentos.

Por um curto espaço de tempo
Questionou o q seria o amor?
O q encarcerou? Aquele q se jogou?
Ou o q lhe encontrou desgovernada
Arrastada pelos pensamentos?

Sem tempo nem paciência
de esperar por respostas
trepou bem alto, no mais alto
do mais íntimo sentimento
e saltou...

Sem amarras sentiu-se amada
Sentido os vazios preenchidos
rendeu-se ao desvario
reconheceu-se no amasso desregrado
daquele inesperado amor varrido.

Quando a outra semana chegou
a encontrou diferente.
Nem crente nem descrente.
Sorrisos repartidos nos lábios
Metade ao léu. Metade indecente...



domingo, 19 de abril de 2015

Vapor Beethoven...




No diapasão do teu tesão meus acordes
seguem as trilhas sonoras de tuas curvas

Surdo enxergo notas músicas pelo teu corpo
Erguido por tuas escalas roço cordas vocais

Mudo solto o verbo, sobretudo sobre o q é sentido
A todo vapor, desnudo e impreciso, em todos sentidos

Agudo adentro sem dar ouvidos ao q não faz sentido
Aguço os graves, sublinho na partitura meu rebuliço

Sem antever limites executo tua melodia de improviso,
a salvo dos falsos juízos, sem temer ponto final...







N.A.: Afinal, como cantou Tim Maia: que beleza!
Teu clarão (e diapasão) é a razão da minha natureza...



Ludwig van Beethoven, compositor alemão, um dos pilares da música ocidental, tanto na linguagem como no conteúdo de suas obras. Segundo o crítico alemão Paul Bekker ,"o resumo de sua obra é a liberdade, em todos os aspectos da vida".

Tim Maia, cantor, compositor e multi-instrumentista carioca, foi o responsável pela introdução do estilo soul na música brasileira.

sábado, 18 de abril de 2015

De Charlie à Kaiwoá... Valei-me Villas!




Uma pequena historia nem sempre quer dizer alguma coisa. Quando ela quer se esconde nas palavras... 

Naquele dia acordou com a tarde e o vestíbulo vaginal em brasa.

O vestíbulo batia palmas. A tarde era ocupada.

Daquela tarde lembro as montanhas de lixo, de todos os tamanhos e biótipos, inclusive os mais representativos, sendo chutados pelas ruas, na marra, na lata.

Nas ruas o calor humano era formado nas mãos dadas.

Naquela tarde vestida de kaiwoá, com a cara pintada reforçada no batom chupou tacape de guarani até grunhir e o fogo caseiro rugir na esquina. Democrática q era fez-se linda ao desfrutar da índia, bela e amortecida pelos seus amassos.

Villas q não era bobo, aliás, um velho lobo, tratou de entrar em cena. Cansado de ouvir cantilenas molhou a ponta do charuto com a saliva da encarnada Iracema.

Pois não é q o gigante despertou com todo aquele axé!? Pois sim! Pôs sim! Pois é...

De volta à passeata ajustou-se às causas, tal fizera com a saia comprada no brechó. Incorporada e vadia, para alegria da nação transgênica, fez dos peitos o ponto alto e marco de sua redenção.

Com olhos de mocó a nação pensou ter desatado o nó. Ledo engano. Mais cedo q o esperado engoliu-se a seco o resultado e o cale-se ofertado.

Era tarde. O mal estava eleito. O cavalo nem chegou a ser selado e foi crucificado.

Kaiwoá nada disse a respeito. Com estranho pesar tirou a saia e pisou em cima. À surdina se recompôs com desenvoltura de dançarina e segurou no pau de selfie.

Quando estava prestes a gozar esticou a coluna e gritou: Je suis Charlie!

Oui! Oui! Très Jolie!

Tudo aquilo parecia tão lindo! Tudo ia indo... Até q a desgraçada lembrou Roberto, ao postar q tdo o mais e os demais fizessem fila nos internos.

Oh! Inferno pra ter cão...


quinta-feira, 16 de abril de 2015

O ponto cego de Lupicínio...



Se acaso ele enxergasse além dos bordados, além do jeito ensaiado de beijar na boca, perceberia as horas em q ela, vestida de louca, sai farejando meus rastros.

Se acaso ele sonhasse q depois de molhar os lençóis com o perfume de sua vagina, deixando seu amor  adormecido em um céu de estrelas, ela vai ao inferno a procura do q lhe seduz.

Amor mantido na cruz. Amor circense assentado à margem direita do lago plácido, a contemplar com inquieto apreço o tentador desassossego do pântano.

Na intimidade o amor se revela impublicável...
Quando seu amor enciumado ameaçou lhe bater, ela reagiu. Sentiu raiva. Sentiu dor. Sua mão não tinha formato das mãos de seu capitão do mato; não fazia su’alma ascender em labaredas na fogueira, nem lhe fazer submissa às suas vontades beiradeiras. Nem ao menos sabia fazer fluir sua natureza transgressora. 

Apesar de simplória a prosa do Osório não é notória aos olhos distintos do público...

Longe dos olhos o amor rasteja no chão impregnado pelo cheiro de sargaço. 

Mas como em nome do amor se faz juras, em nome dele ninguém esquece o caminho da volta. Assim q a noite ia embora na fumaça no trem q sumia nas colinas, ela adormecia outra vez com seu doce sorriso de menina.

E, mesmo q as cortinas abertas e cheiro de sua vagina denunciassem a noite passada em claro, seu amor, ainda mais cego de amor, a acordava com versos e um ramalhete, escolhidos e colhido nas primeiras horas da manhã.

Se acaso ela falasse, quem sabe ele cuidasse com a mesma alegria e ingenuidade dos caminhos de seu bosque em flor.

Quem sabe fosse tdo o q sempre sonhou...










Lupicínio Rodrigues, cantor e compositor gaúcho, autor da página músicas “se acaso você chegasse”.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Juan e Chatterley...




Enquanto o mundo defecava eles se imaginavam em serenatas. Sentados no banco da praça ouviam e se viam na música q a camerata ensaiava às portas fechadas na casa de chá.

Sem darem conta do impreciso, a dois passos de se sentirem pássaros, miravam seus peitos alvos espelhados na poça d’água, das noites de chuva passada em claro.

Despidos os hábitos costuraram o centro de suas intenções. Habituados ao ambíguo colaram umbigos. Sem perceber tocaram-se no ponto cego...

- Foi sempre assim Juan?
- É sempre assim Chatterley?

Diante da catedral de Babel quebraram regras, pisaram com força em cacos de vidro. Estavam tão envolvidos q não perceberam qdo as luzes apagaram e a camerata parou de tocar Lady Jane.

Haviam sido consumidos pela terra, com todos os seus mistérios...







Lady Jane é uma canção de Olivia Byington, tocada em outros tempos nas catedrais do papel...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A terceira pessoa do verso...



Lá dentro, bem lá dentro, remexeu diferente
como sussurro no ouvido, como anunciação.
Com uma das mãos tentou conter o sorriso
Entre o susto e o ímpeto pensou: Por q não!?

Verbo condicionado a segunda pessoa
Ao bater asas percebe q nunca se voa à toa
Que na primeira pessoa a alma voa
E, na realidade, a fantasia aproximava
de tudo o q, verdadeiramente, era real

Olhos vendados. Imaginação na rua escura
Beirava a tortura no corpo outro corpo dar voltas
em sua volta, no entorno da cintura deslizes de mãos
a colar alvoroços pelo pescoço despido

Por dentro furor. Nos ventos fragrância de sexo
No empuxo, segura pelos pulsos, se fez reflexo
Com motivos deu-se ao desfrute, em todos sentidos
Corpo possuído, alma invadida,
Conjugada na terceira pessoa se sentiu plural...







Montagem sobre a obra “Florals”, de Janice MacDowell

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Salto na agulha...




No salto agulha fagulhas.
Divindade sobre-humana da criatura
Humana mente insana, mundana flutuas.

No q concerne meu corpo converge
convencido q és promessa de vida.
Comprometida te ofereço uma prece
Tu te ofereces conforme a metida

Na lisura te convertes e concedes
sem questionar duras medidas.
As reações falam por nós...

No verbo de tempo indefinido
equilibramos em linhas invisíveis.
A fissura q nos engole torna comum
a mais incomum de nossas loucuras...



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Vinte e três e trinta e oito...




Há quem diga q o universo conspira antes, mto antes de qq recomeço.

Não desmereço, e reconheço: desde o começo repito o q me disse a história:

Era bem cedo. Bem comecinho de tarde. Amarrados por imaginários cordões umbilicais trocaram palavras como brincadeira de ioiô.

Brincaram mto. Brindaram tanto, mas tanto, q qdo deram conta da hora a hora virou. Pensando em despedida diante do entreposto beijaram-se na face direita do rosto. A caminho da outra face tocaram as línguas de passagem pela boca.

Ela sorriu marota no tanto q ele saboreou...

Na esquerda remexeram as cabeças. De remelexo em remelexo buscaram um jeito de se trocarem outra vez na boca.

Desta vez assuntaram-se bem mais. Muito mais devagar. Como um bem a vagar em trilhos sem direção.

Quanto mais se soltavam mais grudavam; mais dançavam com as línguas assanhadas. Alguns momentos na valsa. Em outros substancialmente salsa.

Nas águas de março esquentaram os corações...

Apertaram-se. Morderam-se. Capinaram arrepios pelo pescoço, percorrendo corredores, ligando interruptores.

Luzes acesas apalparam-se na bunda. Subiram costas enxergando-se resposta às propostas indecorosas do pensamento.

E um mundo mudo a girar contra os ventos...

Buscando o equilíbrio ela segurou firme no pau. Ele apalpou alegrias na buceta. Era pau. Era pedra. Era um corpo macio.

Era amor fodido...

Quando a noite chegou ela pegou o metrô. Ele continuou na estação, ouvindo a banda tocar coisas de amor...