domingo, 10 de junho de 2012

A lareira e a caixa de sapatos...



Diante da lareira contava estrelas e bordava indecências perfumadas com alfazema. Debaixo das mantas os pampas de um decote aveludado arranhava os mamilos enfeitiçados.

Esquecida entre cobertas a caixa de sapatos mantinha o cheiro de couro. 

Naquela noite sentou no sofá com a velha amiga entre suas pernas. Com a ponta dos dedos rascunhou sonhos,  repetindo carinhos lembrou de si mesma.

Sobre a mesa um envelhecido Bourbon dialogava com Carpinejar. Sem pestanejar abriu a caixa e espalhou seu amor em danças de ciranda pelo tablado do teatro ainda às escuras.

Assim louvou aos deuses e abraçou fantasmas. Derramando taças nas paredes e gritos no umbigo misturou o sórdido e o amoroso. Com eles embriagou o tempo e fez conchinhas no ar.

- Ei-la! Ei-la!

Repetia com as mãos estendidas e alma perfurada pelo clarão de um lampião somente visto no seu olhar.

Depois voltou a dançar, lançando sorrisos como se fossem anzóis de pescar felicidade. 

Naquele dia só adormeceu qdo caiu na tarde... 


quarta-feira, 6 de junho de 2012

A inflorescência das margaridas...



Sem fazer ideia de qta emoção cabia nas mãos espalmadas da poesia se deixou contaminar pela ternura dos enlouquecidos. Uma loucura jamais decifrada ou contida em livros, mas se mostrava oxigênio nas páginas abertas de suas indagações. Que não eram poucas.

Alimentava-se na fonte inexplicável da inspiração. Com a mesma voracidade se debatia nos paralelos da inquietação. Quantos bater de palmas pulsava em suas pétalas de borboleta ninguém jamais saberia. Nem ela mesma.

Sem procurar respostas acompanhou o tempo do verbo cruzar seu olhar masculino de menina e, com um brilho diferente na retina, abriu ainda mais as cortinas. Por egoísmo e amor próprio desnudou o juízo e o prazer sem pensar nas horas.

Qdo o meio dia despertou a realidade em suas vestes de senhora, escondeu nos seios as chaves de suas comportas. Fazendo a vidraça de espelho ajeitou com indisfarçável orgulho suas formas.

Nem sei deu conta do qto era curiosa e necessária a inflorescência das margaridas q brotava no parapeito de sua janela.






Por ser da família da Asteraceae, a margarida não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores. Quando unidas têm funções biológicas específicas, como a de produzir néctar, atrair polinizadores, gerar e receber o pólen. No entanto se dividem para desempenhar suas diversas funções, num processo chamado de inflorescência. As flores periféricas encontram-se na fase feminina e recebem o pólen. As flores centrais ocupam a fase masculina q libera seu próprio pólen.