quinta-feira, 26 de junho de 2014

Por completo...



Quando me tocas perco a fala.
Em tuas carnes visito outras encarnações.
Falo a lhe decompor. Tu a compor árias
sete vezes em sete vidas, na lira revira
o corpo poema soletrado em canções.
Universo a descoberto sobre as cobertas,
apenas coberta pela natureza dos gestos,
teu sorrir a me despir liberta meu olhar
no teu olhar repleto de más intenções...

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O cesto de vime...



Olho o mapa. Primeiro vejo o espelho preso ao tronco do coqueiro. Depois estradas desenhadas na imensidão do nada, a vida desgarrada dos galhos saltar de galho em galho, aprisionada ao coração forasteiro.

Despisto espantalhos entoando milongas...

Descubro-me entre tantras, em alegrias, sabe-se lá em quantas. Na flor da pele morena encontro oferendas e antigas rendas. Cantigas de assanhar histórias, até então desconhecidas do meu cancioneiro.

Tento ser ligeiro. Passo a mão e sinto o orvalho.
Caralho! Tem forma romã...

Tem o corpo ímã. Sonhos guardados em um cesto de vime. Sublimes e despudorados. Pólen debulhado do botão ainda semente.

Olho outra vez no espelho...

Amantes irreverentes celebram na irmandade dos passos o encaixe de seus quebra-cabeças.

A sorte estava laçada...



segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sininhos...




Cinco e quinze da matina. No céu ainda nublavam resquícios da noite. Teimosa ela pensava na matilha dispersa no largo de seus sonhos.

No primeiro instante de distração dos deuses saltou sobre o muro e caminhou pelas ruas com seu jeito androide e o salvador olhar Dali.

Determinada derrubou estátuas com a fúria de outros tempos. Arremessou mágoas de encontro às vidraças. Ainda teve garra de arriscar sua cara. Com unhas e dentes pichou paredes na sala dos grandes atos.

No q ouviu desagravos e desacatos subiu no telhado e recitou Bocage...

Um asteroide de corpo em brasa quebra os vidros da janela e me arrasta cosmonauta em seu rastro de dálias.

Na gravidade de seu colorido vestido alcanço o vácuo e apalpo o rabo oferecido. A evolução segue seu batuque.

A revolução é feita em silencio, com toques sutis de harpa...

Quando o eclipse nos revela no emaranhado de valsas, ela ergue os braços com meu corpo grudado em seus passos.

Ela dança no ventre. Toco marimbas em sua vagina...

Os sinos tocam o vazio da poesia. Um repique quase surdo marca a batida no tambor.

A cuíca chora de felicidade. A menina dos olhos dá cambalhotas pelas retinas.

Viver era um livro inacabado deixado no capacho da porta entreaberta...


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terça-feira, 10 de junho de 2014

Sobrevoos...




Saio da sessão de Lamarca cabisbaixo...

Misturo revoltas, dou voltas e um nó no tempo. No centro a cidade mora na incerteza. Ruas infestadas de escuridão e olhares amargos. Sem mãe ou proteção de algum tipo de santo a escória incorpora o espírito do esgoto.

Sobram evidências. Falta consciência...

No batuque de pneus passando sobre saliências expostas no asfalto, cuspo na arrogância e nos avanços 'cybercontemporâneos' de nossa humanidade.

Vou pelas ruas à procura de ternura...

O pensamento insiste em repetir teu nome. Lembro as marcas do tempo no corpo delgado. Cada ruga, cada traço é um poema tatuado com a mesma escrita descrita em tuas asas.

Então mergulho no poema ainda por nascer...

De costas para a costa do mar o vento me faz passageiro de redemoinhos em tua órbita. Pontos delineados no sorriso ainda tímido traz esperança ao olhar cansado de tanto renascer.

Pouco importa se sonhas com querubins...

Na ponta do punhal sente círculos dando voltas por dentro do umbigo. Querendo provar os riscos me arrisco pelos quatro cantos de teus pontos cardeais.

A rigidez das vontades desprende tiras e mentiras...

Liberta te atiras de encontro à parede com a sede incrustrada na pele. Ainda zonza percebe no tempo um amante apaixonado.

Desta vez, ao adormecer, não quis sonhar com querubins...









Lamarca. Filme brasileiro dirigido por Sérgio Resende, baseado no livro "Lamarca, o capitão da guerrilha", de Emiliano José e Miranda Oldak.

Detalhe da obra “Sistine Madonna”, do pintor italiano Raphael.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

En las hurtadillas...



¡Viene!

Maneja mi boca com su boca
Desnudos en las sombras de las calles,
Alas abiertas, sueltos en el aire.

¡Viene!

Pecaminosa y loca, pero sin estridencias.
Bordeando las márgenes, enaguas mojadas
en las aguas del nuestro Paraguay.

¡Viene!

Rayando las fronteras.
Apegada en las cuerdas que atan
la noche en el silencio de tus alas.

¡Viene!

No te demore más. Entra en la escena
y cerra mi boca obscena
con el olor de tu cuerpo poema.






Rio Paraguai. Rio da América do Sul q define a fronteira Brasil-Paraguai

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Teoria sobre o hilário... Reload



No presente do verbo confiscou o verso feito sob o efeito alucinógeno do segundo beijo.

No terceiro dia rolou os dados no passado semiaberto. Antes q fosse tarde aprisionou o futuro nos limites do mapa astral.

Triste amor mantido na condicional...

O respeitável público é big. Só não sabe ser brother. Nem  localizar a isonomia da filosofia, mesmo com o google mapas. Será por vício da linguagem ou ainda a cegueira irrompida na primeira aurora?

Depois do big bang tudo virou teoria...

Tomara q um dia se prove o avesso. Mesmo sendo nos cafunés dos cafundós. Longe do terço diário e dos relicários se encontre, enfim, o amor na versão de seu contrário.

Quem tem medo do hilário? O chapeuzinho vermelho, o lobo mau ou o tutor do erário?

Cara careta com cara de santa é o caralho...

O ponto não está exatamente na curvatura do gê. Os paralelos do universo é mto mais complexo. Maior q o seu tradicional abecedário.

O ponto fraco é não se dar conta do q floresce à sombra do pé de carvalho...


terça-feira, 3 de junho de 2014

Teoria sobre o hilário...



No presente do verbo confiscou o verso dado.
Rolou os dados com o passado semiaberto
aprisionando o futuro nos limites do mapa astral.

Triste amor mantido na condicional...

Senhoras e senhores...
O respeitável público, além de big,
acaba morando na isonomia da filosofia.

Depois do big bang tudo é teoria...

Quem sabe um dia se aprove o avesso.
Nos cafunés dos cafundós, longe do terço diário,
encontre-se, enfim, o amor em seu contrário.

Quem tem medo do hilário?
Chapeuzinho vermelho, o lobo mau ou o tutor do erário?

Cara careta, cara de santa é o caralho.
O ponto fraco não está na curvatura do gê,
posto a complexidade do abecedário.

É não se dar conta do q floresce no pé de carvalho...







Big Bang. Teoria dominante do desenvolvimento do universo em expansão, sustentada nos limites das observações científicas disponíveis

domingo, 1 de junho de 2014

Lembranças do alegrete...



- Se soubesse q vinha tinha lavado a cueca...

Com esta frase poética o prosaico hedonista cumprimentou a rapariga violeteira q lhe estendera a flor. A outra segurava as ramas de sua terceira idade.

Em seu engomado traje sujo de gala engoliu a seco metade do sorriso. Ainda assim exibiu o camafeu e a pose ensaiada ao longo do tempo.

Depois de aceita a reverência, feita e aceita tantas outras vezes, sem q percebesse passou em revista as rugas e a pele flácida escondida sob o cachecol.

Saudades da aurora em q sonhara ser uma mulher de verdade...

Se soubesse talvez não perdesse tanto tempo atirando pedras na poesia de Mario Lago. Tempo em q os pensamentos corriam atrás dos ventos. Tempos infantis de malícia e perícia em chupar sorvete sem derramar uma única gota no chão.

Agora, por mais q tentasse, não conseguia apagar os rastros deixados nas calçadas da nova república. Não entendia de mobilidade, mas caminhava livre, sem medo de assalto, sem olhar para trás.

O tempo nunca foi como o vento. Depois de certo tempo demora a passar...

Apesar da insistência não conseguia remodelar o passado. Para compensar afiava o linguajar enigmático, alinhavando madrugadas com um sintomático ranger de dentes.

Todos os dias o passarinho preso na gaiola lhe acorda cantando o esperado blues. E assim o faz repetidas vezes durante o dia. Assim mantém seu universo azul...

No precipício dos ventos, entre juras de amor ao bem amado, lamenta o tempo não andar para trás. Tal qual caranguejo-uça comprado na feira do peixe, na véspera do feriado, eternamente prolongado, em q lavara mais uma vez sua cueca.

No outro lado do oceano ainda se ouve sons de um baile de primavera. Tantas léguas a nos separar...

Foi bonita a festa. Bah! No meio de tanto amar, pena existir tanto mar...









Alegrete. Pequeno canteiro para plantas ou flores.

Mário Lago. Poeta, compositor e ator brasileiro. Autor dos sambas "Ai, que saudades da Amélia" e "Atire a primeira pedra". Este em parceria com Ataulfo Alves.

Caranguejo-uçá. Caranguejo de carapaça e patas cinza avermelhadas.

No final uma deliciosa interferência de “Tanto mar”, de chico Buarque, em sua versão original.

Montagem sobre a pintura de José Vital Malhoa, pintor e desenhista português.